Ousado, inovador, extravagante: todos estes adjetivos cabem para o músico que nos deixou aos 57 anos. Mas aquele que mais faz sentido é “GENIAL”.
Assim como se tornou jargão dizer que David Bowie era um camaleão, dá pra dizer que, musicalmente, Prince era outro que simplesmente não parava quieto. O sujeito não era apenas cantor, mas também multi-instrumentista, compositor, produtor, arranjador, ator e dançarino.
Certa vez, perguntaram pro Eric Clapton: “Como é ser o maior guitarrista vivo?”. Clapton retrucou: “Não sei. Perguntem ao Prince”.
Originalmente influenciado por grandes nomes da música negra americana como James Brown, Jimi Hendrix, Earth, Wind & Fire e Sly and Family Stone, não demorou até que deixasse quaisquer pudores musicais de lado e começasse uma mistureba que facilmente podia transitar pelo funk, R&B, soul, new wave, jazz, rock, pop e hip hop. Um pouco de um, uma pitada do outro. Ou, quem sabe, todos ao mesmo tempo.
Pensem só que, em 1985, Purple Rain venceu na categoria “álbum de pop/rock favorito” dos American Music Awards — uma das principais premiações musicais da Terra do Tio Sam, cujos resultados são escolhidos por votação popular. Adivinhem de quem ele ganhou? Thriller. Aquele mesmo, de um tal de Michael Jackson.
De personalidade difícil e extremamente superprotetor com seu próprio trabalho, não tinha medo de experimentar, de sair da caixinha do pop fácil, daqueles hits que o tornaram famoso.
Depois de Purple Rain, talvez seu maior e mais icônico sucesso tenha sido a Batdance, parte da trilha sonora do primeiro filme do Batman (1989) dirigido por Tim Burton, que lhe garantiu mais uma canção no número 1 das paradas. Ele entraria na década de 1990, portanto, no auge do cenário pop, né?
Em 1993, no auge de uma disputa judicial com sua gravadora, a Warner, por conta dos direitos autorais de suas músicas, mudou oficialmente seu nome para um símbolo impronunciável, uma mistura de masculino com feminino, o tal Love Symbol. Acabou virando “o artista anteriormente conhecido como Prince” ou apenas “o artista”. Dá pra imaginar o quanto isso enlouqueceu o marketing da Warner, não é mesmo? Acabou emendando alguns fracassos comerciais e, sinceramente, parecia nem estar ligando pra isso.
Sem problemas em ser independente, sem medo de se assumir digital, Prince nunca parou de produzir. Mesmo se tornando um cara bem mais recluso, longe dos holofotes, abraçou a tecnologia e fez dela sua parceira. Criou até um serviço de assinatura para que as pessoas pudessem ouvir seus novos trabalhos, o NPGMusicClub.com, muito antes de qualquer Spotify da vida.
De volta ao nome Prince, manteve o tal símbolo ao seu redor todo o tempo, incluindo no formato de uma de suas mais famosas guitarras. Em 2004, depois de uma apresentação memorável com Beyoncé no Grammy, soltou o ótimo Musicology, que o fez ganhar da Rolling Stone o título de “artista que mais ganhou dinheiro este ano no mundo da música”.
Desde 2014, lançou quatro discos com sua banda atual, o 3rd Eye Girl, cujo som ele mesmo definia como “rock psicodélico” ou “funk intergaláctico”.
Do alto de seus 1,57m de altura, Prince era um gigante — como Gene Simmons, baixista e líder do Kiss, definiu no Twitter assim que ficou sabendo da morte do colega. Sensual, sedutor, provocante, sem medo de abusar no visual, sem medo de extrapolar musicalmente. “O mundo perdeu muito de sua mágica”, afirmou Katy Perry também no Twitter.
Katy está certíssima. Prince era mesmo um mágico. E, como todo grande mágico, morreu sem nos ensinar o segredo do seu maior truque: como diabos conseguia fazer tanta coisa ao mesmo tempo — e por tanto tempo? E com tanta qualidade?
“I want to be your fantasy”, dizia ele na letra provocativa de Kiss. E ele foi. Ah, mas como foi.