Coadjuvante surgida nas páginas da HQ de Darth Vader, vai ganhar série própria em Dezembro
Da nova leva de gibis de Star Wars que a Marvel vem publicando desde o ano passado, definitivamente o melhor e o mais popular era aquele protagonizado por Darth Vader, com roteiro de Kieron Gillen e arte de Salvador Larroca. Com uma trama ambientada pós-Episódio IV, vimos um Vader puto da vida cruzando a galáxia para descobrir quem caralhos era o tal do rebelde que explodiu a Estrela da Morte. Não apenas a melhor história de quadrinhos de Star Wars da Casa das Ideias mas também um dos melhores gibis da Marvel e ponto, era um lembrete mensal de que este cara de roupa preta e capacete esquisito não é apenas um personagem icônico pra cultura pop, mas também um dos mais poderosos e temidos vilões da galáxia.
Quando foi anunciado que a HQ do Darth Vader chegaria ao fim no número 25, publicado a partir desta semana, rolou uma comoção geral. Mas já rolava aquele teaser, sabe, anunciando que um OUTRO título baseado em Star Wars assumiria o seu lugar, gerando um milhão de suposições de quem poderia ser o personagem-título. Yoda, Obi-Wan Kenobi, Chewbacca? Nada disso. A protagonista será a Doctor Aphra, personagem que não existe nos filmes e surgiu justamente nas páginas de Darth Vader, uma arqueóloga espacial com uma postura cínica, arrogante e sarcástica que contrastava com a seriedade petrificada do Lord Sith.
De novo com roteiro de Gillen, mas agora com arte de Kev Walker (Marvel Zombies), Aphra se torna a primeira personagem inédita da saga, nascida nos quadrinhos, a ganhar um título próprio na Marvel. “Estou muito empolgado”, afirma o roteirista, em entrevista ao site oficial de Star Wars. “Ela não é alguém com uma base de fãs já formada. A ideia de fazer algo assim, bom, certamente é intimidadora. Mas eu gosto de coisas que intimidam. Isso mantém a graça”.
“Nós amamos tanto a Aphra”, afirmou Jordan D. White, editor dos quadrinhos de Star Wars, em comunicado oficial. “Estamos muito felizes que ela encontrou um jeito de escapar da ira do Lorde Vader. Agora ela está livre para continuar suas aventuras renegadas enquanto escava antigos droids e armas para vender a quem tiver mais grana pra pagar. Desde que ela fique longe do radar do Império, claro”.
Quem leu Darth Vader # 25 já sacou, no epílogo, que a doutora saiu viva (ou quase isso) de sua relação de negócios com o papai de Luke e Leia. Ela entregou para o Imperador tudo que o seu pupilo vinha fazendo nas sombras, sem o consentimento do Império, para saber mais a respeito da vitória rebelde na Batalha de Yavin. E digamos que Vader não lida bem com traição, por mais que Aphra tenha dito que não tinha escolha. “Se Darth Vader descobrir que a Aphra sobreviveu, ela vai morrer e agora pra valer. Então, ela vive se escondendo”, explica o escritor. Ela precisa manter suas atividades ocultas o bastante para que ele não faça nem ideia de que foi, de alguma forma, enganado.
“Por mais tempo do que as pessoas imaginam, eu tinha certeza de que ela morreria mesmo”, garante o roteirista. “Seria apenas Vader atirando ela no espaço. Mas não mudei meus planos por causa da reação dos fãs. Eu simplesmente tive um clique. ‘Meu Deus, ela pode sobreviver’. Relembrei de uma situação que rolou no número 8, uma rotina de alguém ser jogado no espaço. Quando escrevi aquilo originalmente, não tinha na cabeça que iria usar aquela cena como forma de salvá-la no final. Mas, ao mesmo tempo, talvez inconscientemente, eu soubesse disso. Foi um momento de alegria quando percebi que ela viveria”. A solução foi uma espécie de ímã controlado por sua própria tripulação, que a atraiu para a nave graças aos materiais que ela carregava embaixo da roupa. Ou seja: a moça tinha tudo planejado.
“A única forma dele me deixar ir era se ele acreditasse que eu estava morta. E a única forma dele acreditar que eu estava morta seria quando ele me matasse”, afirma Aphra, na cena pós-créditos do número 25 de Darth Vader (é sério). Aphra meio que acredita que o Império é, na escala maior das coisas, algo de bom. “Ela cresceu no meio da guerra e a guerra matou mais pessoas ao seu redor do que um regime fascista. Mas, ao mesmo tempo, ela não está disposta a obedecer a este regime fascista”. Por isso, veio a decisão de se afastar de Darth Vader.
A trama da nova série, cujo primeiro número será publicado já no dia 7 de dezembro, começa a partir deste exato momento. Eternamente falida, Aphra viaja a bordo da nave Ark Angel e conta com a ajuda dos seus fieis droids 0-0-0 e BT-1 (basicamente, versões bastante cruéis e mortais do C3-PO e do R2-D2) para explorar novos mundos e encontrar artefatos raros, ganhando alguma grana que sirva pra pagar seus devedores, como o caçador de recompensas wookie Black Krrsantan. “O maior problema aqui é que ela também prometeu encontrar as pessoas que o treinaram e torturaram”, revela.
Depois de não ter conseguido salvar sua mãe de um bando de invasores que queriam tomar tudo que elas tinham, Aphra cresceu praticamente sozinha, aprendendo na marra como usar sucata militar antiga e reativar um bocado de droids velhos. “É um pouco sobre seu relacionamento com o pai, por exemplo. Existe uma certa tensão aqui. Seus pais se separaram e ela foi viver em um mundo florestal na Orla Exterior com a mãe. E foi por isso que sua mãe acabou assassinada. O idealismo de sua mãe meio que a matou, e Aphra se ressente disso”.
Em busca da matriz de personalidade de seu recém-encontrado 0-0-0, ela viajou para o Mundo Quarentena III, no Espaço Kallidahin, mas ficou no “quase” ao tentar roubar o que precisava e acabou chamando a atenção de um certo Utani Xane que, liderando um grupo de droids de batalha B2, pediu o artefato de volta, sendo salva pelo gongo assim que Darth Vader aparece em seu encalço. Sabres de luz pra lá e pra cá, tudo resolvido, e veio a explicação: o lendário Sith precisava de ajuda para criar, sem chamar atenção, seu próprio exército particular, já que o incidente com a Estrela da Morte o colocou em uma situação bastante difícil. Usar as habilidades de uma arqueóloga especializada em descobrir materiais militares de outros carnavais e botá-los pra funcionar seria essencial.
Ao longo da história, além de ajudar a descobrir as tramoias de um cientista chamado Doctor Cylo-IV, que estava criando potenciais substitutos para Darth Vader supostamente sob as ordens do Imperador, Aphra migrou de HQ e, indo parar no título batizado apenas de Star Wars, encontrou com a trupe inteira: Luke, Han, Leia, Chewie, os dois droids, sendo nocauteada antes que pudesse levar o filho de Anakin ao seu encontro.
“Ela funciona porque é divertida”, arrisca Gillen quando questionado sobre as razões do sucesso da anti-heroína. “Ela teve muito trabalho ao ficar responsável por toda a falação enquanto o Vader mal falava. Darth Vader não faz piadas. Parte do meu trabalho foi pensar: ok, em termos de Star Wars, que tipo de personagem se encaixa bem neste universo? Sim, o arqueólogo tipo Indiana Jones. Faz total sentido para Star Wars, vamos fazer isso”. Ele lembra, no entanto, que apesar de ter uma personalidade engraçada, Aphra está longe de ser boazinha, a heroína sem dilemas morais. “Pensa no Indiana Jones, como ele lida com os problemas naquela jornada maluca, mas agora inverta toda a sua ética”.
O escritor lembra que, basicamente, fez as pessoas se importarem e torcerem por um dos maiores vilões de todos os tempos. “Vai continuar sendo meio assim. Ela é uma pessoa ruim em muitos aspectos. Mas, ao mesmo tempo, ela está em universo que tem pessoas ainda piores. Vamos vê-la fazendo coisas boas e coisas ruins. Ela não é o Boba Fett, mas também não é o Chewbacca”, compara. “A graça aqui é que ela agora está com Black Krrsantan, Triple Zero e Beetee — e os três são muito mais homicidas do que ela. Na verdade, ela é o integrante mais equilibrado e razoável deste grupo”.