Com um salário de cerca de US$ 1 milhão para o trio principal e uma renegociação no horizonte, Kaley Cuoco já deu o recado
Sitcoms não são, por essência, algo caro para se produzir. Normalmente usam apenas um estúdio, poucos cenários e uma agenda de ensaios e gravações que dura menos de uma semana por episódio. As cifras aumentam um pouco quando a série envolve um produtor de sucesso, que já provou que sabe fazer direito, mas não é nada que torne a brincadeira proibitiva.
Aí, claro, a sitcom estreia. Os capítulos são curtos, o humor é rápido, o elenco se encaixa... Boom, fez sucesso. Surgem os produtos licenciados, boxes de Blu-rays, temporadas revendidas via syndication para emissoras locais dos EUA e canais pagos do mundo todo fazendo maratonas. Eventualmente os contratos dos atores entram naquele período de encerramento e renegociação, algo que FINALMENTE traz aquilo que faz de uma sitcom ser tornar algo caro: o salário.
Você pode trocar estúdio, cinegrafista, produtor e até roteirista. No máximo, os espectadores vão sentir uma queda de qualidade, mas a maioria vai continuar lá meio que por osmose a partir do sucesso inicial. Mas os protagonistas, que são realmente a ALMA de uma sitcom, ninguém mexe.
The Big Bang Theory passou por esse processo algumas vezes, já que estreou no longínquo setembro de 2007. A última renegociação foi antes da oitava temporada, em 2014, rendendo para o trio Jim Parsons, Johnny Galecki e Kaley Cuoco cerca de US$ 1 milhão por episódio, de acordo com informações do Deadline na época. Como o novo acordo compreendeu três temporadas, 72 episódios, cada um deles irá faturar mais de US$ 70 milhões ao final do período. Já Simon Helberg e Kunal Nayyar, que fecham o QUINTETO original da produção, recebem cerca de US$ 750 mil por episódio, ou um valor total de US$ 54 milhões.
Pra você ter uma ideia, a mesma CBS pagava US$ 3 milhões por episódio da primeira temporada de Supergirl, igualzinho ao valor que a Chuck Lorre Productions paga para apenas TRÊS atores de uma série. Obviamente essa não é a única fonte de receita para a Warner com a Garota de Aço, mas certamente é a mais substancial – isso num drama de uma hora que tem elenco maior, ocupa pelo menos dois estúdios, tem mais efeitos especiais, demora pra produzir...
Com o último ano de contrato do pessoal de TBBT começando, é mais uma vez o momento de iniciar as novas negociações. É delas que depende o futuro da série para além da 10ª temporada. Por isso, quando Jimmy Kimmel perguntou na última segunda (12) para a Kaley Cuoco se teríamos um 11º ano, a reação dela foi dizer que “essa é uma questão bem cara para um monte de gente”.
E, mesmo que estivesse rindo, Kaley ainda afirmou que “sim”, 10 temporadas é o suficiente.
É aquela coisa: tá todo mundo no seu direito. Você cobra o quanto você quiser pelo seu trabalho. Se alguém pagar, ótimo. Caso contrário, ou você abaixa o preço se realmente tiver precisando do dinheiro, ou vai fazer alguma outra coisa.
É uma questão bem cara pra muita gente
Claro que a CBS quer continuar com The Big Bang Theory. A última temporada teve a SEGUNDA melhor audiência na história da série, perdendo apenas para a sétima. A Warner, então, tá rindo à toa com todo o resto da grana que consegue. Só que a conta precisa fechar, principalmente num cenário no qual outras produções eventualmente dão prejuízo, tem investidor querendo a sua PARTE NESTE LATIFÚNDIO e é preciso gastar alguma grana para encontrar o PRÓXIMO grande sucesso. Um aumento ainda maior de salário representa um risco pra isso.
Veja: na indústria do entretenimento, ninguém faz nada porque é legal. Eles fazem porque dá lucro (ou, ao menos, esperam que dê em algum momento).
Guardadas as devidas proporções, o mesmo aconteceu com Friends. Jennifer Aniston, Courtney Cox, Lisa Kudrow, Matt LeBlanc, Matthew Perry e David Schwimmer recebiam US$ 22.500 por episódio na primeira temporada. Na última, entre 2003 e 2004, eles colocaram no bolso US$ 22 milhões cada, US$ 1 milhão por capítulo – ou, considerando a inflação, US$ 1,3 milhão em dinheiro de hoje. Nesse caso específico, a amizade fora do estúdio também ajudou a inflacionar as coisas. O criador David Crane sempre quis que os seis recebessem o mesmo tempo de tela e os mesmos salários, e os próprios atores abraçaram esse ideal, inclusive negociando salários em conjunto. Enquanto isso, a NBC pagou US$ 7 milhões para ter cada um dos episódios do último ano.
Digamos que os Irmãos Warner não reclamaram muito por ficar com apenas um milhãozinho pra pagar TODOS OS OUTROS custos de produção e salários, vide a grana que chega até hoje nos cofres deles ou as inúmeras reprises de Friends no Warner Channel que, em número, só devem perder pra VT de futebol em canal esportivo.
Aconteceu com Friends, pode acontecer com TBBT e Modern Family já está na oitava temporada
Esse foi um dos motivos que inviabilizou a continuação de Friends, já que ficou impossível continuar essa ESCALADA inflacionária. E é exatamente a mesma coisa que pode inviabilizar a continuação de The Big Bang Theory, por mais que a própria CBS “espere que dure pra sempre”, como disse recentemente o CHEFÃO de entretenimento do canal, Glenn Geller.
Sinceramente? Diria que a CBS e a Warner tendem a arriscar um pouco mais, talvez negociando um ÚLTIMO contrato com os atores e dando para The Big Bang Theory mais um respiro de duas ou três temporadas. O contrato dos três principais deve chegar ao nível dos SEIS AMIGOS em dinheiros de hoje, ou seja, 1,3 ou 1,4 milhão por episódio, enquanto Simon Helberg e Kunal Nayyar também devem alcançar a escala milionária. Depois, não tem como manter a bola de neve. Acabou.
Curioso, porém: sitcoms de grande sucesso nunca acabam por terem ficado ruins (independente do que você ache), por uma queda de audiência ou por que deu no saco. É o próprio sucesso que inviabiliza a produção: foi assim com Friends, deve ser assim com The Big Bang Theory e Modern Family estreia a sua 8a temporada daqui a pouco...