Tá Rindo de Quê? quer falar sobre humor na ditadura | JUDAO.com.br

O documentário pretende contar uma parte da história do humor brasileiro – e que pode, inclusive, nos ajudar a compreender o cenário atual.

0Em 1968, 4 anos depois do golpe militar de 1964, começou o período conhecido como Anos de Chumbo. De dezembro de 68 atééé o final do governo de Garrastazu Médici, em 1974, o Brasil enfrentou algo muito pior dentro de uma situação já bem difícil: o Ato Institucional nº5, que derrubou a Constituição, trouxe um aperto da censura e repressão e, é claro, a consolidação da tortura como PARTE do processo de interrogatório e punição daqueles que eram “subversivos”.

A perseguição, ameaça, sequestro e violência permaneceram firmes até 1985, com a redemocratização. E é importante lembrar que, para alguns grupos sociais, essa truculência nunca teve fim, né? Pois é.

Um dos assuntos mais interessantes e importantes de se conhecer é o tratamento que artistas e profissionais de comunicação recebiam. EIS QUE um filme chamado Tá Rindo de Quê? – Humor e Ditadura chegou para nos ajudar a ver mais sobre essa fatia da história.

O documentário fala sobre a resistência e o trabalho de humoristas que tentaram continuar fazendo rir durante os anos de regime militar. Pessoas como Alcione Mazzeo, Carlos Alberto de Nóbrega, Carmem Verônica, Ary Toledo, Pereio, Jaguar, Chico Caruso, Juca Chaves, Daniel Filho, Fafy Siqueira, Agildo Ribeiro, Evandro Mesquita e Boni (que insiste em chamar o golpe de revolução até no trailer, RISOS) falam sobre as revistas e jornais, como a Pif-Paf de Millôr Fernandes e O Pasquim, de vááários autores como Ziraldo, Henfil e Ruy Castro, programas especiais de televisão como a Família Trapo e tantos outros do Jô Soares, Chico Anysio e mais um tanto.

“Foi meio moleza. Meio moleza até o AI-5”, diz Jaguar, membro d’O Pasquim, no trailer. “Aí, fodeu”, completa Pereio. E é nesse foco que vão os olhares de Alê Braga, Álvaro Campos e Cláudio Manoel – sim, o do Casseta & Planeta. Juntos, eles mostram a necessidade de liberdade e o sufoco que era fazer passar um simples texto de revista ou roteiro de peça de teatro. E nesse filme, parece, há uma certa resposta para um grande questionamento: por que alguns humoristas sentem uma dificuldade tão grande de se modernizar?

Desde que fomos à entrevista do filme do Sai de Baixo você pode ler mais sobre AQUI – a fala um pouco contraditória de Miguel Falabella, que dizia não querer mudar um clássico e, ao mesmo tempo, que “nunca atirariam no bobo da corte, e sim no rei” não me saiu da cabeça. Por que a ladainha do “politicamente correto” aparece nos discursos até dos humoristas mais bacanas? Por que essa resistência a deixar de fazer piadas com mulheres, cearenses, pessoas gordas?

Talvez seja um leve trauma. Assistindo ao vídeo – e lendo algumas páginas d’O Pasquim, revendo algumas esquetes de Chico Anysio, sacamos que fazer uma piada machista ou homofóbica era, naquele contexto, um desafio à moralidade.

Aquelas caricaturas, aqueles estereótipos eram ferramentas para desafiar padrões. Mesmo que perpetuasse imagens que fizeram minorias sofrerem, quem estava junto ali pensava que isso era O JEITO de incomodar. Também tinha blackface, fantasia de gordo... tudo errado. Sempre foi, sempre será. Mas talvez esse documentário seja uma maneira de tentar compreender a mente de quem, mesmo hoje, não encontra erros graves nessas práticas. Pra argumentar, é preciso conhecer os tons de cinza das coisas. E Tá Rindo de Quê? pode ser um bom caminho.

O filme estreia dia 28 de fevereiro de 2019 – acompanhe tudinho que rola pela página deles no Facebook.