Rage Against The Trump | JUDAO.com.br

Há exatos 16 anos, a banda comandada por Tom Morello e Zack de la Rocha já tinha feito uma piada a respeito de Donald Trump candidato a presidente… e que agora virou coisa séria

Ah, a cultura pop. Às vezes parece apenas um inocente desenho animado mas, quando você se dá conta, lá estão os Simpsons prevendo o futuro e imaginando o quão possível seria o bilionário Donald Trump se candidatar à presidência dos EUA. Só que, imaginem vocês, não foram apenas os amarelinhos de Matt Groening que pensaram – e tiraram sarro – nesta hipótese. Vamos voltar para o ano 2000? No clipe de Sleep Now in the Fire, do Rage Against the Machine?

Conhecidos pelas posições políticas fortes e contundentes, além de letras incendiárias e provocativas, os caras resolveram fazer mais um clipe com uma mensagem incômoda para uma das canções mais conhecidas do álbum The Battle of Los Angeles (1999). E lá foram eles, para a frente da Bolsa de Valores de Nova York, sem pedir autorização para ninguém, tocar em alto e bom som uma canção sobre as ações do governo dos EUA em tempos de guerra, incluindo o bombardeio de Hiroshima e o uso do chamado agente laranja durante a Guerra do Vietnã.

Bateu polícia, os caras foram detidos, o diretor do clipe, um tal de Michael Moore (é, ele mesmo, o documentarista de Fahrenheit 9/11), foi preso durante uma hora e, como resultado da zona e da multidão que parou por ali para ver e participar do show improvisado, a Bolsa encerrou as atividades na metade do dia e fechou as portas.

O lance é que o clipe de Sleep Now in the Fire tem um clima de futuro (?) distópico, numa sociedade faminta por grana e alternando cenas da apresentação com sequências de uma sátira de show de auditório batizada de Who Wants to be Filthy F#&%ing Rich. E eis que, em certo momento, somos apresentados a um sujeito com um cartaz apoiando a campanha presidencial de Donald Trump, enquanto a letra sentencia “I’ll jail and bury those committed / And smother the rest in greed” (Vou prender e enterrar aqueles envolvidos / E sufocar o resto em ganância). Faz bastante sentido, eu diria.

Tá lá, por volta de 1:04.

É importante lembrar que, de outubro de 1999 a fevereiro de 2000, contudo, Trump teve sim um pequeno ENSEJO de campanha eleitoral para presidente, só que pelo chamado Reform Party, um partido fundado em 1995 por Ross Perot (aquele mesmo, que se meteu na disputa Bush/Clinton) para ser uma espécie de alternativa à dualidade Republicanos e Democratas. Mas, quando aquelas eleições enfim seguiram em frente, foi Pat Buchanan quem seguiu como candidato do partido e Trump continuou como um sujeito muito rico que, na época, só queria ser celebridade.

Ao mesmo tempo em que os fãs começaram a sacar esta cena e traçar o devido paralelo com os dias atuais, pintou uma espécie de piada – e na qual uma porrada de publicações especializadas caíram, aliás. Vivendo um eterno estado de “vai não vai”, com shows esporádicos aqui e ali, o RATM não lança nenhum álbum novo desde Renegades, de 2000. Mas aí alguém meteu na cabeça que, este ano, sairia Rage Against The Donald, um disco especialmente dedicado a criticar o aspirante a político. As músicas teriam títulos como Sleep Now Trump You’re Fired, Trump’s Bullshit On Parade, Trumpify e There Aint No Spray-Tan Here (GENIAL!). Todos, como você pode perceber, trocadilhos com nomes de faixas da própria banda que já existem.

ratm

Mas não se empolguem não. A notícia é falsa. Só que a banda, respirem bem fundo, ainda existe. Nunca acabou oficialmente. Aliás, ainda está em atividade. Ou quase isso. “Ainda somos uma banda e ainda podemos tocar de novo”, explicou o baixista Tim Commerford, em entrevista para a revista Rolling Stone. “Não temos nada agendado agora, mas nunca se sabe o que o futuro reserva. Pô, eu li outro dia na internet alguma coisa como ‘o baixista Tim Commerford, ex-Rage Against the Machine’. Qualé, foda-se, eu ainda toco baixo nesta banda!”.

Vale lembrar ainda que a última “turnê” mais ou menos estruturada dos caras rolou em 2010, quando inclusive passaram pelo Brasil e se apresentaram no finado festival SWU. Neste mesmo ano, eles acabaram apoiando a iniciativa de um grupo de fãs ingleses, que queriam que a música Killing In The Name fosse o single mais vendido do país naquele Natal, ao invés de algum campeão genérico do X-Factor naquele momento. A promessa de Zack de la Rocha e cia foi: se rolar, nós faremos um show de graça na Inglaterra para comemorar. Eis que aconteceu. O RATM então doou os lucros obtidos com as vendas da música para a caridade e fez uma apresentação histórica e totalmente gratuita, registrada em DVD no Live at Finsbury Park.