Criador de Arrow, The Flash e Supergirl está desenvolvendo mais uma série baseada em um super-herói da Casa do Superman – desta vez, em parceria com Mara Brock Akil (Being Mary Jane)
Parece que o rei do universo dos super-heróis do canal CW, o produtor executivo Greg Berlanti, não vai se cansar tão cedo de fuçar o baú de brinquedos da DC Comics. Responsável direto pela série do Arqueiro Verde, gerando o chamado Arrowverse que daria origem a The Flash, Legends of Tomorrow e que acabou de incorporar recentemente Supergirl, agora ele está desenvolvendo oficialmente para a TV a trama do Raio Negro.
Não parece ser por acaso que o anúncio venha justamente quando estamos a poucas semanas da estreia de Luke Cage, surgido nos quadrinhos na meda década que o Raio Negro. As séries de heróis do Berlanti são conhecidas por explorar um pouco mais a diversidade, mas era hora de dar um passo à frente, exatamente como aconteceu com a prima de Kal-El.
Talvez por isso, o projeto desta vez não é ao lado dos parceiros de crime que vemos sempre nos créditos de suas séries, Marc Guggenheim e Andrew Kreisberg. Berlanti foi buscar ajuda no casal Mara Brock Akil e Salim Akil, que vão ficar responsáveis inicialmente pelos roteiros. Mara é uma das criadoras de Being Mary Jane, drama estrelado por Gabrielle Union no qual ela interpreta uma jornalista, apresentadora de talk show, em busca do equilíbrio entre as vidas pessoal e profissional.
Black Lightning, a série do Raio Negro, é uma coprodução da Berlanti Productions e da Akil Productions em parceria com a Warner Bros TV, mas ainda está sendo negociada com algumas emissoras (é, as coisas lá são um pouco diferentes daqui). Especialistas dizem, no entanto, que a probabilidade de tê-la na programação do mesmo CW onde estão os outros combatentes do crime de Berlanti é bem grande.
Raio Negro não tem nada a ver com o Super Choque... Tirando que o Super Choque considera Raio Negro um ídolo e tem um pôster dele no quarto
Na segunda metade dos anos 1970, a DC estava realmente disposta a apostar e dar destaque a um vigilante mascarado negro. Mas a ideia original era um bomba em potencial: Black Bomber, um racista branco que, quando ficava nervoso, se tornava um herói negro (?). Enquanto você fica aí matutando sobre o quão merda é esta ideia, saiba que ela só não virou realidade porque o editor responsável por ela saiu da DC. Foi aí que Tony Isabella, que já tinha escrito Luke Cage pra Marvel, acabou convocado para salvar o dia e veio com o conceito do Raio Negro, que era algo no qual já trabalhava há algum tempo.
Jefferson Pierce foi um medalhista olímpico de ouro no decatlo – que, muitos anos depois, voltou com a esposa Lynn Stewart e a filha Anissa ao local onde nasceu para assumir o papel de diretor da Garfield High School. O bairro de Southside, na cidade de Metrópolis, tinha um apelido nada elogioso: Suicide Slum (ou, na versão em português, Beco do Suicídio). Foi ali que seu pai, o renomado jornalista Alvin Pierce, acabou brutalmente assassinado.
Embora originalmente o Raio Negro fosse descrito como um herói que usava um cinto que lhe permitia criar campos de energia e projetar raios de eletricidade, anos mais tarde, durante a saga Invasão, foi revelado que tudo era resultado de um gene metahumano latente. E foi por aí que a história Black Lightning: Year One , que conta as origens do sujeito, seguiu. Peter Gambi, velho amigo da família, ajudou o jovem Jefferson a INTERNALIZAR e manter escondidas as suas habilidades durante grande parte de sua vida, para evitar que alguém se ferisse. Mas assim que o cara volta para a vizinhança e reencontra Gambi, a história é outra.
Nas ruas, uma guerra de gangues está assustando a população. Depois que um de seus mais brilhantes estudantes se torna vítima da luta por território, Jefferson assume a identidade secreta de Raio Negro e se torna um combatente do crime. Grandes poderes, grandes responsabilidades.
Já ouviu isso antes?
Embora não se saiba muito bem quanta energia elétrica o Raio Negro pode gerar, tenha em mente aí que ele foi capaz de fazer o coração do Superman bater novamente depois que o Azulão sofreu uma exposição quase fatal à kryptonita. Seus campos de força são capazes até de repelir balas, além de conseguir criar campos eletromagnéticos de repulsão que lhe permitem voar. Junte a isso o fato de que suas capacidades de condicionamento olímpico foram aprimoradas por um treinamento com ninguém menos do que o Batman e você vai entender que ele é rápido e forte o suficiente para se garantir na porrada também sem seus poderes.
A relação do Raio Negro com o Batman, aliás, é bastante profunda. Depois de um incidente envolvendo a morte acidental de uma pessoa, o herói acabou perdendo suas habilidades elétricas. E foi o Morcegão que descobriu que se tratava de uma questão psicológica e o ajudou a recuperá-los, a tempo de dar uma força para resgatar Lucius Fox na Markovia. Como resultado, Raio Negro acabou convocado para o time liderado pelo Morcegomem, os Renegados, ao lado de gente como Geoforça, Halo, Metamorfo e da Katana (aquela mesma do Esquadrão Suicida).
Depois de recusar uma vaga na Liga da Justiça em algum momento dos anos 1980, convidado pelo Arqueiro Verde, o Raio Negro acabou se tornando integrante do time na fase escrita por Brad Meltzer (de Crise de Identidade). Mas, no começo dos anos 2000, Jefferson Pierce assumiu um cargo ainda mais duro: secretário de educação do governo dos EUA, na gestão do presidente Lex Luthor (é, isso aconteceu mesmo). A intenção era fazer um trabalho mais efetivo estando dentro do sistema do que fora dele. Mas depois que Pete Ross, vice de Luthor e outrora melhor amigo de Clark Kent, assume a Casa Branca, ele acaba saindo – afinal, sua identidade como Raio Negro é considerada “o segredo mais mal-guardado de Washington”.
Recentemente, no reboot dos Novos 52, o Raio Negro reapareceu na revista DC Universe Presents numa versão bastante similar à original, batendo de frente com o Demônio Azul. Logo depois, o herói entrou na mira para se tornar um possível recruta para a Nova Liga da Justiça.
Segundo a sinopse da futura série, Jefferson abandonou a identidade heroica há algum tempo mas, por causa de problemas com a filha e uns malucos, é obrigado a tirar o uniforme do armário e voltar à atividade. Nas HQs, na verdade, o Raio Negro tem DUAS filhas, ambas herdando geneticamente os poderes do papai. A mais velha, Anissa, chegou inclusive a assumir a alcunha de Tormenta (Thunder) e até entrou para os mesmos Renegados dos quais seu pai fez parte. Já a mais nova, Jennifer, também se tornou super-heroína: Rajada (Lightning) foi convocada para fazer parte da Sociedade da Justiça da América e até apareceu, numa versão futura, em O Reino do Amanhã, a histórica série escrita por Mark Waid e ilustrada por Alex Ross.
Mas sabe de quem o Raio Negro NÃO é pai? Do jovem Static, conhecido por aqui pelo nome do desenho animado que estrelava, Super Choque. A questão de ambos serem negros e dos poderes serem similares fazia com que Jefferson fosse constantemente questionado sobre os dois serem parentes – como ele revela, meio contrariado, em Justice League of America vol. 2 #27. Criação da Milestone Comics, o Static fez durante muito tempo parte do panteão da DC e chegou, inclusive, a ser integrante dos Novos Titãs. Em sua passagem pela equipe de jovens heróis, descobrimos que o Raio Negro é uma espécie de ídolo para o garoto, que tem até um pôster do camarada em seu quarto na Torre Titã.
Até metalinguisticamente, vejam vocês, dá para dizer que a representatividade importa sim. Ainda bem que o Berlanti parece saber bem disso. ;)