Primeira obra do escritor Leo Lopes chega às telonas em breve, com um elenco que tem gente como Thiago Lacerda, Alinne Riscado e o americano Michael Madsen
Só hoje, aos 40 anos, formado em duas faculdades (publicidade e direito) e sócio da sua própria empresa, é que Carlos Leonardo Souza Lopes, escritor que atende pela alcunha de Leo Lopes, consegue refletir onde surgiram as primeiras sementes de seu livro, Rio: Zona de Guerra, a primeiríssima obra publicada pela aquela que era a ainda nascente AVEC Editora.
“Eu fui criado até os dez anos em Brasília e mais tarde vim direto para um condomínio na Barra da Tijuca, onde resido há aproximadamente trinta anos”, conta Leo, em entrevista exclusiva para o JUDÃO. “Até então, era uma vida meio sem conexão com o mundo real, mas os meus pais, sabiamente, me mandaram correr atrás quando aos dezessete anos passei no primeiro vestibular para uma faculdade no subúrbio do Rio. Minha rotina passou a ser a de pegar um ônibus até Cascadura e depois o trem em direção à Central do Brasil para saltar em Piedade. Foi esse contato que foi reforçando em mim essa percepção das diferenças sociais que existiam e o abismo que separava a minha realidade daquelas pessoas que se espremiam logo de manhã cedo para começar suas rotinas diárias”, explica, ao deixar claro que “aqueles anos de faculdade formaram o embrião do livro na minha cabeça”.
Rio: Zona de Guerra é seu primeiro trabalho publicado, lançado primeiro em formato digital pelo próprio autor para o Kindle, na Amazon americana, em 2010. Um grande amigo do Leo, o quadrinista Márcio Fiorito (Dynamite Entertainment, Titan Comics), indicou a obra para o editor Arthur Vecchi, que estava estruturando a AVEC. O resultado? Em 2014, o livro ganharia sua versão impressa. Leo descreve a obra como um livro clássico de detetive, só que ambientado num futuro distópico. “Eu mesmo, quando do primeiro lançamento em mídia digital, tinha usado a classificação da Amazon conhecida como hard-boiled, em função da violência e de um certo conteúdo sexual em algumas cenas”, conta. “O caso é que, conforme o livro foi sendo recebido pelos leitores, ele passou a ser classificado como um livro com pegada cyberpunk”.
A história conta como seria o Rio de Janeiro se a realidade de violência e desigualdade social fosse levada ao extremo “num futuro não tão distante”. O protagonista é um detetive que escolhe, por vontade própria, ficar ao lado daqueles que foram colocados à margem da sociedade, exilados numa área sem presença do Estado conhecida como Zona de Guerra. “Ao ser contratado para investigar um suposto assassinato dentro da área controlada pelas megacorporações multinacionais e protegida pelos muros fortificados da fronteira, ele se vê envolvido numa trama sinistra que pode acabar abalando a própria ordem social daqueles dois mundos separados”, conta, sem querer dar spoilers de seu próprio livro. :D
Embora ache difícil listar suas influências, de Stephen King a Patrick Rothfuss (“eu adoro Isaac Asimov e, na infância, era apaixonado pelos livros da Coleção Vagalume”), ele lembra que, na época que estava escrevendo Rio: Zona de Guerra, alguns anos atrás, leu vários livros seguidos da escritora Tess Gerritsen, que foca em romances policiais protagonizados por uma médica legista. “Muito mais por uma predileção da minha mulher, que é médica, do que por um amor meu ao gênero”, brinca.
Enquanto trabalha “a passos de tartaruga” em três materiais distintos, três histórias já começadas que vão mais pro lado de ficção de fantasia, suspense e terror, ele se vê realizando um sonho que, pelo que conhecia da realidade do mercado de entretenimento brasileiro, lhe parecia simplesmente impossível – Rio: Zona de Guerra vai virar filme. O Arthur, da AVEC, indicou a leitura para um amigo dos tempos de colégio, que hoje é diretor da Rede Globo. O cara curtiu. Entrou em contato primeiro com uma série de TV na cabeça, mas depois a ideia do longa-metragem acabou ganhando mais força.
O tal sujeito, que inclusive já assumiu o papel de diretor do filme, é Alexandre Klemperer. Com novelas como Salve Jorge no currículo, atualmente ele está dirigindo Se a Vida Começasse Agora, que tem as várias edições do Rock in Rio como pano de fundo. A produção ficará a cargo de Frederico Lapenda, brasileiro radicado há mais de 25 anos em Los Angeles que foi notícia recentemente depois de fechar um programa de TV baseado no documentário With Great Power: The Stan Lee Story, a respeito da vida do bom velhinho da Marvel. “O Lapenda diz que o filme pode ser um marco para o cinema brasileiro, tanto em função do tema ficção científica quanto dos recursos e efeitos que são planejados”, diz.
Por enquanto, ainda não existe previsão de lançamento. “Acho que deve demorar um pouco ainda. Fui descobrindo que toda essa parte de pré-produção é bem lenta”, conta o escritor. “O que sei é que o contrato entre o detentor dos direitos e o produtor já está assinado. Nas minhas conversas com o diretor, o sonho era começar a filmar no segundo semestre desse ano, mas acho que é otimismo demais. Acho que em algum momento de 2017 é mais realista”. Mesmo assim, ele revela que participou de todo o processo inicial, escrevendo a primeira versão do roteiro junto com Klemperer e chegando inclusive a dar seus “pitacos” no elenco.
“Gostei de tudo. Claro que não é nada com contrato fechado ainda, mas fui informado que já temos cartas de intenção da maioria dos atores”. Esta maioria inclui, além do americano Michael Madsen – de Cães de Aluguel, um dos queridinhos de sempre do Tarantino – nomes como Thiago Lacerda (no caso, o protagonista), Sérgio Loroza, Anna Flavia Lapenda, Fernando Caruso e Aline Riscado (ex-bailarina do Faustão, atual Pânico na TV e lembrada como a Verão de uma ceeeeeerta marca de cerveja). Adriano Garib, o vilão Russo de Salve Jorge e que foi justamente aluno de Aline no quadro Dança dos Famosos, também estará neste time de atores.
Leo conta ainda que sente que tem “alguma coisa maior conspirando para que tudo dê certo nesse projeto”. Embora tenha sido “orientado” a não dar mais detalhes, ele solta pra gente em primeira mão que estava copiado num e-mail de uma grande distribuidora nacional que teve acesso ao roteiro inicial dizendo que tinha, sim, muito interesse em distribuir Rio: Zona de Guerra. “Não posso divulgar ainda o nome da empresa nem dos envolvidos, mas acho que essa é uma das partes mais adiantadas”, afirma, para depois provocar. “Agora só falta o filme”. ;)