Sophia Reis pode ser a solução dos seus problemas. E dos meus. De todo mundo. Do mundo todo. | JUDAO.com.br

Em entrevista exclusiva, ela fala sobre “Os 3” — o filme e as relações, o que é um bom filme de se assistir e se fazer e apaixona (ainda mais) todo mundo

Quando, há mais de 11 anos, eu comecei esse site, jamais pensei em chegar onde cheguei — profissional e pessoalmente. Jamais pensei, por exemplo, que isso acabaria me fazendo trabalhar na MTV. E jamais pensei também que um dia teria contato direto com tanta gente de quem a gente sempre falou por aqui.

Foi uma colisão de mundos quando, gravando o Podcast de Cinema MTV, eu acabei conhecendo a Sophia Reis, aquela menina que até então era a filha do Nando Reis que um dia fez “Meu Tio Matou um Cara” com aquele sotaque paulista no meio do RS e agora era VJ e que a gente tanto comentava. Cansei de me declarar apaixonado por ela, assim como me declaro apaixonado por tantas mulheres que jamais ouviram ou ouvirão falar de mim. É uma coisa meio platônica.

Com a Sophia, porém, essa história é mais real. Platônica, ainda, mas eu posso dizer que sou apaixonado por ela com mais certeza. Porque, pelo menos pra mim, ela deixou de ser aquela menina que era filha do Nando Reis que um dia fez “Meu Tio Matou um Cara” com aquele sotaque paulista no meio do RS e agora era VJ. Ela é uma mulher, real. Divertida, maluquinha, acessível, sempre ali pra tudo.

Foi meio estranho saber que eu iria vê-la no cinema, depois de já ter ido com ela ao cinema. Foi meio estranho saber que eu a veria nua na telona. E ainda mais estranho saber que, depois disso tudo, eu iria entrevistá-la. Mas, como sempre, foi a coisa mais fácil de se fazer — falamos sobre tudo. Os 3, amizade, tesão, sexo, cinema... O que era pra ser apenas 10mins, se tornou 25mins. Mas é impressionante como é fácil se perder no tempo ela.

A nossa Sophia Reis. :)


| Você já disse que tá cansada, eu tenho aqui a minha pauta definida, mas vou deixar você falar alguma coisa que não tenha dito ainda.
Deixa eu ver... Não, não, vai perguntando.


| Eu tenho as perguntas coxinhas aqui...
Então vai, faz as perguntas coxinhas que eu dou as respostas hippies.


| Tá. Você falou um dia sobre a sua personagem ser uma vagabunda, no Pânico, acho. Por quê?
Eu não disse exatamente isso, mas abordei esse assunto. Porque... Porque a Bárbara... Assim. Eu acho que ela chega pra desestruturar ali o núcleo principal. Então é natural que as pessoas tendam a vê-la como uma espécie de vilã. Gostem menos dela. E ela tem esse comportamento, que na minha opinião é muito natural, e muito julgado. Ela é assim, tá afim de fazer, vai lá e faz, sabe? Afim de dar pro cara, ela vai lá e dá pro cara, sem muitos rodeios. Foda-se, não tem problema! Eu acho que as pessoas tem tendência a achar que ela é uma vagabunda por conta disso. E eu acho muito pelo contrário, não que ela seja uma vagabunda, acho que ela é muito mais livre de preconceitos. Ela é bem resolvida com as suas vontades.


| Por que essa fascinação pelo threesome?
Então. Porque. É uma questão que a gente... É uma questão antiga. Não é uma invenção do século 21–


| Não tou falando exatamente da questão sexual. Mas essas histórias estão sempre sendo contadas...
Porque isso existe, as pessoas sentem isso. As pessoas se envolvem em triângulos amorosos, as pessoas tem essa vontade...


| Aí que tá. Eu não acho que seja tão triângulo amoroso, no começo do filme. E até vem outra pergunta, se você acredita que aquela situação, aquela história, poderia acontecer na vida real, já que...
Acredito! Eu brinco, “quem nunca vivenciou um triângulo amoroso?”. Se não vivenciou, eu recomendo! É sério! Eu acho que na verdade esse tema seja tão “ooooh”, porque as pessoas se sentem um pouco livres, sabe, eu acho que elas são muito recalcadas ainda e eu vim de família hippie, sou do Lulu Santos, “Toda forma de amor”! Seja livre pra amar, pra ser feliz! Acho que as pessoas tem que buscar a felicidade seja a três, a dois, cada noite com uma pessoa...


| Mesmo num caso de amizade? Porque eles se conhecem num banheiro, em meia-hora estão num fusca, morando juntos. Pra você morar com alguém...
É, eu por exemplo moro sozinha e nunca consegui morar com ninguém! Mas eu acho que é a situação, eles vêm de outros lugares, tem essa coisa de começo de faculdade, de vivenciar coisa nova, “ah vamos ser livres”, acho que tem todo esse barato que eles querem experimentar e acredito que possa ter um triângulo amigável, “a gente é MUITO amigo e a gente fica junta”... Eu acho que não existe regra, sabe? Não existe pode ou não pode, é ou não é, funciona ou não funciona... Acho que cada um sente coisas diferentes, vive de uma maneira, eu acho que as pessoas deviam julgar menos e aceitar mais os próprios sentimentos. Se você tem vontade de viver isso, vai lá e vive, independente do que as pessoas falem, sabe? Seja mais sincero com você mesmo. E eu acho que o filme tem um pouco disso e tanto que eles aceitam “beleza, a gente é apaixonado um pelo outro e a gente vai viver isso”, é quando eles ficam bem. Acho que o mundo seria muito mais fácil e em paz se as pessoas fossem mais sincera com os próprios sentimentos.


| Você estava no set desde o início ou só entrou quando sua personagem entrou?
Eu só entrei com a personagem. Foram 10 dias. Um terço do filme, isso é muito louco! O filme foi filmado em quatro semanas. Foi muito legal, maior astral, sabe? Era uma loucura, na época eu fazia faculdade, tava na MTV e filmando, então eu não tinha tempo pra dormir, né?


| E você como estudante de cinema, que já gravou curtas, ficou analisando também o “por trás das câmeras”? Eu fui gravar Lado Nix e fiquei reparando em tudo, perguntando...
Eu até ficava brincando que era mais uma assistente do Ricardo, o fotógrafo. Porque eu ficava “que lente vai usar agora?”, e ele explicava... A gente filmou com uma RED e eu ficava vendo as coisas, prestando bastante atenção também no Nando, na maneira como ele dirigia... Mas ele era mais uma coisa meio geral, com o Ricardo era mais pontual, perguntando de lentes, e filtros. Eu tenho o maior tesão em filmar. Sou atriz, eu amo isso, mas tenho maior tesão em dirigir, fazer filmes. Esse é o meu maior barato, eu acho incrível.


| Uma vez você falou comigo sobre beijo técnico, me contou uma história. Se você falar que não vai responder, não tem problema, eu desencano e a gente vai pra próxima...
(Risos) Não, não, vamo falar sobre isso, não tem problema!


| Eu te explico porque quero saber disso: no filme, parece que é tudo mais real do que normalmente se vê. Lá, com todos, a história é mais crua...
Eu acho que assim. O filme ganha o espectador justamente por isso. Tem uma certa credibilidade quando mostra essas cenas porque, primeiro: a cena de sexo que eu fiz tinha tudo pra ser muito vulgar. Se eu conto pra você, ela podia muito bem ter sido tirada de um roteiro de filme pornô — “uma menina chega, fala que quer dar e eles transam na escadaria de um depósito abandonado”. Bom, veja bem, né? O cuidado era aí. Como vai transformar tudo isso numa coisa que a gente se identifique? Que todo mundo veja e “ah, eu fiz isso, já estive nessa situação”. A gente tinha que tornar isso meio real... A cena que eu fiz é sexo sem amor, não tem romance, é sexo por sexo. Mas é tudo em conjunto. A fotografia é delicada, o tom é aquele ali. Tudo junto fez com que aquela cena parecesse muito real nesse sentido de “beleza, quando eu faço sexo só por sexo, é assim”. Você consegue falar que faz isso, sem parecer aquelas cenas que parece um comercial de sabão em pó, com lençois e sei lá. Isso é muito bonito. E pra isso acontecer, você tem de sacrificar algumas coisas, tipo não colocar tapa-sexo. O peito tá ali, a mão tá ali, mas ao mesmo tempo é muito pensado para que se transforme numa cena delicada, suave... Bonita.


| Foi discutido isso antes?
Eu não sei se é uma coisa muito consciente, sabe? Eu as vezes me questiono em que grau tudo isso que a gente produz a gente faz conscientemente. Eu não acho que seja, mas a gente nunca falou sobre isso exatamente. Talvez o Nando tenha pensado exatamente sobre tudo isso. Eu não. Pensei numa coisa geral do filme, pensei na minha personagem, que eu queria que ela fosse uma pessoa real, uma pessoa que a gente conhecesse, que não causasse estranheza a ninguém... Então, dentro dessa lógica, essa cena teria de ser daquele jeito.


| Mas aí ela foi acontecendo, ou tava tudo explicadinho no roteiro, como tinha de ser?
O que tinha no roteiro era: fazer sexo. (risos) E “transam na escadaria”. Foi até engraçado, uma vez. A gente filmou num grande galpãozão e dentro dele tinham lugares que funcionavam como QGzinhos, uma salinha era maquiagem, outra era o figurino, que era meio camarim. Lá, a gente tava lá, o Nando e o Ricardo chegaram e “Victor e Sophia, vamo ensaiar a cena?”. E a gente ficou “aqui, na frente de todo mundo?” E tinha de começar a se pegar do nada! Era engraçado. “Abre as pernas e sobe em cima dele. Vira ela pra parede!” e tudo se pegando, meio estranho... Esse ensaio foi totalmente estranho, mas depois nos outros eles saíam e a gente sentava e continuava conversando, bizarro.


| E nessa de preparar tudo, ficar tudo bonito... Por que não aparece sexo entre os três durante o filme? Pra mim deu a entender que rolou. Mas, não mostrou.
Pra você rolou? Hm... Eu não acho que tenha rolado algo do tipo “melhor não mostrar”...


| Não é nem isso. Mas dar a entender e fica pensando...
Deixar no ar, esse suspense...


| É que pra mim, no começo, o Cazé e a Camila não se pegam, é coisa da cabeça do terceiro. Assim como eu acho que depois, no fim, rolou entre os três.
Olha que coisa doida! Interessante. Um jeito de ver. Acho que pode ser. Não sei. É uma boa indicação... Diz que o filme tem uma qualidade, porque um bom filme dá margem pra diferentes visões, isso que é importante...


| E aproveitando essa história de reality show, exposição...
Isso realmente não me chamou a atenção, não foi algo que foi importante pra mim. Acho que fica bem em segundo plano. Acho que é muito mais importante as questões que foram abordadas... Eu fiz um paralelo uma outra hora que gostei: o reality show é uma encenação da vida real. Você finge várias coisas, tá sendo filmado... Que é o que acontece entre eles. Eles encenam que não se dão. “A gente não namora, não somos um trio”. E aí quando o reality show acaba, termina a encenação e eles se aceitam e vão viver isso de verdade. É o paralelo que eu consigo traçar. Essa história de reality show dá uma atualizada no tema. Não é o tema principal, não tem importância... Nem pensei nisso.


| E agora, minhas perguntas iniciais acabaram. Tem alguma coisa que você tá doida pra falar mas que ninguém perguntou?
Não, acho que não, mas tem várias coisas que eu tenho pra falar. (risos) Eu acho que as pessoas tinha de ser mais livres. Como no filme, as pessoas deviam se aceitar mais, aceitar o outro. Casamento gay, essas coisas... Triângulo amoroso... Acho que a gente tinha de ser menos recalcado e aceitar mais que as pessoas tem formas diferentes de ser feliz. Isso não significa que você tenha que fazer, que você vai fazer... Mas já disse e vou repetir: adoro isso. Como diz o Lulu Santos, “toda forma de amor”. Eu acho que esse filme diz que não tem regras. Não tem regras pra ser feliz, não tem nada. Isso que é importante. As pessoas serem sinceras consigo mesmas, se conhecerem mais pra poder vivenciar o que elas realmente querem viver, sem preconceitos, sem julgamento delas mesmas e dos outros, julgar menos os outros... Acho que isso é importante, do filme... E vou quero elogiar muito os três. Eles mandaram muito bem no filme e eu fico orgulhosa de fazer parte. Ai sou, fofa! :D


| E aquela história dos hang looses que você contou uma vez num dos Podcasts de Cinema?
Nossa, puta que pariu! Deixa eu contar essa. Será que eles já contaram pra alguém? Manda uma dessas quando você for falar com eles, “eu contei uns 7 hang looses, isso foi prosital?” (risos) Eles vão ficar “CARALHO!”. Isso foi uma piada que a gente fazia. Porque a gente ficou muito amigo nós três...


| Vocês três quem?
Eu, o Gabriel e o Victor.


| Saiu a Juliana, entrou você?
Não, não saiu na verdade. Mas acho que a gente ficou mais amigo até por conta do filme, porque ela não gosta de mim no filme, então nossa relação era menos intensa, mas a gente é amiga, fazemos mil testes juntas, mas eu, o Gabs e o Victor temos o humor muito parecido, a gente é muito idiota. E aí tem umas horas que a gente fazia esses hang loose — vou falar um só: na hora que eles tão apresentando o trabalho de faculdade, ele fala “é só arrastar pro carrinho!” e ele faz com um hang loose! (Risos) Foi tudo de piada, uma brincadeira interna, que tomou uma proporção maior...


| Você falou de amizade... Nessa de ser um filme ser mais “cru”, o filme é mostrando a vida das pessoas, e no começo eles falam sobre ficar olhando pro teto... Muitas cenas eram de amizade rolando, simplesmente. Você acha que isso acabou gerando pra vocês?
Sem dúvida! “A vida imita a arte”, não é? Então, pra gente fazer tudo o que a gente fez ali, a gente tinha de criar um vínculo. Na cena de sexo, a gente tinha de criar um vínculo ali. A gente não fez de verdade, mas a gente precisava encontrar uma maneira de se conectar e isso acaba ficando, porque você busca em você mesmo essa maneira, esse vínculo, essa amizade, esse tesão. Você tem como matéria prima você mesmo. Não é a toa que muitos atores acabam casando, que ficam muito amigos, porque de uma certa forma isso é real. Em algum nível, isso é real. E isso foi muito legal, porque foi muito fácil de acontecer com eles. Eles são muito legais, incríveis, e a gente se deu muito bem... Pra se ter uma ideia, eu e o Victor tínhamos uma cena em que a gente deitava e tava dormindo... E a gente realmente dormiu, aquela hora. Eu falei que é a cena mais real que alguém já filmou, que era a cena que eles tavam dormindo e a gente realmente dormiu, porque eles precisavam montar a luz e essas coisas, e você fica esperando horas, filmando desde cedo, deitado na cama, e a gente dormiu! Quando a gente acordou, “e aí, vamo fazer a cena?”, “não, já filmamos”. (risos) Eu acho que entre os outros três deve ter rolado muito mais disso, tinha que ter muito mais cena deles fazendo nada... Mas não é a toa que a vida imita a arte. Você tem de usar a sua vida pra fazer arte. Eu sei lá. Fiquei muito feliz com o filme... Eu não gosto dessas coisas de filme jovem, que fala da nossa geração...


| Eu até concordo com você, mas não é melhor estejam fazendo filmes assim?
Sim! Ótimo! Filmes mais despretenciosos, né? Acho ótimo! As pessoas tem que fazer mais isso! Até me perguntaram agora, o que é um bom filme pra mim... Um bom filme é aquele que provoca. Qualquer tipo de emoção. Riso, choro, tristeza, desconforto, indignação. E esse filme sei lá, as vezes te provoca... Tesão? Sei lá. Acho que isso é o importante. Que façam mais filmes assim, que esse tenha sido feito, que esteja aqui no Festival do Rio, porque tem uma visibilidade e é um filme jovem, e as pessoas tenham essa constatação “opa, tem um filme jovem com que eu me identifico”. Isso que é o legal e que acho mais bacana.


| Filme bom pra ver é o que te provoca... E pra fazer, também?
(Pensando) Eu não sei. Eu fico pensando nas comédias. Quer dizer, você me perguntou e eu pensei... Será que é um filme que provoca? Acho que não necessariamente é um filme que te provoca. Acho que não, porque você pode ser muito familiarizado com comédia e fazer um puta filme de comédia. Isso não te provoca, ou desafia... Mas pode ser que te desafie de algum jeito, mesmo você sendo familiarizado com aquele tipo de linguagem. Acho que um bom filme de fazer... A melhor resposta que consigo pensar agora é: um filme que te dá a liberdade pra pensar somente na criação. E na emoção. Por exemplo, um filme que você não tenha problemas com diretor, que a equipe esteja muito unida, em prol daquele filme. ISSO é um bom filme de fazer. Um filme que você está livre pra ser provocada, não necessariamente precisa ser provocada. Mas você está ali muito livre, muito exposto, muito aberto. Acho que esse é um bom filme de fazer...