Egypt Station, seu novo álbum, não é o maaaais impressionante, mas é agradável por inteiro como poucos
Paul McCartney é o tipo de artista que tem crédito. Ele já fez TANTO pela história da música que tem carta branca pra fazer o que quiser pelo resto de sua carreira. E não tô falando só dos Beatles, hein? Com os Wings ele gravou Band On The Run e Venus and Mars, álbuns sensacionais; na época em que entrou em estúdio com Michael Jackson, nos deu dois presentões, The Girl Is Mine, para o Thriller, e Say, Say, Say, para o Pipes Of Peace do próprio Paul; isso sem falar do The Fireman, os álbuns solo de estúdio… E o cara não para.
Maaaais ou menos até o seu lançamento de 2007, Memory Almost Full, Paul se preocupava bastante em mesclar músicas de energia SUPER alta com baladinhas fofas. Depois veio o romanticão Kisses On The Bottom, que chegou misturando um pouquinho da essência de sempre com jazz, blues… calminho, gostosinho. Só que em 2013 veio o New e, com ele, um chute no balde: de repente, tudo tava LÁ NO ALTO. Todas as músicas têm um ritmo rápido e bem dançante, mesmo aquelas que eram pra ser mais tranquilas. Os instrumentos soam estridentes na medida, tem até uma nova mistura com batidas eletrônicas, experimentações com distorções na voz… algo que ele fazia bastante lá na década de 60 com aqueles outros três rapazes, sabe? A faixa-título, inclusive, lembra bastante Penny Lane.
E agora temos seu novo álbum de inéditas, Egypt Station, seu 17o álbum solo. Algumas canções já tinham sido liberadas, cantando até uma durante AQUELE Carpool Karaoke com James Corden – que eu devo ter assistido umas quinhentas vezes e chorado em todas. Agora completinho, Egypt Station se mostra um disco mais morno — não é algo super inovador, mas tem sua identidade. Certas faixas parecem existir só pra encher linguiça, é verdade, mas MESMO assim são bacanas e fazem a gente dar aquela chacoalhadinha de cabeça e bater o pé no ritmo.
Os destaques ficam para aquelas de potência maior. Come On To Me tem guitarras contagiantes, uma letra bonitinha e um ritmo bem do chiclete. Fuh You, vejam vocês, é Paul McCartney falando sobre como ele tá a fim de transar com a sua amada. E o quão legal é a gente ouvir isso de uma pessoa de 76 anos, né? A mídia SEMPRE nos faz associar sexo à juventude e Paul tá aqui pra falar que sente TESÃO com mais de 70, mesmo, sem rodeios. Legal pra caralho!
Back In Brazil é uma graça. De longe a mais diferentona do álbum, tem uma carga boa de ritmo e tem até um QUÊ pancadão mais eletrônico ali — dá pra sentir inclusive a influência do Bonde do Rolê, que McCartney curte de verdade, e outros sons ANÁLOGOS. Temos também People Want Peace, que é muito boa e muito... familiar. Não precisa pensar muito pra sacar que é uma composição-irmã de Give Peace a Chance, do seu amigo de vida, banda e punheta, John Lennon. Uma homenagem bem legal.
Caesar Rock tem um pezinho lá nos anos 90 por conta do efeito de reverberação que ele aplica nos vocais, com um violão poderoso e uma mistura de ritmos INTERESSANTÍSSIMA, com certas melodias árabes e um pouco de funk no estilo James Brown. E a canção que amarra tudo, na verdade, é composta de três fases. Hunt You Down / Naked / C-Link tem um som pesadão e faz lembrar bastante I Want You (She’s So Heavy) do Abbey Road, que inclusive termina também com a tríade linda Golden Slumbers / Carry That Weight / The End.
Paul já tem seu legado consolidade. Talvez por isso se sinta ainda mais livre para experimentar novas possibilidades, juntar novos ritmos, brincar… E isso faz de Egypt Station agradável e divertido assim como a fase que vive o seu autor. <3