PelleK: por um mundo cada vez mais metal | JUDAO.com.br

Em papo exclusivo com o JUDÃO, o jovem norueguês que se tornou febre no YouTube com versões metalizadas de canções pop afirma que a gente precisa de mais metal na nossa vida. “Nunca é o bastante”. VDD.

A vida do loirinho Per Fredrik Åsly poderia ter seguido um caminho bem diferente na fria Noruega, caso aqueles pequenos papéis na TV local ainda na infância tivessem levado o garoto de fato para o lado da atuação. Em compensação, a falta de qualquer inibição diante das câmeras ou mesmo de uma plateia seria fundamental para o caminho que ele escolheu de fato: a música. Mais especificamente, o heavy metal.

Aos 28 anos, agora atendendo pelo apelido de PelleK, ele vem tentando alavancar sua carreira solo na banda que leva o seu nome e que hoje já conta com três discos de canções originais. Grande parte de sua popularidade, todavia, se deve ao sucesso de seu canal no YouTube, que ultrapassa a marca de 500.000 assinantes (sem qualquer apoio de mídia) e tem vídeos que por vezes ultrapassam 1 milhão de visualizações.

O segredo? As inusitadas versões metalizadas que ele faz para canções pop de nomes como Bruno Mars, Lady Gaga, Adele, Pharrell Williams, ABBA, Elton John, A-Ha, Lana Del Rey, Imagine Dragons, Michael Jackson, Lorde, Ariana Grande...

Tudo começou há cerca de dois anos, quando PelleK resolveu postar versões de bandas mais óbvias, mais dentro de seu universo, como Kamelot, Hammerfall e Sonata Arctica, fazendo uso de seu potente alcance vocal de quatro oitavas (praticamente o mesmo de um Bruce Dickinson da vida, por exemplo). “Então, resolvi me desafiar e me divertir bastante neste processo, tentando coisas diferentes. Achei que seria legal brincar com músicas que as pessoas ouvem regularmente nas rádios, e dar a elas uma roupagem de power metal, que é o melhor gênero musical que existe, na minha opinião”, nos contou o cantor, em uma conversa exclusiva com o JUDÃO. “Ninguém estava fazendo isso e eu achei que seria bacana dar uma contraparte metálica para a música pop”.

 

Que diabos é Power Metal?

Também conhecido como “metal melódico”, é um sub-gênero do heavy metal popularizado especialmente pela banda alemã Helloween.

Pegue o heavy metal clássico, acrescente uma dose extra de melodia e velocidade, guitarras duplas cantantes, bumbos duplos na bateria, um flerte com a música clássica, vocais agudos láááá em cima e uma obsessão com temas históricos e de fantasia medieval. Está pronta a fórmula que influenciaria centenas de bandas anos depois, dos conterrâneos do Edguy aos brasileiros do Angra, passando por Kamelot, Stratovarius, Hammerfall e mais uma porrada delas. A primeira experiência foi com sua rendição para Somewhere Over The Rainbow, à época do lançamento do filme Oz, Mágico e Poderoso. Depois disso, ele simplesmente não parou. As ideias vêm, essencialmente, dos pedidos/sugestões feitos nos comentários de vídeos no YouTube. “As pessoas escolhem e eu me baseio nos comentários mais populares, que se repetiram mais vezes – ou então naqueles comentários que receberam mais curtidas”.

Mais do que atender aos pedidos de seus seguidores, a estratégia o ajuda a se manter ligado no cenário pop – que, conforme confessa, ele pouco acompanha. “Para ser honesto, eu nem gosto de música pop. Nem acho que toda música pop é boa. Eu nem ouço muita música pop. Mas eu faço estas versões metalizadas porque acho que qualquer música pop, por pior que seja, pode ser transformada em algo muito bom”. Bom, “qualquer música” não, vai. “Acho que eu nunca tentaria uma coisa controversa como o Justin Bieber, por exemplo, isso acho que nem o metal salva”, diz, brincando.

Uma vez selecionada a música, PelleK faz praticamente tudo sozinho. “Eu faço o processo todo, eu mexo no arranjo, eu toco todos os instrumentos, eu toco piano, eu toco baixo e sempre tento fazer algo novo”, conta, lembrando que seu produtor dá uma força no estúdio, na hora da gravação.

O sucesso de suas versões metalizadas acaba ajudando na realização de uma missão: fazer mais e mais pessoas se interessarem pelo metal. “Acho que, como o power metal não é exatamente um dos gêneros mais populares do mundo, estas versões ajudam a apresentá-lo para os jovens e adolescentes. E eles se apaixonam por isso e resolvem que vão ouvir mais disso. É o que eu quero”, diz, em tom de orgulho. “Recebo milhares de mensagens de pessoas que mudaram seus gostos musicais, que ampliaram seus horizontes e passaram a ouvir power metal”.

Além das canções pop, PelleK também gosta de dar seu toque metálico à canções emblemáticas de filmes e faixas de abertura de séries de TV e desenhos animados, o que lhe conferiu até um apelido para seu “gênero musical” particular: Disney Metal. Pudera: o cara já cantou da inevitável “Let It Go” do Frozen até Mulan, passando por Alladin e Valente. “Gosto da sonoridade épica que estes estúdios davam aos seus filmes nas décadas de 70 e 80”, diz. Fanático por videogames como Final Fantasy e World of Warcraft, ele também já brincou com músicas do Homem-Aranha, de Duck Tales, de Game of Thrones, dos Caça-Fantasmas... Sua especialidade, no entanto, são os animes – como Bleach, Naruto, Pokémon, Death Note, Full Metal Alchemist e Dragon Ball Z, entre outros.

“A coisa com os animes é que, na verdade, eles já fazem um pouco de uso do heavy metal nas aberturas das séries animadas – mais ou menos como os ocidentais fizeram bastante ao longo dos anos 70 e 80. Lembra da versão do Lion para a abertura de Transformers, no filme animado? A guitarra, os vocais, está tudo lá”, recorda. “E tenho o maior respeito pelos japoneses não só porque eles têm excelentes músicos, mas porque eles ainda fazem bastante metal nas aberturas, e a gente precisa de mais metal na nossa vida. Nunca é o bastante”. Os caras do Manowar ficariam orgulhosos. :)

Era óbvio que nada disso ia passar despercebido – tanto que seu vídeo “All Power Rangers Theme Songs” (compilação de interpretações metal das aberturas de todas séries dos Rangers), por exemplo, chegou aos ouvidos de ninguém menos do que Haim Saban. É, ele mesmo, o homem forte da Saban International, que detém os direitos do grupo de coloridos.

A empresa entrou em contato com PelleK, adquiriu os direitos da versão e lançou a dita cuja oficialmente no mercado, com o título de Power Rangers Mega Mix. “A [gravadora] Nuclear Blast já me pediu, por exemplo, para fazer uma versão da nova música do Matt Barlow [ex-vocalista do Iced Earth], This Is My Hell”, revela ele. “Eu o conheci pessoalmente no ProgPower, ele disse que era fã do meu trabalho e acabei até tocando a versão no meu show. Foi a primeira vez que conheci alguém cuja versão eu fiz”. Os finlandeses do Nightwish também curtiram e chegaram, inclusive, a compartilhar os videos do cara em seus próprios canais, fazendo a popularidade de PelleK crescer ainda mais.

O músico acredita que toda esta atenção ajuda a colocar luz também sobre seu trabalho autoral. “As pessoas que vão aos meus shows e me conheceram por causa do canal no YouTube são devotas o bastante para conhecer minhas músicas próprias. Elas chegam cantando as letras todas”, afirma. Além de dar voz aos discos da banda inglesa Damnation Angels (cujo próximo disco, The Valiant Fire, será lançado em março), ele também tem sua banda, PelleK, que acaba de colocar na rua o álbum de inéditas Cloud Dancer.

Como banda, obviamente, você imagina o que PelleK mais quer, não é mesmo? O que 99% das bandas de metal no mundo desejam: visitar o Brasil, coisa que nunca aconteceu. Fanático pelo Angra, ele diz que a comunidade do heavy metal no Brasil é uma das melhores do mundo. “Eu sinto como se existisse um grande laço que liga os fãs de metal no seu país, coisa que você não sente em lugares como aqui, na Noruega”, opina. “Eu espero tocar no Brasil – e espero que seja logo! O único porém, que pega para qualquer banda, claro, é o custo”.

Ele conta que, em 2013, fez uma turnê grande, tocando em 11 países, até nos Estados Unidos, que não costuma ser um mercado dos mais receptivos para o power metal vindo da Europa. “Para ser honesto, não ganhamos muito dinheiro com aquela turnê. Ônibus, hotel, é tudo muito caro. Vamos ver. De qualquer maneira, o Brasil é o lugar para se estar. Se tivermos a chance, América do Sul, aqui vamos nós”.