Superbanda formada por membros do Rage Against the Machine, Public Enemy e Cypress Hill anuncia turnê e planeja show nos arredores da Convenção Republicana, em Julho nos EUA
No ano 2000, quando o vocalista Zack de la Rocha anunciou a sua saída do Rage Against the Machine, Tom Morello (guitarra), Tim Commerford (baixo) e Brad Wilk (bateria) quiseram continuar a tocar juntos e mantiveram as atividades. Eles achavam que ainda tinham algo a dizer, musicalmente falando. Mas não parecia certo colocar outro cara no lugar e continuar atendendo pelo mesmo nome. E aí, assim que Chris Cornell assumiu os vocais, surgiu o Audioslave, uma outra banda, com outra identidade musical, uma sonoridade que misturava o Rage com a herança do rock alternativo do Soundgarden, menos metal, mais melódico.
Aí Zack se aproximou novamente de Tom, Tim e Brad, o RATM retornou para uma série de shows e o Audioslave (infelizmente, aliás) acabou. Hoje em dia, os quatro músicos dizem, unânimes, que o Rage Against the Machine não está morto — embora não toquem juntos desde 2011: a banda estaria em animação suspensa. Mas o caso é que Zack está lá, fazendo as coisas dele, prometendo disco novo e tal, e os outros três resolveram que não querem ficar parados, formando um novo Audioslave. Mas ao invés de Cornell, convocaram dois vocalistas de background bem diferente, os rappers Chuck D (Public Enemy) e B-Real (Cypress Hill). Duas grandes e declaradas influências para o lado mais hip hop do Rage, aliás.
Assim como aconteceu no caso do Audioslave, a mistura resultou numa sonoridade que tem muito do RATM, incluindo o engajamento político, e muito da herança original dos dois cantores, metralhadoras giratórias de outras duas bandas de rap que não têm papas na língua quando o assunto é crítica social. O resultado é o Prophets of Rage, “uma força de elite de músicos revolucionários determinados a enfrentar este ano eleitoral”, diz o comunicado oficial. “Um momento histórico demanda uma trilha sonora radical – e é isso que queremos fazer”.
Em resumo, um quinteto que descreve a si mesmo como sendo “100% político”.
A estreia da nova banda – cujo nome vem do título de uma música do Public Enemy – aconteceu no último dia 31 de Maio, no clássico Whisky a Go Go, em Los Angeles. Depois de duas outras apresentações que funcionaram como esquenta (nas casas de shows Hollywood Palladium e Brooklyn’s Warsaw), eis que agora os caras anunciam sua primeira turnê oficial, Make America Rage Again Tour. Batizada para fazer referência clara ao slogan de Donald Trump, a turnê vai passar por mais de 35 cidades a partir do dia 19 de agosto, com parte da arrecadação dos ingressos sendo doada para instituições locais que cuidam de moradores de rua.
No setlist, além de uma canção inédita, The Party is Over (um doce pra quem adivinhar para quem eles dedicam a dita cuja), eles tocam clássicos das três bandas, como Insane in the Brain (Cypress Hill), Fight the Power (Public Enemy) e Killing in the Name/Bulls on Parade (Rage Against the Machine).
Isso, é claro, se eles não mantiverem o cover de No Sleep ‘Til Brooklyn, dos Beastie Boys, que nos três primeiros shows acabou sendo reinterpretado como No Sleep ‘Til Cleveland — conforme Morello revelou em entrevista para a Bloomberg, a turnê do Prophets of Rage fará uma paradinha estratégica por lá em algum momento de Julho e, vejam só vocês, o que é que vai acontecer na cidade neste mesmo período? A Convenção Nacional do Partido Republicano, que vai saudar a candidatura de Donald Trump à Casa Branca.
“Esse será o lugar perfeito para uma banda como o Prophets Of Rage causar tumulto e nós estaremos lá nas ruas, nos campos e nos shows”, diz Morello, relembrando a apresentação que o próprio Rage Against the Machine realizou em 2008, na cidade de Minneapolis, dias antes dos republicanos se reunirem por lá, o que resultou numa porrada de protestos acontecendo nos arredores da convenção. Mas quando perguntado quando e onde o show (ou seriam “os shows”?) em Cleveland aconteceria exatamente, o músico saiu pela TANGENTE. “Esse não é o tipo de coisa que você anuncia antes da chegada para que as autoridades saibam, né?”, brincou, lembrando que existem várias possibilidades não apenas de casas de shows mas locais mais “espontâneos”.
A gente até já falou aqui no JUDÃO sobre uma apresentação nesta vibe “espontânea”, pouco antes da saída de Zack, quando eles montaram o equipamento e, sem aviso, saíram tocando na frente da Bolsa de Valores de Nova York, para a gravação do clipe de Sleep Now in the Fire. Vai que a ideia é por aí, aparecendo de surpresa justamente na frente do ginásio do Cleveland Cavaliers, onde rola a convenção?
Falando para o Los Angeles Times, o guitarrista e principal porta-voz da banda deixa claro que a convenção do Partido Republicano é um momento crucial na história contemporânea dos EUA e que todos os cidadãos conscientes deveriam aparecer para protestar. É notório, obviamente, que o principal alvo de crítica da banda é Trump (“um demagogo racista”), mas Morello e seus comparsas afirmam que não apoiam nenhum candidato. “Em uma coisa muitos dos seguidores de Trump estão certos: este sistema está quebrado”.
O músico critica o sistema político americano e fala a respeito de uma reforma política urgente, que permita dar mais espaço para o surgimento de novas opções, que vão além dos Democratas e Republicanos de sempre. “O sistema de dois partidos já está falido tem um bom tempo”, complementa Chuck D. “Temos que pensar em um novo jeito que faça sentido para o século 21 e seja interessante para a nova geração que está vindo e vai se engajar pra valer nas eleições”.
Ambos reforçam que sua música é para todos que sintam que tem algo de errado e tenham a urgência de protestar (“republicanos, democratas, independentes e anarquistas”), e dizem que a missão do Prophets of Rage é botar um pouco mais de lenha na fogueira.
“Queremos apresentar ideias que encorajem mais do que o debate – mas sim que encorajem a ação. Como foi que a história mudou no passado, seja com as mulheres conquistando o direito ao voto ou durante o movimento pelos direitos civis?”, relembra Morello, afirmando ainda que a música pode ser um catalisador de mudanças. “Acho que mudanças radicais e progressistas vieram de baixo, não de cima. Começa na mesa da cozinha, nas salas de aula, onde as pessoas estejam falando sobre um mundo melhor que a gente queira ver no futuro”.
“Tempos perigosos demandam músicas perigosas”, resume.
Mas e depois? O que vai ser do Prophets of Rage? Teremos mais músicas inéditas e tão perigosas quanto em um disco completo da banda? “Ainda não falamos sobre isso”, diz B-Real, para a Rolling Stone. “Nós temos nossos compromissos com o Public Enemy e o Cypress Hill. Todo mundo está trabalhando em seus próprios projetos”. Chuck segue a mesma linha de raciocínio. “Vejamos o que os meses de julho e agosto nos reservam”.
Se depender de mim, eles tem mais é que gravar mesmo. Rap e rock geralmente rendem um mix interessante, ainda mais com caras tão talentosos envolvidos na parada. E se alguém aí soprar no ouvido do Chuck D que seria foda ver esta formação tocando Bring The Noise e ele aceitar, aí vai ser imperdível em dobro.
Fora toda a importância. :)