Carry On Wayward Son, um dos maiores hits da banda Kansas, virou quase sem querer a música-tema não oficial das aventuras dos irmãos Winchester
Nesta quinta, dia 12 de outubro, estreia lá nos EUA a 13a temporada de Supernatural, uma série que muita gente odeia e fica se perguntando por que caralhos ainda tá há tanto tempo no ar – mas que tem, do outro lado, uma base imensa de fãs, que a defendem com unhas e dentes (e se você é daqueles que dizem “ai, mas isso é série de menina, elas amam porque os protagonistas são bonitões”, vai se foder COM GOSTO).
Fato é que esta comunidade de fãs é grande o suficiente para garantir a audiência que vem mantendo Sam e Dean Winchester no ar durante tanto tempo. O mesmo grupo de fanáticos, aliás, que que não sabe o que esperar desta temporada com a morte de Castiel e o crescimento do personagem Jack (ou Nephilim, como queira), filho de ninguém menos que Lúcifer (também conhecido como “cramulhão”).
Quer dizer, pelo menos UMA coisa eles sabem que vai acontecer, inevitavelmente: o episódio de número 23, o season finale, vai começar com Carry On Wayward Son, dos progressivos americanos do Kansas, tocando.
Porque esta se tornou daquelas verdades inabaláveis pra Supernatural.
Tudo começou, na verdade, lá no dia 27 de abril de 2006. Em Salvation, penúltimo episódio da primeira temporada, os produtores inventaram de fazer um segmento chamado The Road So Far, pra abrir o episódio fazendo um recap do que tinha rolado, deixando as bases claras pro que vinha a seguir. Carry On Wayward Son, que tem toda esta vibe de música pra ouvir na estrada, foi a escolhida – considerando que tamos falando de uma série que segue os gostos musicais de seu criador, Eric Kripke, e tem rock clássico pra cacete tocando.
“Todos os meus amigos me chamam de Old Man Kripke, porque eu não escuto bandas que são de depois dos anos 1980”, explicou o executivo, certa vez, em entrevista pro The Futon Critic. Justamente por isso, Dean é uma espécie de eu-lírico de Kripke, o tarado por Led Zeppelin que controla o que entra no toca-fitas do Chevrolet Impala 1967 (aka Metallicar, como foi apelidado pelos fãs) que os guia pelas cidadezinhas dos EUA. “Já o Sam curte músicas mais cool, mais modernas, talvez Fall Out Boy, The Killers? Mas é por isso que você não ouve as faixas dele rolando na série, porque eu mal conheço”, admite.
Anos depois, em 2015, ele contaria no Twitter uma história sobre a jukebox que sua família tinha no porão, uma que tinha uma canção incrível, que ele adorava e tocava um monte: é, você adivinhou, esta mesma, Carry On Wayward Son. Sacou de onde veio a ideia? ;)
Voltando ao assunto, o fato é que então a parada funcionou. A tal The Road So Far com o Kansas rolando passou a ser tradição não no penúltimo, mas no último episódio de rigorosamente todas as temporadas de Supernatural (isso sem contar o encerramento de todos os episódios da temporada única da série em versão anime, produzida pelo estúdio Madhouse). E um seriado que não tem uma música-tema oficial acabou ganhando uma espécie de hino, adotado pelos fãs – que cantam a dita cuja a plenos pulmões em versão karaokê nas convenções da série, por exemplo.
Uma versão mais lenta da música, formato coral, chegou a ser cantada no episódio Fan Fiction, da décima temporada, como parte do musical inspirado em Supernatural – no caso, a série de livros sobre Sam e Dean que existe dentro da série. Mais metalinguagem, impossível.
Escrita pelo guitarrista Kerry Livgren, Carry On Wayward Son foi o grande single do disco Leftoverture, de 1976. Na real, tamos falando da quinta tentativa em emplacar uma canção como single deste álbum. Primeiro grande hit do grupo setentista de rock progressivo – afinal, um ano depois, eles lançariam a balada Dust in The Wind, aquela que toca a cada meia-hora em qualquer estação de rádio especializada em classic rock que você imaginar – a faixa se tornou a primeira composição dos caras a entrar nas paradas de sucesso na Billboard.
Descrita pelos músicos, no documentário Miracles: Out of Nowhere, como “a canção que mudou as nossas carreiras”, Carry On Wayward Son surgiu praticamente do nada. “Eu tava sob tanta pressão pra escrever coisas pro disco novo que entrei num modo que eu nunca tinha assumido antes”, explica Kerry, em entrevista ao Team Rock. “Virei uma máquina de compor, eu saía do ensaio com uma música nova na cabeça e voltava no dia seguinte com outra. Carry On Wayward Son foi a última que escrevi. Cheguei no estúdio, último dia, já empacotando tudo, e aí ‘caras, cês têm que ouvir isso’. Eles escutaram e ‘temos que gravar isso’”.
Carry On Wayward Son surgiu do nada – e mudou a história do Kansas.
Pro guitarrista, o segredo da canção está justamente em que cada componente tem aquela pegada grudenta – o riff de abertura, o refrão, até o solo de guitarra. “Ter um hit assim é uma benção, cara. Mesmo hoje, quando os cheques dos direitos autorais chegam, é algo bem significativo. Abriu um novo mundo de público pra nós. Mas também é uma pequena maldição porque aumenta a pressão sobre mim, principalmente, na hora de escrever qualquer coisa. Se tornou desafiador, ampliando as expectativas”.
Este ano, na abertura do painel que encerrou as atividades do Hall H na San Diego Comic-Con, os produtores resolveram celebrar de vez o casamento entre Supernatural e Carry On Wayward Son – e, de surpresa, colocaram os músicos do Kansas para executar a canção ao vivo, levando um clima de show de rock para mais de 7.000 fãs. Originalmente uma ideia de Holly Ollis, diretora global de relações públicas pras produções de TV da Warner, esta foi uma iniciativa que levou TRÊS anos pra ser executada. O motivo? A agenda de shows do Kansas, que sempre batia de frente com a data do painel na SDCC.
Este ano, no entanto, os astros se alinharam e deu tudo certo. Inclusive, segundo Lisa Gregorian, chefe de marketing da WBTV, contou pro Hollywood Reporter, a questão de equipamento também casou perfeitamente. Afinal, o pessoal da divisão de cinema já tinha negociado a utilização dos telões gigantes do Hall H, além de colocar uma iluminação especial que lembra muito a dos palcos de rock. “Veio tudo junto”, explica.
Junte a isso o fato de que o Kansas não só sabe que sua música tem este puta significado em Supernatural como tava realmente querendo fazer acontecer e ainda a liberação, por parte da SDCC, de algumas horas adicionais ao longo da semana para testes de som, de luz, ensaios dos músicos e a porra toda. Pronto, deu certo. “É um daqueles momentos pra conectar de fato as pessoas”, diz Tammy Golihew, VP executiva de marketing da WBTV. “Quando aconteceu mesmo, e a gente viu as pessoas gritando, cantando, dançando, fazendo vídeos e pirando, foi muito bonito. É isso que a gente quer mais e mais”.
O mais bacana é que o amor entre série e música tá gerando um novo fruto – no caso, o spin-off Wayward Sisters, cuja inspiração do título é claríssima. Fruto de uma campanha de fãs de Supernatural, que os próprios atores inclusive apoiaram em suas redes sociais, trata-se de uma série no universo dos Winchester mas protagonizada por um elenco feminino.
Focando inicialmente na xerife Jody Mills (Kim Rhodes), personagem recorrente e responsável pela manutenção da lei em Sioux Falls, Dakota do Sul, teremos um grupo de mulheres reunidas que, de alguma forma, tiveram as vidas marcadas por tragédias sobrenaturais. Aí, da mesma forma que rola com Sam e Dean, elas vão se tornar uma espécie de esquadrão de combate a demônios, vampiros, lobisomens e demais categorias de seres das trevas.
Além de Jody, estão confirmadas a também xerife Donna Hanscum (Briana Buckmaster), que trabalha em Stillwater, Minnesota, e dá as caras em Supernatural desde a temporada 9; Claire Novak (Kathryn Newton), filha de Jimmy, o receptáculo de Castiel; Alex Jones (Katherine Ramdeen), usada como receptáculo de sangue da família de vampiros de Celia e depois adotada por Jody; e Patience Turner (Clark Backo), neta de Missouri Moseley, consultora psiqúica que era muito amiga de John Winchester (pai de Sam e Dean).
Wayward Sisters ainda não tem data de estreia nem nada, mas será oficialmente apresentada dentro de um episódio desta temporada 13 de Supernatural, para depois ganhar vida própria – mais ou menos como aconteceu com o Flash em Arrow.
Se eu fosse Eric Kripke, estaria neste exato momento conversando com os caras do Kansas pra que eles escrevam uma nova versão de sua canção, dando uma bela adaptada na letra. Mas isso se fosse eu, claro. <3