RavenBlack Project: “não faz sentido nos comparar com o Avantasia” | JUDAO.com.br

O guitarrista italiano Riccardo Bacchi, responsável pela iniciativa, faz questão de deixar claro que esta não é mais uma ópera metal – até porque nem é um álbum APENAS metal

Quando o líder do Edguy, Tobias Sammet, resolveu realizar um sonho de adolescência e criar um disco conceitual trazendo alguns de seus heróis musicais para uma espécie de ópera heavy metal, retomando o clima de álbuns clássicos como o lendário Bat Out of Hell (do Meat Loaf, lançado em 1977), nem ele conseguiria imaginar a repercussão que teria. O tal do Avantasia arrebatou uma nova geração de fãs que nem sequer conhecia o Edguy. Chegou até a ganhar a simpatia de quem nem gostava de rock pesado. E abriu o caminho para que um público mais amplo conhecesse outros projetos similares.

Do ótimo projeto brasileiro Soulspell, passando pelo igualmente interessante Ayreon (do multi-instrumentista holandês Arjen Anthony Lucassen) e chegando ao genérico pastiche de Avalon, do finlandês surtado Timo Tolkii, todo mundo se beneficiou da popularidade do Avantasia.

Logo, era de se esperar que assim que foi divulgada a bela power ballad “The Faithless and The Dreamer”, um dueto entre o brasileiro André Matos e o gênio Jon Oliva (Savatage) a respeito dos atentados de 11 de setembro, uma excitação surgisse entre os fãs do Avantasia. “Ôpa, vem uma nova ópera metal por aí?”. Por mais bela que seja a canção do chamado RavenBlack Project, no entanto, a comparação com a obra de Sammet não faz qualquer sentido. “Meu projeto não tem nada a ver com o Avantasia, exceto por alguns dos convidados envolvidos”, explica o mentor, o guitarrista italiano Riccardo Bacchi, em papo exclusivo com o JUDÃO. “Não é um álbum conceitual, não é power metal, é completamente diferente”.

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Ele explica que este primeiro disco do RavenBlack Project, Breaking Through The Mist, traz cada canção como um capítulo próprio, uma história fechada em si, sem a necessidade de que cada uma seja um pedaço de uma trama maior – o que faz com que cada faixa tenha uma vibração musical própria. “Você vai de uma canção tipo rock dos anos 70 para uma balada medieval celta, pulando então para uma faixa agressiva tipo Zakk Wylde e indo parar em uma música acústica com piano e uma doce voz feminina. É por isso que chamei de ‘projeto’. Trata-se de um sumário de minhas influências musicais”, conta Riccardo.

Quando o músico usa o pronome possessivo, não está brincando: RavenBlack Project é um projeto dele MESMO. Apesar de seus muitos anos de experiência e de estrada, Riccardo considera este álbum como sendo seu disco de estreia. “Eu produzi tudo sozinho, desde as composições até a arte da capa”. Apaixonado por música desde os 14 anos, o italiano não começou a sua trajetória com o rock mais pesado, como se poderia supor. Seu primeiro professor o fez enveredar inicialmente pelo rock com um sabor mais blues, como Stevie Ray Vaughan e Jimi Hendrix. Só depois é que ele descobriria Pink Floyd, Led Zeppelin, AC/DC e Deep Purple. “O guitar hero que mais me influenciou continua sendo Ritchie Blackmore”, confessa Riccardo. Aliás, foi graças a Blackmore que o RavenBlack começou. Pelo menos indiretamente.

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Riccardo Bacchi

O California Jam, uma das bandas com as quais Riccardo Bacchi trabalha e excursiona atualmente, começou como um projeto tributo ao Purple antes de se tornar algo maior, uma experiência para celebrar o rock setentista e de gosto psicodélico. Mas a relação com a sonoridade do Purple fez com que o guitarrista ficasse relativamente conhecido na Europa e fosse convidado, em 2007, para escrever uma canção original, inspirada claramente no Deep Purple, para um álbum tributo a Richie Blackmore que seria lançado por um fã-clube norueguês do Blackmore Night – a atual banda de Ritchie ao lado de sua esposa, Candice Night.

“Eu não tinha uma banda de verdade comigo naquela época, então aproveitei a chance e entrei em contato com alguns dos meus músicos profissionais favoritos”, revela. “A inspiração que veio daquela experiência me fez querer escrever e gravar mais e mais”. Logo, uma série de canções estavam compostas, alguns amigos foram chamados ao estúdio para trabalhar nestas ideias e o material passou a tomar a forma de um disco. “Já que os músicos que se juntaram ao projeto eram alguns dos melhores que eu conhecia, logo pensei – por que não convidar também alguns dos meus cantores favoritos?”. Pensamento ousado. Mas ele teria que tentar.

O primeiro nome no qual Riccardo pensou foi seu cantor de heavy metal preferido, André, a voz clássica do Angra. “Em outubro de 2007, ele estava em turnê pela Itália e acabamos tocando juntos em um show perto da minha cidade natal. Nos conhecemos pessoalmente depois da apresentação, perguntei se ele estaria disponível para gravar uma música minha... trocamos mensagens, ele gostou da faixa e transformou um dos meus sonhos em realidade”. Mais confiante depois do primeiro acerto, ele foi cara de pau e falou com alguns por e-mail mas acabou, eventualmente, tendo a chance de conhecer todos cara a cara.

Além de Matos e Oliva, o disco conta justamente com a grande “musa” do Avantasia, Amanda Somerville; com Mark Boals (ex-Royal Hunt e Yngwie Malmsteen, atual Labyrinth); com James Christian (House of Lords); e com Doogie White (que já passou pelo Rainbow, pela banda de Malmsteen e atualmente canta à frente do Michael Schenker Group). “Nosso terceiro single, The Ancestral Call, traz um dueto entre Doogie e Amanda. Aqui, você não vai ouvir aquelas linhas vocais agressivas e gritadas que ele faz no hard rock; você vai, isso sim, descobrir que ele pode ser um grande intérprete místico e teatral – talvez seja algo que você nunca ouviu antes... e que vai te impressionar positivamente”.

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Doggie White

Visivelmente empolgado e feliz com o resultado final desta primeira bolacha — que ele ainda não sabe se vai ter continuação ou tampouco uma turnê de divulgação, “tudo vai depender do sucesso deste disco” – Riccardo fala do projeto com paixão, acreditando que esta é uma chance de ouvir grandes cantores interpretando canções tão diferentes. “Você pode redescobrir estes artistas sob um diferente ponto de vista”, opina. “Eu gosto de considerar que a música não é competição. É algo que ultrapassa fronteiras e une as pessoas”.