Irmãos Russo confirmam algo que já estava na cara no final de Capitão América: Guerra Civil, mas isso nos permite pensar um pouco mais sobre o futuro do Primeiro Vingador na tela grande
O escudo caiu. A bandeira parou de tremular. A luta mudou. Nos cinemas, Steve Rogers não é mais o Capitão América.
Já dava pra enxergar isso depois do final de Capitão América: Guerra Civil, com o personagem devolvendo o escudo famoso para Tony Stark, mas agora é oficial. Em entrevista ao Huffington Post, Joe Russo, codiretor do filme e que também está cuidando de Vingadores: Guerra Infinita, deixou tudo bem claro. “Eu penso que ele abandonar aquele escudo é deixar de lado aquela identidade. É ele admitindo que, certamente, a identidade de Capitão América está em conflito muito pessoal com a escolha que ele estava fazendo”.
Ou seja: Steve Rogers continua por aí, no Universo Marvel. Atuando como sempre. Porém, deixando de lado a identidade de “Capitão América”. E isso faz bastante sentido.
Nos cinemas, Steve Rogers não é mais o Capitão América
Veja: ele começou a usar aquelas cores e aquele nome pelo que “América” representava no começo dos anos 1940. Os nazistas estavam por aí, afirmando que no mundo existia uma raça superior e que as outras eram inferiores e que, por isso, deveriam sofrer, assim como também deveriam sofrer os países que levaram a Alemanha à derrota no final da Primeira Guerra Mundial.
Por mais que na PRÁTICA não fosse assim, os Estados Unidos representavam o outro lado da força. Um país criado a partir de ideais de liberdade, no qual qualquer um, com um sonho e muito suor, poderia ir longe (não se você fosse negro e coisas assim, mas esse é papo pra outra hora). A questão é que Steve Rogers representava isso: filho de imigrantes, que passou por perrengues na vida e superou todas as dificuldades para defender aquilo que achava correto.
De alguma forma, o Capitão América era a representação daquela luta, daqueles ideais. Passados mais de 70 anos do fim daquela guerra, o mundo mudou. Os ideais mudaram. E, mais do que qualquer coisa, os EUA assinaram um acordo no qual Steve Rogers não acredita, que coloca ele e os Vingadores sob o guarda-chuva da ONU.
Como, então, Steve seria sincero a si mesmo usando como título o NOME do país do qual não partilha mais os mesmos ideais? Isso tudo deixa todo esse enredo absolutamente real, principalmente num momento no qual um cara como Donald Trump se torna um real candidato a presidente dos EUA.
Quem conhece minimamente os quadrinhos sabe que esse enredo ecoa no que já foi feito por lá. A primeira vez foi ainda nos anos 1970, quando, como no cinema, Steve Rogers ficou desiludido com os rumos do governo de seu próprio país. Na época, ele enfrentou um grupo chamado Império Secreto, uma organização terrorista que havia se infiltrado nas instituições. Mesmo sem mostrar o rosto do líder do grupo, a Marvel deixou nas entrelinhas que aquele era Richard Nixon – o mesmo presidente que, no mundo real, enfrentava pesadas acusações no escândalo de Watergate e acabou sofrendo um impeachment.
Ao descobrir tudo isso, Rogers renegou o nome, o uniforme e o escudo do Capitão América. Adotou o nome de Nômade, um herói sem pátria. Foram apenas cinco edições, com o herói percebendo, ao final, que ele não precisava representar um governo para também representar os ideais do país.
O enredo foi repetido na segunda metade dos anos 1980. Na fase escrita por Mark Gruenwald, Steve passa a ser obrigado a atuar sob ordens do governo (o que, de certa forma, lembra o enredo da Guerra Civil dos cinemas), que estava cheio de corrupção. O herói não só vai contra isso, como manda um “enfiem esse escudo no cu” (talvez com outras palavras... ;D), abrindo mão do título de Capitão América. O herói passou a se chamar simplesmente de “Capitão”, com um escudo novo feito por Tony Stark, enquanto o governo escolheu John Walker para ser o novo Capitão América.
Eventualmente os dois tretaram e Steve voltou a ser o Bandeiroso, mas foi um dos bons momentos do personagem.
E aí chegamos na Guerra Civil dos gibis. Na história, Steve Rogers se opõe à Lei de Registro de Super-Humanos, lidera uma versão dos Vingadores Secretos e, no final, acaba morto com uma bala após se entregar ao governo. Eventualmente o nosso herói voltou do mundo dos mortos, apenas para ver que o manto de Capitão América havia sido ocupado por Bucky Barnes. Procurando espaço para si, Steve Rogers passa a ser simplesmente o “Super-Soldado”, com histórias mais de espionagem e operações secretas. Em parte, essa fase influenciou bastante os Irmãos Russo em Capitão América: Soldado Invernal, que inclusive se inspiraram no visual do personagem para compor o uniforme que o Bandeiroso usa no filme.
Eles poderiam, então, ter matado o Steve Rogers ao final da Guerra Civil do cinema? Sim. Mas precisamos lembrar que o tempo de um filme não é o mesmo de um gibi, que sai todo mês e tem muito espaço para aprofundar cada história. Os caras precisam deixar tudo mais ou menos no esquema para o próximo filme, que é nada menos que Vingadores: Guerra Infinita. “Tá vindo por aí um cara grande e roxo. Achamos que [o Steve] seria útil”, explicaram os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely também ao HuffPost.
Tá vindo por aí um cara grande e roxo. Achamos que Steve Rogers seria útil
Essa situação do Super-Soldado foi eventualmente resolvida e, recentemente, após envelhecer (não pergunte), Steve Rogers deixou mais uma vez o manto do Capitão América com outra pessoa – dessa vez, Sam Wilson, o Falcão. Com o retorno do original à plena saúde, a Marvel Comics passou a ter, então, dois Capitães América: o que treta com o governo para ajudar imigrantes ilegais, por exemplo, e o que tem o passado mudado para se tornar um integrante da HYDRA.
No final, você nota que, mais cedo ou mais tarde, Steve Rogers percebe que ser o Capitão América é mais do que a vontade de um governo. Porém, o que a Guerra Civil da Marvel Studios deixou claro é que uma parte importante da população concorda com o Tratado de Sokovia – deixando no ar que, talvez, seja o próprio Steve que tenha ficado de lado. Não é só isso: a origem do Bandeiroso dos cinemas é diretamente atrelada a Howard Stark. Ele esteve presente no Projeto Renascimento e foi ele quem criou o famoso escudo do personagem.
Ou seja: o retorno de Steve ao posto de Capitão América não depende, apenas, dele repensar seus objetivos e se reencontrar entre os próprios americanos, mas também reconciliar com o ex-melhor amigo.
E talvez essa seja a principal missão do tal “cara grande e roxo”...
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