Poucos filmes conseguem ter a cara do diretor de Thor: Ragnarok tanto quanto esse. Tipo três. Dos quatro que ele dirigiu até agora. :) | JUDAO.com.br

Taika Waititi vai dirigir Scarlett Johansson e interpretar um Hitler imaginário em Jojo Rabbit

Enquanto não começa a trabalhar no aguardadíssimo Bubbles, animação em stop-motion sobre o chimpanzé de Michael Jackson (e eu tou falando sério, aqui) Taika Waititi já tá esquentando a cadeira pra dirigir Scarlett Johansson em Jojo Rabbit. A atriz está nas negociações finais pra assumir o papel da mãe de um garoto que descobre que uma garota judia está sendo escondida na casa deles, durante a Segunda Guerra.

Sim, é exatamente isso aí que você leu. Depois de lidar com o fim do mundo dos deuses nórdicos no sensacionalmente maravilhoso Thor: Ragnarok, o diretor neozelandês vai falar sobre o quase-apocalipse da Terra, sem fugir do principal tema que PERMEIA seu trabalho: relações familiares, especialmente a de pai e filho.

Em Loucos por Nada (Eagle VS. Shark), seu primeiro longa, de 2007, Taika contou a história de duas pessoas completamente estranhas que se conhecem e se apaixonam, sem saber exatamente como lidar com isso.

Lily (Loren Taylor) é a garota tímida, esquisita, que ninguém lembra que existe e todos querem excluir, que acabou de perder o emprego e que sabe-se-lá por qual motivo, razão ou circunstância, se apaixonou por Jarrod (Jemaine Clement), um cara que vive a sua vida em busca de vingança contra o valentão que fez bullying com ele nos tempos de colégio.

Um dia eles viajam para a cidade onde mora a família de Jarrod, ela conhece seu pai, sua filha — fruto de uma one night stand — e as histórias sobre o seu irmão, atleta talentoso e... morto. Não demora muito pro cara começar a tratar a Lily ridiculamente mal, achar que tá pegando a mulher por quem ele era apaixonado e, óbvio, treinar para a treta final com o seu nêmesis.

Loucos por Nada se foca, claro, muito mais na relação entre Lily e Jarrod, mas nada do que acontece entre eles aconteceria se as coisas entre pai e filho fossem mais bem resolvidas.

Boy, seu segundo filme, é mais direto nesse ponto: um garoto, que vive com a avó, primos, um bode e seu irmão mais novo que acredita ter superpoderes (de um vilão, no caso, já que a sua mãe morreu durante o parto dele), cresceu achando que seu pai era um super-herói ou algo muito próximo de um Michael Jackson — um ídolo do próprio Taika.

Quando o garoto tem 11 anos de idade e a avó precisa ir pra um funeral e fica uma semana fora, o cara (interpretado pelo próprio Taika Waititi) aparece na fazenda em que ele vive, fazendo valer e muito aquela história de “não conhecer seus heróis”: o cara é um fudido perdedor que só está lá pra encontrar um saco de dinheiro escondido anos antes.

A Incrível Aventura de Rick Baker, o título nacional de Hunt for the Wilderpeople que eu só descobri agora, além de ser o meu preferido, conta, bem, a história da incrível aventura de Ricky Baker (Julian Dennison), um garoto problemático que não consegue ficar em nenhuma família adotiva, até que encontra a casal formado por Bella (Rima Te Wiata) e Hector (Sam Neill).

Quer dizer, o moleque não para de querer fugir e coisas desse tipo, mas depois da morte da sua mãe adotiva (e melhor pessoa do mundo), ele acaba colocando o plano em prática... Só que só tem um lugar pra ir: a floresta.

Ricky Baker não consegue ir muito longe. Logo é encontrado por Hector. Mas ao invés de voltarem pra casa, os dois seguem a viagem, o que faz com que a polícia comece a perseguí-los, criando uma dinâmica maravilhosa entre os dois que, de repente, se tornam pai e filho.

“Eu amo histórias de foras da lei, renegados e pessoas que lutam contra o sistema, e essa ideia de uma dupla incompatível nessa missão pela liberdade realmente falou comigo”, afirmou Taika, na época da estreia do filme. Mas se você fingir que estamos falando de Thor: Ragnarok, um filme onde nada aconteceria se não fosse a relação de Odin com seus filhos... Encaixa, né? :)

Aí vem Jojo Rabbit. Scarlett Johansson será a mãe do garoto alemão que descobre uma menina judia escondida na casa deles. Um garoto que, como quase todos os garotos do universo, idealiza tanto o pai que, no meio da Segunda Guerra, é capaz de criar em sua cabeça um Hitley... “do bem” ou algo próximo disso.

“É a minha versão da... melhor versão do herói de um garoto solitário, que na realidade é o seu pai”, contou Waititi ao Wrap. Esse garoto é zoado pelos amigos, sua mãe não o entende direito e, com saudade do pai e no meio de tanta propaganda nazista, faz até sentido que ele acredite que o seu pai seja algo parecido com o que diziam que o Hitlem seria.

O tal Hitlex será interpretado pelo próprio Taika Waititi e, quando foi anunciado, causou um pouco de polêmica por “dar uma aliviada” no desgraçado que não nos deixa esquecer que devemos, pra sempre, socar qualquer um que concorde com suas ideias. Mas, como todos os seus filmes, é necessário entender o contexto em que as histórias se encaixam e essa é absolutamente perfeita — especialmente por ser exatamente o tipo de humor de Taika Waititi, presente em todos os seus filmes. Exatamente o tipo de história que ele melhor sabe contar.

Exatamente o motivo pelo qual esse cara é, com apenas quatro longas no currículo (O que fazemos nas sombras foge desse tema “pai e filho”, mas também é uma co-direção com Jemaine Clement), um dos meus diretores favoritos.

Jojo Rabbit, que será um dos primeiros filmes pós-compra da Fox pela Disney, deve começar a ser rodado ainda no final de Maio e ainda não tem data de estreia. Mas, como venho dizendo: em Taika Waititi we trust. :)

(Pra quem, como a gente aqui, espera um filme da Viúva Negra dirigido por ele, ficaí um primeiro passo!)