Dora e a Cidade Perdida sabe exatamente qual seu público e fala muito bem com ele | JUDAO.com.br

Um filme que vai divertir o público que assistiu ao programa quando criança, mas também é um bom entretenimento para adultos que vão pegar pequenas mensagens especialmente para eles.

Se você era uma criança em 2000, muito provavelmente você passou algumas horas assistindo a um desenho chamado Dora, a Aventureira. Nele, a personagem do título e seu macaco de estimação chamado Botas quebravam a quarta parede e conversavam com o telespectador, os ensinando a falar inglês e/ou espanhol, nas versões originais do desenho. Com o foco em crianças que estavam na fase pré-escolar, Dora, a Aventureira fez tanto sucesso que esse formato onde os personagens falam com o público foi usado em diversos desenhos nos anos seguintes.

Depois de uma quantidade considerável de produtos licenciados, como brinquedos, jogos, peças de teatro e muitos livros, o universo de Dora ganhou sua primeira versão em live action como uma continuação do desenho original em Dora e a Cidade Perdida, que chega aos cinemas essa semana aqui no Brasil. Agora adolescente, Dora (Isabela Merced, que antes era conhecida como Isabela Moner) passou sua vida explorando a selva com sua família e se sentindo confortável em ter apenas animais como amigos. Mas, chegou um momento em que seus pais, Elena (Eva Longoria) e Cole (Michael Peña), acreditam que a garota precisa explorar o mundo além da floresta e conviver com outras pessoas, numa cidade, com escola, enquanto eles se envolvem em uma exploração na selva peruana atrás de um artefato misterioso.

Enviada para Los Angeles para morar seu primo Diego (Jeff Wahlberg), a nova aventura de Dora – e a mais perigosa de todas – é enfrentar o ensino médio, em que suas habilidades sociais serão colocadas em prática. Sendo tão diferente dos jovens da sua idade, a relação entre Diego e Dora fica estremecida quando o adolescente já acostumado com a selvagem vida escolar sente vergonha pela personalidade BORBULHANTE da prima. Mas quando eles acabam sendo sequestrados com outros dois colegas de classe (Madeleine Madden e Nicholas Coombe), Dora e seus novos e relutantes amigos são sequestrados e levados para a tal selva peruana, onde ela descobre que seus pais estão em perigo.

Como sabemos, Hollywood é aquele lugar onde propriedades intelectuais dificilmente perdem a chance de serem exploradas, mas nem sempre as adaptações funcionam como deveriam, o que não é o caso de Dora e a Cidade Perdida — um filme que sabe exatamente quem é o seu público e o que deve oferecer pra ele. Escrito por Matthew Robinson, Nicholas Stoller e Tom Wheeler, os roteiristas souberam unir todos os elementos importantes do desenho ao mundo real, criando uma linguagem única.

Com direção de James Bobin, o longa dificilmente funcionaria se todos os elementos do desenho original fossem simplesmente transferidos para uma versão live action, porque a história poderia parecer uma versão cinematográfica requentada do que foi feito antes. Mesmo que a versão live action não seja sobre duas crianças felizes andando sozinhas com seus amigos animais por uma floresta ensinando espanhol com o auxílio de objetos antropomórficos – gracias a dios por eso! -, Dora e a Cidade Perdida ainda abraça todas essas características e se diverte incluindo cada uma delas na história.

Essa é a grande sacada de Dora e a Cidade Perdida, a brincadeira com esses elementos importantes e o uso deles comicamente, sem nunca desrespeitá-los, já que eles fazem parte de quem a protagonista é. Enquanto no desenho era normal ver Dora falando com a câmera e esperando a resposta do público, os pais de Dora acham divertido – e um tiquinho preocupante – que a filha converse com um público inexistente. Essa atitude peculiar não muda quando Dora cresce, mas como uma boa adolescente da geração Z, ela usa uma câmera para perguntar ao seu público se ele sabe falar palavras como “neurotoxicidade” – o olhar meio maníaco é um detalhe que faz toda a diferença.

Outro ponto importante para embarcarmos nessa história é a forma como Mercer entrega uma protagonista que poderia ser irritante com sua alegria incansável, mas Dora é divertida, inteligente e doce na medida certa. A personagem se enquadra naquela categoria em que protagonistas ingênuos se envolvem em uma grande aventura e nos levam com ela – as canções bobas criadas pela personagem vão ficar na sua cabeça por dias.

Ao mostrar seus principais tropos com humor, Dora e a Cidade Perdida se torna um filme que vai divertir o público que assistiu ao programa quando criança, mas também é um bom entretenimento para adultos que vão pegar pequenas mensagens especialmente para eles. Com uma exploradora habilidosa e inteligente e uma equipe que precisa aprender a lidar com seus limites, Dora e a Cidade Perdida tem inimigos diabólicos, puzzles que devem ser resolvidos com inteligência, piadas escatológicas e a busca por um objeto de grande valor arqueológico – é basicamente um encontro entre Indiana Jones e Jumanji para crianças e pré-adolescentes.

É improvável que Dora e a Cidade Perdida seja um filme para o adulto que nunca viu Dora, a Aventureira na vida, mas uma personagem tão PLURICULTURAL é exatamente o que as crianças dessa geração precisam.