The Getaway segue em frente com o som da banda, que amadurece junto com ela
O Red Hot Chili Peppers não é uma daquelas bandas que inunda o mercado de músicas novas de forma constante. Em mais de 30 anos de carreira, são 11 álbuns – sendo apenas três nos últimos dez anos. Por isso, o lançamento de The Getaway, que rolou na última sexta (17), é um daqueles eventos raros na história da música.
The Getaway também representa o segundo álbum com a presença do guitarrista Josh Klinghoffer, depois de I’m With You. Até hoje, apenas John Frusciante e o cofundador Hillel Slovack tinham participado de dois ou mais álbuns de estúdio do RHCP.
Apesar do Frusciante ter deixado algumas viúvas entre os fãs mais xiitas, o fato é que a guitarra do Klinghoffer representa uma evolução importante no som dos caras. Ele não traz uma ruptura tão grande quanto foi, por exemplo, ter o Dave Navarro na banda, mas ajuda o RHCP a chegar em novos lugares, mais melódicos (e menos ~poderosos), seja pelos riffs ou até pelos bons backing vocals que faz.
O resultado de The Getaway é como se o funk e o rock tivessem encontrado o jazz. Uma união improvável, que rende melodias como as de We Turn Red, The Longest Wave, Goodby Angels, Encore, The Hunter e Dreams of Samurai. As músicas também estão um pouco mais pra baixo, reflexo do fim de um relacionamento de dois anos do vocalista Anthony Kiedis, principal responsável pelas letras.
Ainda assim, o álbum começa mais ágil, com o impressionante baixo de Flea e a bateria de Chad Smith entregando um clássico funk na faixa-título The Getaway. Depois vem Dark Necessities, o primeiro single – e também do primeiro clip, com toda a força clássica da banda. O começo, em uma progressão sonora, chuta bundas e parece que vai fazer quem tá ouvindo levantar de qualquer queda. A letra é, como quase sempre, uma reflexão pessoal do Anthony Kiedis. “Dark necessities are part of my design / Tell the world that I’m falling from the sky”, diz ele, que tem todo um longo histórico com drogas e o fundo do passo, demonstrando que o primeiro passo pra superar seus próprios fantasmas é entender que eles são parte de você.
O álbum guarda duas importantes surpresas. A primeira delas é que não é o Flea que toca o baixo em The Hunter, mas sim Kinghoffer. Apesar do instrumento diferente, o cara manda bem – recebendo até o elogio do Chad Smith, que disse em entrevista que o parceiro acabou soando parecido com o Paul McCartney. Bom, fica difícil numa música só fazer uma análise mais profunda, mas realmente há uma clara inspiração ali...
A outra é a presença de Reginald Kenneth Dwight, o primeiro e único Sir Elton John. O músico britânico ajudou na composição de Sick Love, na qual também toca piano. A canção poderia ter saído facilmente de álbuns como Blood Sugar Sex Magik ou Californication, com uma pegada clássica pra banda, só que com a adição de um belo som no piano que só Elton John poderia fazer.
Uma pegada AINDA MAIS clássica aparece em Go Robot, com um baixo do Flea extremamente presente, rolando também uma percussão pra deixar clara a evolução sonora do RHCP. De acordo com o baixista, houve inspiração no trabalho do Prince em Controversy na hora de compor esta canção.
E toda essa mistura termina com Dreams of Samurai, que tem um pouco do DNA do álbum One Hot Minute e diz, na letra, “I don’t know why I got a metamorphosis samurai”. Dá pra usar essa mesma expressão de “samurai metamorfo” pro próprio som do Red Hot Chili Peppers.
Há 30 anos, a banda começou como uma verdadeira balada em LA regada a som alto, bebida e cocaína. Depois, passou a ser como um dia de Sol em Venice. Hoje, evoluiu para uma viagem de carro conversível (com a capota recolhida, por favor!) pela Interstate-5, curtindo o Sol do final de tarde da Califórnia e o mar alaranjado ao seu lado.
Uma sensação ótima. ;)