It’s only rock n’ roll. Ou, pelo menos, deveria ser.
“Beijinho no ombro”.
Sim, Mick Jagger disse essa frase no meio do show da última quarta-feira (24).
Ele não deve ter ouvido os descalabros que eram conversados em parte da plateia pouco antes do show, como “debates” sobre a inexistência de necessidade de cotas e bolsas de qualquer ordem (sim, as pessoas vão no show da maior banda da história e se dão ao trabalho de falar sobre este tipo de coisa, parece não existir outra natureza de assunto para parte considerável da classe média paulistana) ou o grito de “Ei, Dilma, vai tomar no cu!”, entoado por parte do público.
No entanto, a citada frase de Valesca Popozuda cairia como uma luva nesses casos.
https://www.youtube.com/watch?v=WVve-iOuswM
A verdade é que as pessoas pensam com cabeça de Facebook onde quer que estejam e estão sempre prontas para sacar da cartola algum comentário desnecessário sobre algo que não entendem. Dessa vez, após o sensacional show de abertura dos Titãs, que fizeram declarações como “Rita Lee já dizia que no Brasil roqueiro tem cara de bandido, por algum tempo não foi assim, mas agora precisamos voltar a ter” ou o grito de guerra de Branco Mello após tocarem Polícia: “Fardado, você também é explorado!”, parte da plateia colaborou com gritos de “Fora, Alckmin!”.
O público, formado majoritariamente por gente de bens, não parecia estar tomado por essa ideia de debater política, e estavam certos, a gente tava lá pra ver os Rolling Stones, caralho. Ainda me surpreende essa parcela da população que, seja no ônibus, na fila do pão, na pizza de domingo, no boteco, na sala de estar do cunhado, na aula, lavando a mão em um banheiro público ou no show mais espetacular do mundo, dá um jeito de comentar de forma pejorativa a conquista de direitos de alguém, como se isso estivesse em discussão.
Disco riscado, véio. Deviam ter estudado mais Rolling Stones antes do show para ter assunto.
Aprendé a bailar como Mick Jagger
Un rolinga te enseña a bailar como Mick Jagger.YouTube.com/Pilo
Publicado por Pilo em Sexta, 5 de fevereiro de 2016
Aliás, acabou o show, estávamos eu, meu pai e minha mujer extasiados, meio sem saber direito como viver fora daquele que acabara de se tornar o melhor show das nossas vidas, um cara olhou pra minha cara e falou: “Legal, né? Um público formado só por gente diferenciada, você não vê uma pessoa esquisita”. GENTE DIFERENCIADA. Sérião.
Eu devia ter feito uma resenha do show, tô ligado, ao invés de ficar falando dessa gente babaca que só faz encher os pacovás da gente, mas esse é meu meio de pedir que vocês não sejam essas pessoas.
Falem de rock quando forem a um show de rock, não falem de bolsa família, de cotas para negros e pobres, do salário da empregada, etc. Aliás, falem de rock sempre, ouçam muito Rolling Stones.
Na minha cabeça, aquele show foi baile de favela total. Ignorei os caras e dancei como um xarope, rolinga absoluto, amando quem tava ali comigo e lamentando por quem não podia estar onde eu queria ficar para sempre.
https://www.youtube.com/watch?v=DyYJZ71tD58