Quando as Luzes se Apagam: de um ótimo curta para um longa sem brilho | JUDAO.com.br

Filme produzido por James Wan é um caminhão de clichês que não acrescenta absolutamente nada ao gênero

Uma mulher, sozinha em casa numa noite chuvosa, apaga as luzes do corredor. Uma sinistra silhueta aparece nas sombras. Estranhando o fato, ela repetidamente mexe no interruptor, ligando-o e desligando-o. A sombra vem se aproximando. Assustada, ela gruda uma fita para mantê-lo aceso e vai para o seu quarto. Mas a luz do abajur começa a falhar por causa de um mau contato na tomada. Se ela ficar imersa na escuridão, estará à mercê do quer que seja aquela figura, que surge em uma última cena dando um susto dos diabos.

Em pouco mais de dois minutos, o diretor David F. Sandberg entregou Lights Out, um curta simples, direto, atmosférico e genuinamente assustador, que lhe garantiu o prêmio de melhor diretor no Who’s There Filme Challenge e a estatueta de melhor curta no FANT Bilbao de 2014. O sucesso fez com que logo ele se tornasse um longa com produção de James Wan – sim, o hypado diretor do arrasa-quarteirão Invocação do Mal – financiado e distribuído pela Warner Bros. e pela New Line Cinema.

Quando as Luzes se Apagam, que estreia nessa quinta-feira nos cinemas do Brasil, teve uma ótima recepção de público e crítica nos EUA. Mas sejamos francos? A ideia perdeu todo o brilho e clima do curta original para virar um dos mais formulaicos e dispensáveis filmes de terror dos últimos tempos. Após as luzes se acenderem ao término da sessão (viu o que fiz aqui?), juro que fiquei tentando entender como, sem maldade, tanta gente conseguiu gostar de um filme como esse...

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Com um CAMINHÃO de fórmulas batidas e exploradas à exaustão em um roteiro pobre, Quando as Luzes se Apagam é uma espécie de escola de tudo que você precisa fazer para conceber um horror mainstream pasteurizado. Um fantasma em CGI, desenvolvimento raso de personagens e constantes cenas de jumpscare tão óbvias que você consegue prever o exato momento que uma imagem repentina vai saltar na tela seguido de um baque de volume ensurdecedor que quase estoura o seu tímpano.

Mas né, parece ser apenas isso que o cinemão pipoca hollywoodiano de terror tem a oferecer, e convenhamos, é a cara da tal escola James Wan, que muita gente adora e aponta como um “mestre” e salvador da pátria do gênero (?!), cujo nome no crédito está lá exatamente para levar o público em peso às salas de cinema, na esteira de seus sucessos recentes.

Acaba que lembra a mesma coisa que aconteceu com Mama, que também de um excelente curta, virou um longa fraquíssimo, mas com um nome forte (nesse caso, Guillermo Del Toro), na produção como chamariz.

No prólogo, vemos um pai (Billy Burke), preocupado com seu filho (Martin, vivido por Gabriel Bateman) e com a saúde mental de sua esposa (Sophie, a veterana do terror Maria Bello), sendo atacado por essa estranha silhueta – explicitamente inspirada pelo cinema de terror japonês – deixando a mulher viúva e o guri órfão. Ou seja, em uma só tacada, vemos uma criatura/entidade que vive da falta de luz, um garoto com medo do escuro e uma mãe louca, na qual ninguém irá acreditar.

O comportamento da matriarca passa a se tornar errático e esquizofrênico e Martin vive aterrorizado por aquela entidade. É quando entra em cena a jovem rebelde sem causa Rebecca (Teresa Palmer), meia-irmã do garoto e que também fora atormentada pela mesma criatura durante a infância, quando seu pai a abandonou.

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Começa aquela boa e velha investigação, com direito a encontrar uma caixa lotada de arquivos médicos e fitas de sessões de terapia no porão (??!!) e conhecer um pouco mais do passado da tal Diana, paciente fotossensível com uma espécie de poder de controle mental (???!!!), que era considerada a maldade em pessoa (????!!!!), amiguinha de sua mãe durante sua estada em uma instituição psiquiátrica na adolescência, que passara por uma série de experiências que deu ruim.

E dá-lhe dezenas de cenas com pouca luz, lâmpadas e lanternas falhando e tudo mais que a cartilha manda, além do misterioso poder de causar blecaute da entidade. Tudo sem a mínima originalidade ou ousadia. Nem uma ideia interessante na resolução final consegue aliviar o resultado medíocre. Tudo é tão óbvio e desinteressante que, mesmo o filme tendo apenas 80 minutos, você preferia que ele tivesse apenas DOIS, como o curta original.

Ainda assim, o dito cujo já garantiu uma sequência (?????!!!!!) e credenciou Sandberg a direção de, pasmem, Annabelle 2, entrando de vez para a patota de Wan e do cinemão de terror comercial.

Quando as Luzes Apagam não joga absolutamente NENHUMA luz no gênero e é preferível ficar na ESCURIDÃO do que assisti-lo mais uma vez...