Nem sempre um filme é feito para todos os públicos e vida que segue.
Lançado em 2014, Malévola não foi exatamente uma unanimidade entre os críticos, mas conseguiu ficar na oitava posição entre as melhores bilheterias daquele ano e se tornou o filme live action de maior bilheteria da carreira de Angelina Jolie. Reintroduzido uma das vilãs mais icônicas do cinema, a história é vagamente inspirada no conto de fadas original de Charles Perrault e na animação A Bela Adormecida, lançada em 1959.
Com números tão bons, dificilmente a produção não ganharia uma sequência e é exatamente isso que chega aos cinemas nessa quinta-feira (17): Malévola: Dona do Mal. Dirigido por Joachim Rønning, a história se passa alguns anos após os acontecimentos do primeiro filme e segue Aurora cuidando do seu reino após sua coroação. Apesar dos seus esforços, ainda existe ódio, medo e ressentimentos entre humanos e fadas, e o iminente casamento entre Aurora e o príncipe Phillip pode mudar isso. MAS, quando uma reunião em família para celebrar a união dá terrivelmente errado, Malévola e Aurora ficam em lados opostos do conflito.
Escrito por Linda Woolverton – a Midas da Disney desde a versão animada de A Bela e a Fera -, Noah Harpster e Micah Fitzerman-Blue, Malévola: Dona do Mal não é exatamente o título mais apropriado para esse filme, já que a protagonista não é a vilã que conhecemos na animação original. Esse título pode confundir quem espera que a personagem finalmente siga esse caminho, mas essa virada não acontece. A continuação desse universo está recheado de desentendimentos familiares que colocam mãe e filha em diferentes lados e fazem Malévola conhecer mais sobre seu propósito.
Malévola: Dona do Mal tem todos os elementos mais tradicionais dos contos de fadas do estúdio, desde a doce e gentil princesa, um pretendente da realeza tão doce quanto, personagens secundários que entregam a dose certa de humor e uma clara antagonista que é o suprassumo da vilania. Sem a preocupação em criar um enredo complexo, essa não é exatamente uma história inesquecível ou uma incrível adição aos live actions do estúdio.
Trata-se de uma clássica história da Disney em que o amor é testado quando pessoas maliciosas decidem agir, mas no caso desse filme, a relação de amor abalada é a de mãe e filha. Quando Aurora aceita se casar com Phillip e Malévola é convidada para conhecer a família do noivo, suas habilidades sociais desajeitadas ficam bastante óbvias, mas o amor por sua filha fala mais alto. Ao perceber que poderá perder Aurora para outra família, pequenos traços da sua tradicional personalidade vilanesca aparecem.
Com um foco bastante óbvio nos mais jovens, esse é o público que vai se divertir com o humor ingênuo e despretensioso que a Disney se especializou em todos esses anos de existência. Ao se apoiar na construção feita no primeiro filme, Malévola: Dona do Mal não precisa fazer novas grandes apresentações para dar continuidade à esse universo. Essa narrativa modesta é ótima para o público infantil, que geralmente lembra de histórias simples onde o bem e o mal são claramente opostos e podem ser facilmente identificados.
Não é difícil imaginar que o filme possa ser um pouco maçante para o adulto que levará seus filhos, sobrinhos ou agregados ao cinema ao seguir uma narrativa previsível e sem muita profundidade, apoiada em temáticas bastante reconhecíveis para qualquer público. Pegando um caminho narrativo seguro, não existe a preocupação em criar um suspense ou tensão para a história. Portanto, dificilmente o público mais experiente se surpreenderá com os rumos que o filme toma. Sem uma história surpreendente, as sequências de ação poderiam entregar algo mais interessante visualmente, mas o excesso de CGI e os movimentos de câmera óbvios impedem que isso aconteça.
Sendo um filme sobre uma vilã – ou quase isso, já que a história é bastante ambígua sobre a personalidade da protagonista, algo um tanto curioso quando o assunto é contos de fadas -, o enredo precisou introduzir alguém mais maligno do que ela para que o público possa torcer pela personagem sem qualquer peso na consciência. O ser maligno do novo filme é a preconceituosa e um tanto sanguinária rainha de um reino ao lado, a futura sogra de Aurora, interpretada pela sempre maravilhosa Michelle Pfeiffer.
No último terço da fita, a narrativa se preocupa em passar uma mensagem bastante clara, e óbvia, sobre a importância da união independente das diferenças. Novamente, esse é um filme da Disney. Crianças precisam de mensagens e lições morais mais diretas do que análises profundas sobre construções sociais.
Nem sempre um filme é feito para todos os públicos e tudo bem. Do mesmo jeito que nós, adultos, podemos nos deliciar vendo filmes com enredos complexos e narrativas profundas, as crianças também podem se divertir com uma história simples e apropriada para suas respectivas idades.