Donos de cinemas dos EUA querem mais Panteras Negras e Mulheres-Maravilha | JUDAO.com.br

Mais gente se sentiu representada, mais gente foi no cinema, mais dinheiro entrou no bolso dos exibidores. Com essa equação simples (e óbvia, até), a caixa de Pandora se abriu. AINDA BEM.

Os comentários que a gente deleta e desce o BANHAMMER sem dó nos posts das nossas matérias lá no [Facebook] comprovam: quando a gente fala aqui sobre representatividade e diversidade, os ratos saem das tocas desesperados, como se num incêndio. Como se essas palavras fossem sobre coisas a “menos”, e não o mais absoluto oposto. São mais tipos diferentes de produtos na cultura pop, com mais gente se enxergando neles do jeito certo, mais gente pirando, mais gente vindo curtir uma festa que, até o momento, era só pra um bando de branquelos convidados pelo Rei do Camarote.

Só que tem uma outra coisa que a turma que realmente acha justiça social ruim não entende: representatividade e diversidade também é bom PROS NEGÓCIOS, em especial se estamos falando dos grandes estúdios e seus blockbusters bilionários. Pro capitalismo continuar cheio de cifrões, pra grana continuar entrando pra todo mundo, mais gente na festa é mais gente consumindo.

E se tem dois filmes recentes que são a prova clara de que o investimento em representatividade não é filantropia, mas sim a entrega de um produto que uma generosa fatia de mercado vinha pedindo há muito tempo, eles são Mulher-Maravilha, com seus mais de 400 milhões de bilheteria nos EUA e outros 400 milhões internacionalmente, e Pantera Negra, esta máquina que antes de chegar ao terceiro final de semana de exibição já tá lá com seus mais de 400 milhões só na Terra do Tio Sam.

Sacou o que estes dois filmes têm em comum ou a gente precisa REALMENTE desenhar? :)

Em uma entrevista à Variety, John Fithian, representante da National Association of Theatre Owners, principal órgão de defesa dos interesses dos exibidores, aka as salas de cinema onde o pessoal vê os filmes, come pipoca, M&Ms e essas coisas, relembra que sempre existiu um mito no mercado de que filmes com mulheres como protagonistas não falavam ao coração dos moleques adolescentes (eu, particularmente, ouvi RIGOROSAMENTE isso de pelo menos dois diretores comerciais de grandes distribuidores de cinema aqui no Brasil) e que produções com negros nos papéis principais tinham dificuldade de aceitação nos mercados internacionais.

Bom, e aí Mulher-Maravilha e Pantera Negra mandaram estes argumentos pro espaço. A molecada toda foi curtir a Diana, meninos e meninas. E T’Challa tá indo bem demais no circuito fora dos EUA. E sem desculpa: não tinha Batman para ser “chamariz” no filme dela, não tinha Homem de Ferro pra ser coadjuvante de luxo no filme dele. Foi tudo por mérito dos próprios personagens. E de um elenco foda. E de diretores mais foda ainda.

“Queremos que estes filmes abram um precedente e que não sejam esforços únicos e que depois todo mundo deixe pra lá”, afirma ele. “Temos que ter super-heróis latinos, asiáticos. Quanto mais tipos de pessoas diferentes nestes filmes, mais você tem apelo para diferentes tipos de audiências”. Fica aí a dica pra Marvel, pra Warner, mas também pra FOX, pra Sony, pra Universal, pra Paramount e pra todo mundo que tá aí sonhando em construir seu universo cinematográfico compartilhado.

Para Fithian, no entanto, a aventura do povo de Wakanda também ajudou a mostrar que a diversidade e a recusa em se aceitar aquelas velhas regras que todo mundo sempre assumiu como verdadeiras podem estar refletidas na ousadia da data de estreia. “A norma tradicional sempre ditou que os grandes filmes só eram lançados ou no verão americano ou então no final do ano, preparando pro Natal. Mas com o Pantera Negra, provamos que, se o filme é bom, as pessoas virão assistir em qualquer período do ano”, completa, lembrando que os cinemas precisam de atrações de qualidade rolando ao longo dos 365 dias de atividade.

Como desafio final, ele ainda provoca: agora é hora dos estúdios aproveitarem que estão dispostos a apostar no novo, no diferente, e tentarem preencher uma lacuna. Porque, segundo os exibidores, estamos bem servidos de blockbusters imensos e suas toneladas de efeitos especiais; da mesma forma que, na outra ponta da balança, temos ótimas produções independentes, experimentais, daquele tipo que as temporadas de premiações amam.

Mas... E entre elas? E o meio? Como se preenche?

“Se você olhar os principais filmes dos últimos anos, vai ver que estão de um lado ou do outro. Mas não temos os intermediários, aqueles que um orçamento médio, por exemplo. Era um pouco disso que eu também queria ver mudar”.

É um executivo, cara. Um sujeito de terno e gravata, do tipo que tem um cartão de visitas com alguma nova sigla do momento no cargo e que desfila o bingo clássico do target, briefing, feedback, disruptivo, pensando fora da caixa. E mesmo este camarada tá lá, defendendo que a representatividade e a diversidade são boas.

Se você é daqueles idiotas que ainda não entenderam... bom, então você é um idiota mesmo e não tem jeito.