Se você deixa a preguiça de lado, facilmente encontra pequenas joias preciosas como este álbum
O rock brasileiro vive uma ótima fase já há alguns anos. A quantidade de boas bandas em diferentes pontos do país anima e impressiona. Basta tirar a preguiça do ouvido, pesquisar um pouco e se divertir com as mais variadas abordagens sonoras.
Os sergipanos do The Baggios estão entre as minhas preferidas. Formada em 2004 na cidade de São Cristóvão, o duo que conta com o o vocalista/guitarrista Julio Andrade e o baterista Gabriel Carvalho possui uma sonoridade que parte do rock e vai ao encontro, simultaneamente, do blues e de sonoridades regionais, formando um painel musical original e cativante.
Com três discos na bagagem – The Baggios (2011) e o ótimo Sina (2013), além do ao vivo 10 Anos Depois (2015) -, The Baggios mostram em seu novo disco, Brutown, uma maturidade onipresente e uma profundidade sonora maior.
A participação do baixista e tecladista Rafael Ramos tem muito a ver com isso, fazendo com que a banda possa dar alguns passos além das limitações geradas pela relação guitarra e bateria, abrindo novos horizontes e tornando reais caminhos sonoros até então impossíveis de serem trilhados. Uma evolução natural e que já foi vivida por formações similares como o Black Keys, por exemplo, que assim como o Baggios partiu da crueza do blues rock para a variedade maior de seus trabalhos mais recentes.
Brutown traz doze faixas e foi produzido por Felipe Rodarte e pela própria banda. Gravado no estúdio Toca do Bandido, no Rio de Janeiro, o álbum traz diversas participações especiais: Emmily Barreto (do Far From Alaska) canta em Estigma, Jorge Du Peixe (Nação Zumbi) em Saruê, Fernando Catatau (Cidadão Instigado) toca guitarra em Soledad, Felipe Ventura (Baleia) coloca o seu violino em Soledad e Miquim e a dupla dos Autoramas, Gabriel Thomaz e Erika Martins, faz backing vocal em Desapracatado. Além disso, a bela capa foi criada por Neilton Carvalho, guitarrista do Devotos do Ódio.
Outro ponto que merece menção é a abordagem social e política presente em várias músicas. A violência dos grandes centros urbanos é cantada em Estigma e na faixa-título, enquanto a tragédia de Mariana (MG) e o massacre do Bataclan (Paris) são retratados na linda Sangue e Lama.
As canções do disco impressionam o ouvido. Esbanjando maturidade, o The Baggios entrega um tracklist cheio de ótimas músicas, onde é até mesmo difícil encontrar destaques individuais. As já citadas Estigma e Brutown chutam o balde logo no início, com metais comendo soltos na primeira e uma longa introdução levando ao bater de cabeça na segunda. Sangue e Lama é um blues dono de uma beleza inebriante, enquanto o violino e o arranjo criado por Felipe Ventura são a cereja do bolo na linda Miquin. Medo vem com um solo de teclado na parte central que é uma delícia, enquanto o groove dá o tom na sacolejante Vivo Pra Mim.
Brutown é o melhor disco do The Baggios. E isso é um feito e tanto por um motivo bem simples: os álbuns anteriores já eram muito bons. Temos aqui uma banda que sabe o que quer, com ideias originais e claras que levam a sua música por caminhos cheios de personalidade.
Sem dúvida, um dos grandes discos lançados no Brasil este ano. Até agora, o grande álbum de rock disponibilizado por uma banda brasileira neste 2016.