Snake Plissken e o sonho de infância de Robert Rodriguez | JUDAO.com.br

Mas pera: ter a chance de dirigir o remake do filme que fez você ter a certeza de que queria ser diretor é mesmo sonho ou um pesadelo?

Nascido e criado em San Antonio, no Texas, o jovem Robert Anthony Rodriguez, descendente de mexicanos, terceiro filho de uma família de dez irmãos, xodó de uma mãe enfermeira e de um pai vendedor, certo dia foi ao cinema. Quer dizer, ele adorava ir ao cinema, claro, mas aquela sessão, do ano de 1981, marcaria a sua vida. Porque, aos 12 anos, sentado ao lado de todos os grandes amigos da época, ele viu um filme que o fez dizer “é isso que eu quero fazer. Eu quero fazer cinema”.

Tratava-se de Fuga de Nova York, escrita e dirigida pelo magistral John Carpenter, trazendo Kurt Russell no icônico papel do durão Snake Plissken.

Rebecca, mãe do futuro diretor/produtor/editor/compositor/ator, sacou que, além de desenhar seus quadrinhos, o moleque tinha aquele tesão pela Sétima Arte. Mas, apreensiva com aqueles violentos filmes B que começaram a aparecer nos anos 70 e se tornar programas obrigatórios nos grindhouses, ela levava seu REBENTO para umas visitas semanais ao Olmos Theatre, famoso cinema de San Antonio que exibia os clássicos de Hollywood e Rodriguez embarcou numa viagem ao glamour da Era de Ouro, indo dos filmes mudos de Charles Chaplin e Buster Keaton ao faroeste-espaguete de Sergio Leone.

Ajudou? Até que ajudou. Mas adiantou? Nadinha. O jovem Robert logo encontrou uma velha Super 8 meio capenga e começou seus filmes, sempre tendo a própria família e os moleques da vizinhança como estrelas das produções. Na passagem dos anos 70 para os 80, o pai de Rodriguez apareceu em casa com uma novidade, um tal de videocassete que, como brinde do fabricante, veio junto com uma câmera de vídeo. Com esse equipamento em mãos, aí é que não tinha ninguém que fizesse Robert parar de filmar. O resultado? Filmes de gênero tipo terror e ficção científica, já dando pistas do que ele REALMENTE gostaria de retratar nas telonas muitos anos depois. Era o destino. Coisas da vida.

Vida essa que dá voltas fazendo com que o filme que mexeu com o Robert Rodriguez de 12 anos seja refilmado e dirigido pelo Robert Rodriguez de quase 50 anos. :D

Lançado originalmente pela finada Avco Embassy/Embassy Pictures, Fuga de Nova York teve os direitos transferidos para a StudioCanal, que durante algum tempo teve um acordo com a New Line Cinema para fazer esta refilmagem: enquanto a StudioCanal cuidaria do lançamento na Europa, a New Line ficaria responsável pelos EUA. Mas quando a New Line voltou para o seu estúdio-mãe, a Warner Bros., eles abriram mão dos direitos.

Dos muitos interessados, quem ficou com a faca e o queijo na mão acabou sendo a Fox, interessadíssima em fazer uma reinvenção da parada com potencial para abrir as portas para uma nova franquia, exatamente como aconteceu com O Planeta dos Macacos. Com produção de Andrew Rona e Alex Heineman, a nova versão trará produção executiva do próprio Carpenter, a quem é prometido algum grau de decisão criativa no tom da história.

Mas Carpenter, que já tinha colaborado com Rodriguez numa série de curtas para o canal de TV do diretor de Machete, o El Rey, mostrou felicidade com a contratação de seu substituto, que chega depois que caras com Brett Ratner, Len Wiseman e Jonathan Mostow passarem brevemente pela cadeira, oficial ou extraoficialmente. “Estou empolgado. Ele é um grande diretor”, disse, em sua página oficial no Facebook.

Ainda não se sabe, claro, quem vai substituir Kurt Russell por trás do tapa-olho de Plissken – ao longo dos anos, enquanto o projeto ia e vinha, nomes como Gerard Butler (que chegou a assinar, mas vazou do projeto alegando as já clássicas “diferenças criativas”), Tom Hardy e Jeremy Renner foram sendo mencionados. Mas o que é certo é que o roteiro, escrito por Neil Cross, o criador da série britânica Luther (aquela com Idris Elba – que ALIÁS HEIN FICA A IDEIA), deve mudar um pouco do conceito criado por Carpenter, atualizando-o para os dias de hoje.

Originalmente, Fuga de Nova York aproveitava o clima de cinismo com a figura do presidente dos EUA pós-Watergate e nos levava para o ano futurista de 1997. O líder da Casa Branca estava indo para um importante encontro com os líderes da China e da União Soviética, disposto a impedir a Terceira Guerra Mundial com uma fita que carregaria a chave para a paz, quando o Air Force One cai em Nova York.

O problema é que a cidade se transformou em uma imensa prisão de segurança máxima, repleta dos piores assassinos do planeta. Aí, eis que Plissken, um ex-integrante das forças especiais condenado por uma tentativa de assalto à Reserva Federal dos Estados Unidos, é convocado para esta missão secreta de resgate. Ninguém pode saber que um dos homens mais poderosos do mundo está perdido ali ou basta um gatilho pra que o conflito global comece. Detalhe: Snake tem apenas 22 horas para encontrar o presidente ou os micro explosivos injetados em seu corpo farão KABOOM.

Anos 80 puro, fala aí?

O pessoal do The Wrap teve acesso a uma primeira versão do roteiro de Cross, entregue em outubro do ano passado. Claro que ela ainda pode (e deve) passar por algumas modificações até que o filme, ainda sem data de lançamento prevista, comece de fato a ser rodado.

Entre as mudanças prometidas estão a revelação do nome verdadeiro de Snake (que seria Robert Plissken) e a transformação do personagem de Lee Van Cleef, que oferece originalmente o acordo ao anti-herói, em uma mulher (Roberta Hauk, diretora da CIA), teremos adaptações ainda maiores para que o filme reflita bastante do mundo de hoje. Por exemplo, a cena cortada do original, na qual veríamos Snake sendo preso, estará lá, no começo do filme, e não vai se passar em Nova York.

Nesse remake, ao invés de resgatar o Presidente do EUA (que, bom, realmente talvez não precisasse ser resgatado), Plissken vai salvar uma espécie de Bill Gates... o_O

Sua missão não será resgatar o presidente, mas sim o carismático Thomas Newton, playboy de uma grandiosa corporação de biotecnologia que doou toda a sua fortuna anos antes e se tornou símbolo do desapego em um mundo em pleno caos, no qual milhares de refugiados em todo o globo buscam asilo. Mas a Nova York na qual se passará a ação não será uma prisão de segurança máxima distópica e dominada por gangues. Na real, estamos falando de um lugar lindíssimo, com prédios de vidro ainda mais altos, tudo funcionando aparentemente muito bem... mas com drones sobrevoando tudo e mantendo a segurança sob o controle de uma inteligência artificial com o seu próprio código de ética. Bem menos Exterminador do Futuro e mais, sei lá, Laranja Mecânica.

Sim, sim, a ideia de resgate de um tipo Bill Gates é uma bosta, mas devo dizer que esse lance de Nova York meio Big Brother eu acho realmente promissor.

Robert Rodriguez, um sujeito cuja assinatura de estilo é claríssima, deve dar uma pesada nesta história toda em algum momento do processo, pra salpicar a porra toda com uma boa dose de violência, como lhe é bem peculiar. Eu só espero que o sujeito de quase 50 não sinta tanto o peso da responsabilidade e, tal qual alguém que acabou de ganhar um brinquedo novo, se divirta tanto quanto o moleque de 12.

Se não por ele, por nós. :P