Cê vai me dizer que saporra é óbvia. Pode ser. Mas quem tá falando não sou eu. É A CIÊNCIA. ;)
Qualquer um que já tenha colocado os pés num show ou em um festival com uma porrada de bandas, não importa aqui de que gênero estamos falando, sabe bem o efeito que a experiência toda pode proporcionar. Deixe de lado por um minuto os perrengues com estacionamento, ação dos combistas e o alto custo de comidinhas e bebidinhas. Guarde isso aê numa caixinha e pense NA MÚSICA.
Pense na verdadeira catarse coletiva que ela pode proporcionar, todo mundo berrando junto o refrão a plenos pulmões. Você sai cansado, suado, fedido, enlameado... mas feliz. É como lavar a alma, com o perdão da expressão clichê.
Esse ano, quando fui ver os caras do Avantasia e os ouvi cantando Let The Storm Descend Upon You ao vivo, chorei um bocado. Gritei, fiquei arrepiado. A EXPERIÊNCIA, sabe? Cantei com a mesma animação o refrão de Draconian Love, que eles mandaram TRÊS vezes na sequência porque estavam gravando o videoclipe ao vivo no Brasil. Eu e toda a galera também mandamos ver sem reclamar. Foi emocionante. E terapêutico, eu diria.
Não à toa, por exemplo, quando o Linkin Park tocou pela primeira vez por aqui, lá em 2004, eu dei à minha resenha do show o título de “A Noite da Terapia do Grito”. Eu nem sou fã da banda mas, porra, foi eletrizante.
Agora até a ciência tá querendo comprovar os efeitos positivos da parada. Vejamos, por exemplo, o que afirma o estudo Music Engagement and Subjective Wellbeing (Engajamento musical e bem-estar subjetivo), publicado integralmente no site Psychology of Music.
Realizada como uma parceria de faculdades de psicologia e artes/educação, a pesquisa conduzida por profissionais da Universidade Deakin, em Victoria, Austrália, falou com cerca de 1.000 pessoas, todas acima de 18 anos. Parte da amostra frequentava regularmente eventos musicais, enquanto outra era mais caseira e preferia curtir música no ACONCHEGO do lar.
A descoberta final mostra que aqueles que participavam frequentemente de situações como shows demonstravam níveis substancialmente mais altos de “bem-estar” do que aquele que preferiam ficar em casa. E mais: quem não apenas cantou de maneira mais passiva, mas também pulou, bateu cabeça, mexeu o esqueleto, requebrou, teve pontuação ainda maior.
Tudo indica que o que faz a diferença é a experiência comunitária da música – porque mesmo aqueles que declararam dançar e cantar sozinhos não demonstraram um aumento cientificamente relevante no bem-estar subjetivo, que os pesquisadores usaram para batizar o “termo científico e psicológico para a sensação de ‘felicidade’, que é um sentimento positivo, estável e consistente dentro de um determinado período de tempo”.
Obviamente que a gente tem que ter em mente que estes resultados todos são apenas correlações entre fatos. Mas dá pra pensar, por exemplo, que as pessoas que comparecem a mais shows vem de uma classe econômica superior, já que tem mais grana para gastar com ingressos e, portanto, podem se sentir mais felizes e mais seguras também por outras razões. Pode ser.
Ainda assim, não deixa de ser interessante ter em mente que até a ciência está disposta a fazer você sair de casa – ao invés de fumar o seu charuto tomando uísque ao lado do aparelho de vinil, se junte a um bando de outros malucos e vá cantar, pular e dançar como se não houvesse amanhã. Me parece um bom conselho, de qualquer forma. Se médico fosse, eu prescreveria. Não precisa gastar uma fortuna pra ir ver um Rock in Rio, um Lolla ou um Monsters of Rock da vida. Se liga, por exemplo, naquela banda nacional que vai tocar no boteco do lado da sua casa e entra de cabeça.
Aliás, entra com o corpo todo que é mais legal. ;)