Relembrando 31 de março. Mas de 1999. | JUDAO.com.br

How long? Not long. ‘Cuz what you reap is what you sow.

“Elas não sabem que estão presas”, Morpheus disse para o programador assustado.

“Qualquer um que consiga sair, se quiser voltar e contar a todos o que viu lá fora vai encontrar resistência. As pessoas estão tão acostumadas com a escuridão da caverna, com suas correntes, com as sombras na parede, que qualquer coisa que se desvie da norma vai soar como loucura. Uma loucura perigosa”. Isso disse Platão ao explicar, dentro do seu Mito da Caverna, porque as pessoas que estão acorrentadas numa cosmovisão matariam para manter aquelas correntes intactas.

Mas Morpheus deu o empurrão necessário para que Neo caísse pelo buraco do coelho. E do outro lado, através do espelho, Neo encontrou a verdade.

E disse Jesus que a verdade iria libertar.

Se estamos todos nós presos, quer seja num sistema, numa realidade, numa forma de encarar o mundo, se alguém aponta a descoberta da libertação, por que tanta gente luta tanto para permanecer presa? É medo? Preguiça? Conforto? É o bife que não é bife?

As irmãs Wachowski, em 1999, ousaram perguntar o porquê. Usando a linguagem do sci-fi, do aníme, do filme de ação, do videogame, criaram o maior clássico moderno do cinema de ficção científica. Um filme sobre a humanidade escravizada e os poucos maltrapilhos que se sacrificam para mostrar para a máquina que ela não vai ter um dia fácil.

A mensagem não poderia ser mais humana.

Todo mundo se sente preso, quer seja por sua fisicalidade, quer seja por suas limitações sociais. As próprias Wachowski trabalharam, de lá pra cá, para se libertar do que entendiam ser uma prisão pessoal. Muita gente é prisioneira de vício. Muita gente é prisioneira emocional. Tem quem é prisioneiro de guerra, ou político, ou simplesmente prisioneiro de quem está à sua volta.

A sede por libertação faz parte da linguagem universalmente entendida. Da esperança de que haverá um dia em que não estaremos mais acorrentados àquilo que nos assola. Um trabalhador mal pago entende. Quem sofre de doença mental entende. O perseguido por conta da cor de sua pele entende. A mulher, praticamente em todas as instâncias, entende.

E então o filme nos ensina que, se a realidade é virtual, nossa maneira de interagir com ela é relativa. Neo aprende Kung-Fu. Aprende a voar. Aprende a esticar sua mente para abranger mundos novos. Evolui.

O planeta no qual Matrix estreou mudou. E por Matrix foi mudado. Há até quem dê valor científico para a ideia de que estamos MESMO vivendo em uma simulação. Há quem se inspire por este e outros filmes e olhe para “o sistema” com S maiúsculo com os olhos de quem não aceita mais servir de bateria.

Neo termina o filme dando uma escolha para o Sistema. Ele pode aprender a evoluir junto com as pessoas ou esperar sentado as pessoas acordarem. Elas estão acordando. E vão acordar com fome.

Tem gente que usa o 31 de março para celebrar correntes. Para pintar de dourado, verde e amarelo o interior da caverna. Passa ano, passa década, passa boi e passa boiada, os fiéis súditos das máquinas ainda têm voz. Uma voz mais perigosa, insistente e perversa do que se pode imaginar.

Porém, no dia 31 de março de 1999, 21 anos atrás, Matrix estreou nos cinemas americanos.

É isso que eu vou comemorar.

How long? Not long. ‘Cuz what you reap is what you sow.