Na verdade, o John Ottman é que tava tocando isso, graças ao esforço de um de seus assistentes. O roteiro até aconteceu. Mas como você deve ter percebido, nada além disso.
Agora que a franquia X-Men chega ao seu esperado final e se despede da Fox, deixando a gente sem saber muito bem o que e QUANDO vai acontecer alguma coisa pelas mãos da própria Marvel, vamos descobrindo aos poucos pequenas deliciosas histórias a respeito do que foi e do que QUASE aconteceu com os mutantes nos cinemas. Uma das histórias que definitivamente ninguém esperava era justamente este papo, desvendado pelo THR, sobre a ideia de um filme solo estrelado por ninguém menos do que Hank McCoy, o Fera.
É, ele mesmo, um dos cinco primeiros X-Men dos gibis, que na trilogia original apareceu apenas como um coadjuvante de luxo no terceiro filme, vivido por Kelsey Grammer — mas que depois, na fase pós-Primeira Classe, ganhou um espaço maior, agora vivido pelo jovem talento britânico Nicholas Hoult. O cientista brilhante, fanático por livros, que de uma hora pra outra começa a lutar contra uma fera LITERAL que surge de dentro de si, tornando-o um doce selvagem de dentes afiados, pelagem azul e agilidade fora do comum.
O papo surgiu nos escritórios de John Ottman, compositor e editor, lá em 2016, quando o cara estava justamente finalizando X-Men: Apocalypse. Na época, seu assistente e aspirante a roteirista, Byron Burton, o mesmo que ajudou com a cantiga em polonês que Michael Fassbender recita no filme, é que veio com a ideia. Ottman achou tudo muito estranho, não tinha muita certeza a respeito, mas Burton — hoje colaborador do próprio Hollywood Reporter, vejam a ironia — garantiu que conseguia entregar uma primeira versão do roteiro em duas semanas, então o chefe pagou pra ver. E viu.
“Eu disse que ele podia dar o melhor de si, mas apenas precisava saber que tinha 95% de chance que ninguém fizesse aquilo acontecer”, conta Ottman ao THR. O ponto é que ele leu o roteiro. Gostou mesmo. E passou a acreditar que aquele diabo de ideia maluca podia funcionar.
John Ottman embarcou de vez no projeto, dando seus pitacos no roteiro e já pensando na produção como um spinoff com orçamento potencial de seus US$ 90 milhões, incluindo até mesmo a aparição especial de personagens familiares como o Professor Xavier e o Wolverine, além de uma sequência inteira na Sala de Perigo. “Queríamos algo que tivesse o pique de A Coisa, do John Carpenter, que te coloca no meio de um ambiente meio inóspito”, explica ele.
A trama, ambientada nos anos 1980, seguindo a pegada que a franquia vinha impondo desde o Primeira Classe nos anos 1960, se passaria em um vilarejo Inuit — um grupo indígena que habita as regiões árticas de Greenland, no Canadá, e também o Alaska — coberto de neve e que estaria sendo assombrado por uma misteriosa criatura. Hank estaria vivendo sua vida na Mansão X, mantendo a mutação sob controle graças ao soro que vimos em Dias de Um Futuro Esquecido (2014). Mas durante um treinamento, ficaria claro que o cara estaria com problemas em controlar sua natureza bestial, quase perdendo o controle.
Auxiliando um outro cientista com uma mutação similar, o Fera forneceria uma mostra de seu próprio soro, mas o tal sujeito sairia dos eixos, fazendo com que nosso herói partisse em busca do monstruoso amigo... chegando, claro, ao tal vilarejo, ameaçado por alguém bastante parecido com ele mesmo. A jornada levaria então a um embate no qual contaria com a ajuda do Wolverine, aquele que Jean Grey libertou e que Xavier ajudaria a localizar utilizando o Cérebro. No final, descobriríamos então que o Senhor Sinistro, aquele mesmo cujo sobrenome civil Essex foi mencionado em Apocalypse e em Deadpool 2, esteve observando tudo que estava acontecendo (saiba mais sobre o personagem clicando aqui).
“Nossa ideia era ter o Sinistro como o grande vilão orquestrando as coisas em muitos filmes”, revelou Burton. “Chegamos a escrever uma sinopse de um filme do Ômega Vermelho (vilão russo que foi a tentativa da KGB de criar um supersoldado tipo o Capitão América) que se passaria no final dos anos 1980 e cuja ideia seria basicamente ter o Sinistro testando os X-Men”.
De qualquer forma, o foco era no Fera, então Ottman levou a ideia adiante pra galera da Fox, mas foi informado de que, como eles tavam planejando usar personagens principais da franquia como Logan e Xavier, precisariam de uma aprovação de Simon Kinberg em pessoa, o arquiteto dos planos futuros dos X-Men e que inclusive já estava, na época, trabalhando no que se tornaria o filme da Fênix Negra. E Kinberg nem quis ler.
Quer dizer, sem grosseria nem nada. Mas ele não queria, de verdade, se sentir indiretamente influenciado pelas ideias ali, já que estava pensando em formas de recolocar o Wolverine no mundo dos X-Men nos cinemas depois que Hugh Jackman saiu de cena oficialmente ao final do maravilhoso Logan. Então, ver o carcaju sendo usado de alguma forma poderia complicar a sua costura. Ottman não ficou bravo com a negativa, por mais que na época estivesse tão empolgado com a ideia que chegou a considerar que ele mesmo fosse dirigir a parada caso a Fox se interessasse.
Ottman chegou a retrabalhar o roteiro, aí já apontando trechos, com um olhar de editor (no caso, inexplicavelmente premiado com um Oscar por seu trabalho em Bohemian Rhapsody), nos quais ele poderia ter problemas quando chegasse na pós-produção. Mas aí a coisa toda morreu na praia, entre um compromisso inadiável na agenda e outro.
No fim, os dois liberaram semana passada o roteiro na íntegra pra leitura de quem quiser, com o título que tinha sido originalmente cunhado: X-Men – Fear The Beast. Mas eles querem deixar claro que estamos falando de uma versão bastante preliminar. “Todo roteiro está sempre passível de mudanças. Por mais perfeito que você ache que ele está, sempre vai pintar em você uma ideia sobre algo que não parece fazer sentido ou que precisa ser refeito para melhorar”, encerra Ottman.
Para ler o roteiro completo, basta clicar aqui.