Porque, no Super Trunfo do boteco dos nerds, inteligência é tão legal quanto força ou velocidade
Se você perguntar pra minha filha qual foi o presente que ela mais gostou de ganhar de mim na vida, a gatinha, como boa libriana, vai ficar indecisa entre várias opções – talvez a bicicleta, o skate, o telescópio. Mas eu sei dizer exatamente o presente que eu dei e que deixou secretamente o papai radiante de felicidade (comprado com as devidas segundas intenções): um Super Trunfo com personagens da Marvel. Nem preciso dizer que eu adorava jogar quando ela me convidava pra jogar (segredo: às vezes, era eu quem provocava o jogo) e que fiquei ainda mais feliz quando o brinquedo acabou migrando para o irmão dela, meu pequeno de quatro anos de idade. Mais alguns anos de diversão garantida...pra nós. :P
Sou leitor assíduo de quadrinhos desde os sete anos de idade e, quando ganhei meu próprio Super Trunfo, aquele jogo de cartinhas no qual a gente compara atributos de cada personagem na mão dos jogadores para ver quem venceu, delirei. Eu e um grande amigo que era tão viciado em gibis quanto eu passávamos horas naquilo – porque, cá entre nós, era uma excelente forma de ficar conversando sem parar sobre nossos personagens favoritos, discutindo sobre quem era mais forte, mais rápido, mais ágil...
Conforme cresci, as cartas ficaram pra trás, mas o grupo de nerds tarados por gibis cresceu – e a discussão sobre os atributos dos heróis e vilões dos gibis foi parar no boteco (e olha que eu nem bebo, detalhe). É claro que a gente perdia um tempão – e uma série de argumentos inúteis – querendo descobrir se o Thanos daria um pau no Darkseid ou se o Gavião Arqueiro acertaria a flecha do Arqueiro Verde em pleno movimento. Mas a parte mais divertida do papo era quando a gente chegava, enfim, na trepidante conversa sobre quem era o grande gênio das HQs.
Éramos um bando de visionários, sabíamos que os crânios eram o novo sexy da história. Tava na cara que Reed Richards era o grande cérebro do Universo Marvel, o sujeito que sabia tudo sobre praticamente tudo, uma espécie de Sheldon dentre os inteligentes da Casa das Ideias. E, justamente por isso, um mala. Victor Von Doom manjava tanto quanto ele de química e ainda arrumava tempo pra entender de artes místicas, olha só, rivalizando com o Doutor Estranho – que, diabos, também tem que ser esperto pra caramba pra decorar todos aqueles feitiços, saber para o que cada um deles serve e ainda se lembrar dos ditos cujos em pleno calor da batalha. Que memória!
Aqueles eram anos em que o Homem de Ferro não era tão legal quanto hoje, em sua encarnação Robert Downey Jr. inspirada na versão Ultimate, o canalha adorável e estiloso. Justamente por isso, tá bom ele podia manjar de engenharia como ninguém e criar trocentas versões diferentes de armaduras multicoloridas, mas a gente sempre preferiu o Batman. Afinal, além de entender de mecânica para ajudar a projetar as suas bat-traquitanas, Bruce Wayne tinha um pensamento analítico brilhante e um poder de dedução fora do comum. Detetive, né, cara. Justamente por isso, foi o único a criar e coordenar um plano com as formas perfeitas de se derrotar cada um dos integrantes da Liga da Justiça...no caso de alguma emergência. Inteligente AND sacana, este Sr.Wayne.
Hank Pym, o primeiro Homem-Formiga, também é um crânio. Mas é meio mala, confesso. Só ficou legal de verdade quando pirou e se tornou o Jaqueta Amarela. Meio escroto, vilanesco, mas um personagem mais interessante. Todavia, contudo, porém, acho que, mesmo tendo sido o maluco responsável pela invenção do Ultron, Pym não conseguiu superar, em matéria de escrotidão e de inteligência, um sujeito calvo da Distinta Concorrência, um tal de Lex Luthor. Nada de superpoderes, senhoras e senhoras. Apenas a boa e velha genialidade científico-corporativa com requintes maquiavélicos para servir de antagonista perfeita para a criatura mais poderosa do planeta Terra.
Viu com um cérebro bem treinado pode ser capaz de feitos impressionantes? Que o diga o nosso eterno Professor Xavier tupiniquim, Cazé Pecini, apresentador de Os Incríveis, do Nat Geo – é, aquele mesmo no qual rola uma disputa entre as mentes mais extraordinárias do Brasil por um prêmio de R$ 100 mil. Nenhum deles usa armadura, capacete de formiga, capuz de morcego ou uma roupa azul colante com um 4 na frente. Mas são todos geniais. São de verdade. E têm superpoderes, rapaz. Ou você não acha fora do comum um sujeito cujo cérebro é capaz de catalogar e reconhecer 4.500 diferentes cheiros?
Só que a coisa não acaba aí – tem o mano que, ao ouvir uma frase, é capaz de dizê-la ao contrário instantaneamente (Flash Reverso aprovaria); um especialista em leitura dinâmica, que lê qualquer tamanho de texto em poucos segundos e ainda consegue reter os mínimos detalhes; e o sujeito que memorizou milhares de datas, do ano de 1600 até 2199 – e é capaz de dizer em que dia da semana cada uma delas cai. Tá bom pra você?
Tem uns participantes até que já ganharam seus próprios codinomes, tipo o Scanner Humano (alguém dê uma carteirinha da Legião dos Super-Heróis para este homem!), que consegue encontrar um único erro entre milhares de caracteres, como se jogasse um grande jogo dos sete erros. E o Speed Memory, que “fotografa” mentalmente sequências de números e as reproduz em segundos. O desafio dele será com uma sequência de nada menos do que 14 números. Acha fácil? Tenta em casa, rapaz!
Todos eles estão na nova temporada de Os Incríveis, exibida todas as quintas-feiras às 22h30, no Nat Geo. Na real, alguém deveria fazer um Super Trunfo destes caras também. Eu compraria. =)