Produtora do longa original abre crowdfunding para custear piloto de uma história que promete retomar (e fechar) a trama iniciada há quase 15 anos
“Certa madrugada, num dormitório da faculdade, quatro caras socialmente ineptos começam a mergulhar num mundo de fantasia criado por eles mesmos. Enquanto seus personagens se encaminham numa jornada por reinos proibidos, ruínas ancestrais e florestas nunca DANTES visitadas, os jogadores tentam resolver um misterioso quebra-cabeças que pode significar a diferença definitiva entre a vida e a morte. Quem é o Sombra? Onde a Princesa está escondida? Será que algum dia qualquer um deles vai arrumar um encontro? E quanto tempo vai demorar até que os vizinhos se incomodem e chamem a polícia?”
Esta é a apresentação oficial de The Gamers, produção independente escrita e dirigida por Matt Vancil no agora longínquo ano de 2002, sob o selo da Dead Gentlemen Productions, fundada em 1999 por um grupo de jogadores de RPG que resolveram rodar anos antes seu filme de baixo orçamento sobre jovens caçadores de demônios batizado de...Demon Hunters. Os caras eram, obviamente, influenciados pela ambientação dos jogos, mas o caso é que eles até se levavam a sério. Não é o que acontece com The Gamers, assumidamente uma comédia inspirada não no RPG, mas sim no cotidiano dos seus jogadores. A narrativa passa o tempo todo da mesa na qual eles estão reunidos jogando direto para o que está acontecendo com os seus personagens – que, por sinal, são os mesmos atores que interpretam.
Assim como as referências sobre quadrinhos dos filmes dirigidos por camaradas como Kevin Smith, as piadas e as situações são imediatamente reconhecidas por mestres e jogadores, do integrante do grupo que se torna um insuportável advogado de regras (recorrendo aos livros a cada cinco minutos) ao cara que falta à sessão de jogo e cujo personagem perambula pela aventura como uma espécie de zumbi (ah, o Mark). Conheci o filme naquela época, ainda escrevendo no saudoso site A ARCA, 20 anos na cara, e pirei. Tanto é que entrei em contato com os sujeitos da Dead Gentlemen, que me mandaram uma cópia do filme e ainda me pediram para ajudar nas legendas em português. Missão dada, missão cumprida. ;)
Verdadeiro hit dos encontros e eventos de RPG do começo dos anos 2000, agora The Gamers vai se tornar uma série, cujo piloto de 45 minutos acaba de entrar para financiamento coletivo no Kickstarter. A ideia é que o restante dos episódios da primeira temporada sejam então posteriormente custeados pelos colaboradores do Patreon. “Não queremos ficar fazendo uma campanha de crowdfunding atrás da outra, né?”, explicam eles, na página da campanha.
Uma parceria da Dead Gentlemen com a empresa-irmã Zombie Orpheus Entertainment (responsável pela comédia de fantasia JourneyQuest, não por acaso também inspirada nos arquétipos básicos do RPG), a temporada inicial da série tem produção de Don Early e Lindy Bousteld, com roteiro de Ben Dobyns (que também é o showrunner) e direção de L. Gabriel Gonda — tudo, obviamente, baseado na obra original de Matt Vancil.
Quem teve a chance de ver o primeiro The Gamers, com certeza vai se lembrar que ele acaba com os personagens vividos pelos jogadores atravessando uma espécie de portal do reino de Fartherall para a Terra, vindo parar aqui e dando cabo dos próprios jogadores que os interpretavam. E desde então, o elfo arqueiro Newmoon, o ladrão Nimble, o mago Magellan (ou seria Ambrose?) e o bárbaro Rogar estão perdidos por aqui. É este gancho que a história promete aproveitar. Afinal, enquanto o quarteto está misturado e ambientado ao nosso mundo, um novo grupo de jogadores (Zach, Charlie, Jamie e Brad, sob a batuta da mestre Megan) encontra, muitos anos depois, as fichas de personagem e anotações originais dos caras que os criaram e jogavam com eles. E resolvem usá-las... para jogar. E finalizar a história de onde ela parou.
A promessa é que, na busca por um portal de volta para Fartherall, este novo grupo, ao lado dos personagens clássicos (obviamente vividos pelos quatro atores originais), lute contra as forças do temível e sempre misterioso vilão The Shadow (pronuncie na sua cabeça do jeito mais pomposo possível, preferencialmente finalizando com uma risada macabra), também ocultas aqui na nossa realidade.
A série conta ainda com a participação especial do ator Russell Hodgkinson (de Z-Nation e filmes como Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas) interpretando um certo Professor, sobre quem não sabemos uma caralha ainda. Ou melhor, sabemos pelo menos UMA coisa: foi ele quem desenvolveu o jogo de RPG que nossos amigos jogavam antes de serem mortos por seus próprios PCs...
Para quem acompanha o trabalho da Dead Gentlemen, talvez uma das grandes graças desta série seja ainda a promessa de que ela vai integrar o primeiro The Gamers com os outros dois, que não podiam até o momento ser considerados continuações porque contavam histórias diferentes até agora. Ambientada cronologicamente no mesmo período em que acontecem os eventos de The Gamers: Hands of Fate (de 2013, cujo foco é num romance que se desenvolve durante a competição de um card game que, claro, é muito similar ao Magic), a série também fará link entre os quatro malucos do filme de 2002 e o segundo grupo, liderado pelo mestre Lodge, de The Gamers: Dorkness Rising (2008). A intenção é que tudo ajude a desembocar em The Gamers 4, um último filme a ser produzido depois da série e que vai amarrar as pontas, misturar todo mundo e provar que eles também estavam, a seu modo, contando uma saga integrada.
Para tentar ajudar a ambientar um pouco mais a ideia, eles criaram não apenas pequenos episódios especiais sobre os heróis, mas também uma espécie de “episódio 0”, que deveria ter sido a cena pós-créditos de Hands of Fate e mistura todos os elencos, dando a entender que Nimble está adaptadíssimo ao nosso universo, afinal de contas... ;)
Uma outra constatação interessante aqui: se no The Gamers de 2002 era visível que eles estavam jogando Dungeons & Dragons, esta nova versão tem livros de Pathfinder espalhados pela mesa. Afinal, pudera: uma das recompensas da campanha é justamente uma adaptação da série para o mundo do RPG, feita pela editora Rogue Genius Games, e usando as regras e ambientação de Pathfinder. O tempo passou e as coisas REALMENTE mudaram, não é mesmo?