Com roteiro de Felipe Cagno e arte de Fabiano Neves, Os Poucos & Amaldiçoados saiu de uma história de três páginas para se tornar uma minissérie em seis edições
Tudo começou em 2014, no primeiro volume da coletânea 321: Fast Comics. O idealizador do projeto e roteirista Felipe Cagno convidou Fabiano Neves (Marvel Zombies, Red Sonja, Robocop, JLA’s Vibe, Constantine) pra ser seu parceiro em uma das histórias curtas – e perguntou que gênero ele curtiria explorar. FAROESTE foi a resposta.
“Foi daí que surgiu a ideia da Caçadora de Maldições, uma personagem sem nome, como nos bons faroestes, que vaga pelo mundo caçando tesouros, lendas, maldições e monstros”, explica Cagno. A personagem ruiva chamou a atenção não apenas dos leitores mas também dos autores, que acabaram se apegando. “Gostamos tanto dela que em um dos eventos de lançamento a gente começou a conversar sobre fazer uma série solo. Foi no final do ano passado que comecei a esboçar esse mundo que ela habita e qual a maldição iríamos explorar. Eu queria fugir de vampiros, lobisomens e outras lendas mais batidas”.
A trama de Os Poucos & Amaldiçoados, minissérie em seis edições, é assim: a água do mundo praticamente desapareceu da noite pro dia ali por volta de 1840. Desde então já se passaram 70 anos e a humanidade aprendeu a viver com a escassez de água – aliás, toda uma nova geração nunca viu oceanos, chuvas, rios, lagos. O pouco de água que resta no mundo é raridade, vale ouro e é negociada como dinheiro. “Como a sobrevivência é algo extremamente difícil, vários homens e mulheres passaram a se meter com pactos e maldições do mundo de lá, abrindo a Terra para lendas e monstros que há muito havia desaparecido. É nesse contexto que a Ruiva habita, indo de cidade em cidade e colocando um fim a essas maldições e trazendo um pouco de equilíbrio ao mundo”, explica o escritor.
A ameaça da vez fica na pequena cidade de Mana’Olana, no Havaí. “Criaturas que sequestram criancinhas, muitos pensam que os corvos são apenas uma história para manter a criançada na linha”, conta ele. A mulher de cabelos vermelhos estará acompanhada de Jeremiah Younger, um velho pistoleiro de 93 anos.
Com lançamento da primeira edição previsto para o começo de dezembro, Os Poucos & Amaldiçoados já tem até título em inglês, mirando o mercado internacional: The Few and Cursed. “A série já tem algumas engrenagens a postos para imigrar para outros mercados”, conta Cagno, cheio de mistérios.
Recentemente, ele esteve em eventos como a New York Comic Con, para apresentar a versão gringa de 321: Fast Comics, e conta que a intenção é fazer com que todos os profissionais que conheceu e cujos contatos levou na bagagem passem a se tornar parceiros também. “Conheci editores, artistas, roteiristas e muita gente que eu admirava e estava tão longe”. Ele afirma que estar lá, ainda que com uma pequena mesinha, foi de abrir os olhos. “Deu para ver como o mercado deles não é só muito maior, mas bem diferente do nosso aqui. E por ser maior, tem espaço para todo mundo, o caminho está sim aberto para qualquer ilustrador ou roteirista”.
Para o quadrinista, o lado bom é que o público e os editores não se importam se você é brasileiro, francês, italiano, ganês ou de Singapura: o que eles realmente querem são boas histórias e bons artistas, independente de onde venham. “Mas o ponto ruim é que a competição, por ser mundial, é enorme. Se destacar com a sua HQ é muito mais difícil, o caminho é mais longo e árduo, mesmo que esteja aberto”.
Assim como vem fazendo em todos os seus últimos projetos, Cagno meteu Os Poucos & Amaldiçoados no Catarse e garantiu mais um financiamento – aliás, ultrapassando a meta. Afinal, qual é o segredo dele pra acertar sempre? “É preciso entender que financiamento coletivo não é para se ganhar dinheiro, é para financiar projetos e tirá-los do papel. Eu já realizei algumas campanhas e poderia facilmente pedir muito mais para produzir a primeira edição da Ruiva, mas se preciso de R$7.500 para bancar a gráfica, por que vou pedir mais?”, diz.
“O apoiador está lá para fazer parte da produção, não pra encher os bolsos de dinheiro do organizador do projeto. Batendo a meta inicial, é obrigação nossa oferecer coisas bacanas como recompensas extras, é preciso tratar bem os apoiadores, eles são o seu público VIP, quanto melhor forem tratados, mais eles irão voltar para projetos futuros. É um relacionamento e muita gente não enxerga dessa forma, enxerga apenas como ganha-pão”, desabafa.
Ele conta que vê muitos projetos que simplesmente são jogados dentro do financiamento coletivo como se fossem atingir suas metas impossíveis sem o menor esforço. “É preciso adequar o seu projeto àqueles que tiveram sucesso na plataforma: se você está fazendo um livro de tiras, estude projetos semelhantes, veja quanto levantaram de dinheiro, por que levantaram e como você pode fazer para emular o sucesso deles. Faço questão de oferecer toda uma experiência a quem apoia meus projetos, eles não vão receber apenas a HQ. Se atingirmos metas estendidas eles acabam recebendo um pacote de recompensas exclusivas sem gastar um centavo a mais, faço desse relacionamento algo divertido e por isso a taxa de retorno sempre é muito alta. Como já fiz alguns projetos dessa forma, hoje muita gente confia em mim e por isso os projetos vão atingindo suas metas”.
E se Os Poucos & Amaldiçoados saiu das páginas de 321: Fast Comics, será que ele não tem planos de desenvolver outras histórias de algum dos dois volumes para se tornarem algo maior? Cagno admite que sim. “No novo 321, tem uma história que descaradamente serve como ponte para algo maior e que espero produzir em 2016. A história que fecha o livro e é maravilhosamente ilustrada pelo Felipe Massafera é só um gostinho”.