Stargirl e a dose de doçura super-heroica que a gente precisava | JUDAO.com.br

Produção, a quarta original do serviço de streaming da DC, tem carisma e coração nos lugares certos — e também uma baita dose de personalidade, porque não se parece em nada com os outros heróis de lá ou mesmo do CW

Depois de dar as caras como coadjuvante em Smalville e, mais tarde, em Legends of Tomorrow, finalmente a Stargirl, o primeiro personagem original que Geoff Johns criou quando começou a trampar pra DC, lá em 1999, ganhou sua chance de ser protagonista na TV.

“Ah, mais uma daquelas séries de DC?”, talvez esteja pensando você aí, que não é lá muito fã do que rola no chamado Arrowverse. Pois pode esquecer. Apesar de ter o mesmo Greg Berlanti envolvido na produção e de er exibida na emissora, Stargirl não se parece em nada com qualquer uma das aventuras do universo compartilhado do Flash, da Supergirl, da Batwoman, das próprias Lendas... Supera. O clima é diferente, a dinâmica ainda mais, a condução do roteiro idem, até a fotografia e a produção, os efeitos, figurinos, tudo caminha pra outro lado.

Da mesma forma, não dá pra comparar Stargirl com seus irmãos originais do serviço de streaming DC Universe. Não é delirantemente esquisita como a Patrulha do Destino e tampouco uma aspirante a dark modernosa como os Titãs. Não por acaso, o crossover Crise nas Infinitas Terras do CW já tinha deixado claro que a garota-estrela está em OUTRA REALIDADE, só sua, separada de todo mundo.

Ainda bem, aliás.

Legends of Tomorrow é a minha série de heróis favorita atualmente – e sou total e completamente apaixonado pela Patrulha (que aí já não consigo encaixar na categoria “heróis”, é bom que se diga). Além disso, salvo raras exceções – alô, Flash! – sou defensor do Arrowverse. Mas Stargirl tem mesmo uma pegada diferente. A história aposta numa leveza que dialoga com a Era de Ouro dos quadrinhos (e a relação dela com a Sociedade da Justiça da América só torna a decisão ainda mais acertada). Apela para uma doçura, uma fofura, uma inocência que, se a gente precisa comparar com outras produções, vamos logo lembrar do Superman de 1978, aquele do Christopher Reeve. Super-herói que é puro coração, sem cinismo, sem lado sombrio.

Algo mais recente? Tá bom. Dá pra dizer então que o mais próximo é a pegada “família”, talvez, do recente filme do Shazam. Só troca as piadas infames pelo carisma brilhante da protagonista teen Brec Bassinger, que já era ótima em Bella and the Bulldogs (meu filho adorava, me julguem) e aqui se mostra uma escolha simplesmente maravilhosa, e você tá no caminho certo pra sacar qual é.

Stargirl tem sabor de filme adolescente do John Hughes, sabendo colocar direitinho no mix uma camada retrô que se reflete na pequena cidade do Nebraska pra onde eles partem, fugindo da correria cosmopolita da Califórnia. Todo o visual, sem exageros e na medida certa, parece algo saído da pequena Hill Valley do clássico De Volta para o Futuro. E a comparação tá longe de ser descabida, porque apesar de não ter viagens no tempo (até o momento, veja), a série lida SIM com o quanto a gente precisa de alguma forma se pacificar com nossos próprio passado e nossas raízes caso desejemos aceitar o presente e desenhar o futuro.

Apesar de sentir falta do pai desaparecido, Courtney Whitmore (Bassinger) vivia uma vida perfeita com a mãe... até que pinta um novo homem em suas vidas. No caso, um namorado por quem sua mãe se apaixona, um tal de Pat Dugan (Luke Wilson, outra escolha perfeita), com quem ela se casa e que se torna seu padrasto. Indignada com o tédio interiorano pós-mudança, a garota se pega mexendo nas coisas antigas do sujeito e encontra uma caixa de lembranças com algo que jamais sequer imaginou: os pertences do Sideral, um grande herói de décadas anteriores. E mais: Pat teria sido ninguém menos do que seu parceiro, o Listrado (Stripesy). De posse do temperamental Bastão Cósmico, digamos que ela está a um passo não apenas de tornar-se a mais nova heroína do pedaço, inspirando o retorno das versões de outros heróis da SJA, como também de enfim entender o quanto Pat só quer fazer esta família feliz.

No fim, este é o tipo de história de super-herói, sobre carregar um legado, sobre se encontrar em meio a uma mudança que vira seu mundo de pernas pro ar, que a gente precisa ver nos dias de hoje. Algo com começo, meio e fim, sem viradas rocambolescas, sem grandes planos mirabolantes. Só uma menina e um artefato espacial que é praticamente o seu bichinho de estimação.

Stargirl te deixa com um sorriso no rosto e um quentinho no coração. “Uma fofura”, foi o que eu disse assim que acabei de ver o primeiro episódio. Tomara que o restante da temporada siga na mesma TOADA. Vai ser um daqueles momentos cheios de colorido que andam faltando num mundo de super-heróis em que só se fala num tal de Snyder Cut...