Curta dirigido e estrelado por profissionais envolvidos com o Arrowverse é uma declaração de amor ao verdadeiro motivo pelo qual os super-heróis existem como parte da nossa mitologia
Conceitualmente, é muito fácil encaixar os super-heróis, sejam eles dos gibis da Marvel ou da DC, das séries de TV do CW ou da atual safra de superproduções dos cinemas, num arquétipo básico de “justiceiros superpoderosos que combatem as forças do mal”. É isso? Pode ser... mas não só.
A real é que os heróis, sejam eles mascarados ou não, servem como inspiração. Para que o leitor/espectador busque a melhor versão de si mesmo e também seja alguém capaz de fazer o bem à sua maneira, refletindo um pouco de nossas próprias histórias. Quer seja se inspirando no mantra de poder e responsabilidade do Homem-Aranha, o adolescente tendo que encarar uma tragédia familiar, ou na eterna luta para controlar o lado mais sombrio e raivoso de caras como o Hulk ou o Wolverine.
Ou então, quem sabe, na intensa e emocionante luta do Captain Strong contra o Darkman.
Ah, você não conhece este último cara aí? Pois deveria. Ele é o INTRÉPIDO protagonista de Sidekick, um curta-metragem com jeitão de fábula e que se torna a perfeita tradução de como os super-heróis e, vá lá, a cultura pop como um todo podem se tornar uma parte tão sublime e importante das nossas vidas.
Além de impressionar pela qualidade de produção e pelo tamanho da coisa toda (este poderia ser fácil, fácil um pedaço de episódio do Flash, por exemplo... o que faz bastante sentido, aliás), a trama é doce, graciosa e de tirar lágrimas dos olhos. E o que seria apenas uma história que um pai contaria para o filhote na hora de dormir ganha um significado maior e mais profundo, com contornos bastante atuais. Contar mais do que isso, ainda mais se tratando de um curta com meros 15 minutos, seria uma baita sacanagem.
A direção ficou a cargo de Jeff Cassidy, que tem uma carreira bastante movimentada como operador e assistente de câmera em Hollywood, trabalhando tanto na TV quanto nos cinemas (Warcraft, Uma Noite no Museu 3, Premonição 3). Mas ele vem tentando, pouco a pouco, fazer uns trabalhos também como diretor, dirigindo projetos pequenos só pra aquecer. Mas foi justamente depois de esquentar a cabeça com uns roteiros maiores para alguns contatos em grandes estúdios que ele decidiu “dar um tempo” e se focar em um curtinha. Sabe, uma coisa menor, descontraída? Pois é.
E aí ele se lembrou do conceito que um amigo tinha comentado com ele há algum tempo. Passou a mão no telefone pra saber se o camarada tinha seguido em frente com aquilo. “Eu não”, respondeu o cara. “Manda bala”. Jeff mandou. E apesar de ser apenas um curta, Sidekick se tornou um projeto ambicioso que consumiu cerca de 1 ano e meio da sua existência profissional.
Cassidy trabalhou na equipe de câmeras de The Flash, durante a maior parte das três temporadas e, obviamente, conhecia as pessoas certas nos lugares certos. Foi aí que ele chegou, na mais pura cara de pau, pra convidar nomes como Emily Bett Rickards (a Felicity Smoak de Arrow) e Tom Cavanagh (o Harrison Wells de Flash). Assim mesmo, sem muito o que poder oferecer além da promessa de um bom roteiro, do qual valeria a pena participar.
“O diretor me procurou com o roteiro em mãos – e era uma história tão linda sobre um homem lidando com a própria mortalidade e como ele a transmite para o seu filho”, explica Josh Dallas, que interpreta o pai e também o Captain Strong, em um vídeo de bastidores publicado no mesmo canal. “Foi isso que me atraiu para o projeto”, conta o ator que, além de ter sido o Fandral no primeiro filme do Thor, ainda interpreta o Príncipe Encantado na série Once Upon a Time.
Dallas e Cassidy se conheciam de lá, dos bastidores do piloto de OUAT: certa ocasião, pegaram o mesmo voo, o diretor comentou do projeto, mandou o texto por e-mail e, antes mesmo do avião decolar, o ator respondeu dizendo que tinha adorado e estava chorando com a história. A gente te entende, cara. ;)
No total, a produção envolveu uma equipe de mais de 200 pessoas, em um processo que demorou 1 ano desde o início do roteiro até o começo da produção de fato e mais 7 meses desde o primeiro dia de filmagens até a edição final. Tudo rodado essencialmente aos finais de semana nas ruas de Vancouver, a cidade canadense que faz as vezes de Star City, Central City e agora está assumindo o papel da National City da Supergirl, para aproveitar a agenda livre da galera.
Além de Felicity e do Dr.Harrison Wells, nos bastidores também estiveram trabalhando diversos outros nomes envolvidos nas séries de heróis do CW, como o coordenador de dublês Jon Kralt, a designer de figurinos Betty Dubney, o gerente de locações Alan Bartolic, o supervisor de efeitos especiais Armen Kevorkian e até o compositor Blake Neely, aquele cujo nome é costumeiramente o primeiro a aparecer nos créditos finais de Arrow, Flash, Legends of Tomorrow e afins.
Em tempo: apesar do jeitão de blockbuster, Sidekick não é o tipo de projeto que tem ambição de se tornar algo além disso. “Tivemos muita gente trabalhando de maneira voluntária justamente porque eu deixei claro, desde o começo, que esvaziaria a minha conta do banco para produzir isso mas nunca quis ganhar dinheiro com ele”, explica Jeff ao site de fãs Green Arrow TV. “Tem muita gente por aí com ideias de como MONETIZAR Sidekick, mas eu realmente não sinto que é a coisa certa a fazer”.
Exatamente pelo mesmo motivo que o diretor não se sentiu confortável para lançar uma campanha de financiamento coletivo para fazer o filme acontecer, por exemplo. “Eu acabaria tendo que usar a popularidade do elenco principal para vender a campanha e esta ideia me parecia horrível, principalmente porque eles são todos meus amigos. Seria meio ‘hey, você pode aparecer no meu filme e ainda ajudar a financiá-lo?’. Então eu guardei esta carta e gastei meu próprio dinheiro”.