The Rock já mudou a história do Universo DC nos cinemas | JUDAO.com.br

Ok, talvez Ben Affleck não seja o único capaz de salvar o DCEU: basta a Warner aproveitar uma chance única com uma das figuras mais carismáticas a colocar os pés em Hollywood.

Foi em 2012 que o termo “Viagra de Franquias” passou a aparecer ao lado do nome de Dwayne “The Rock” Johnson. Culpa de John Chu, diretor de G.I. Joe – Retaliação, que assim denominou o CAMPEÃO DO POVO durante a CinemaCon daquele ano. “Ele criou uma marca pra si mesmo diferente de todos os astros até então, e traz energia para as propriedades que precisam”, disse o cara, na época.

Bom, vamos a alguns fatos: o primeiro filme dos COMANDOS EM AÇÃO faturou US$302 Milhões ao redor do globo, enquanto o segundo, com The Rock, passou os US$375 Milhões; Viagem ao Centro da Terra bateu os US$241 Milhões mundialmente, enquanto Viagem 2: A Ilha Misteriosa faturou mais de U$335 Milhões.

Se der pra chamar de franquia, sua única falha foi com Be Cool, a sequência TEMPORÃ de O Nome do Jogo, que faturou apenas US$95 Milhões, contra US$115 do primeiro filme.

Velozes e Furiosos é, obviamente, um dos destaques, já que havia ganhado US$964 Milhões de dólares com seus quatro primeiros filmes. Nos outros três, com The Rock, conseguiu US$2.9 Bilhões de dólares — US$626 Milhões só com o quinto filme, que marcou a estreia do Hobbs na franquia e, em resumo, mudou a cultura pop.

O outro destaque, e o mais importante de todos os casos, é o d’A Múmia, que tinha ganhado cerca de US$415 Milhões de dólares pelo mundo até The Rock chegar na franquia, o que somou mais US$588 Milhões. Mais do que isso, porém: o seu personagem, Escorpião Rei, ganhou um filme só seu.

Em outras palavras: um lutador da WWE chegou numa franquia num papel aleatório e assumiu aquela série de filmes, fazendo com que tal personagem ganhasse um filme só seu. Não é qualquer um que consegue transformar um coadjuvante em protagonista dessa maneira.

Nem People’s Elbow, nem Rock Bottom. O grande poder de Dwayne Johnson está no seu incomparável carisma, o que fica claro em absolutamente todos os filmes que fez, nos quais simplesmente deixamos de lado o seu talento de interpretação com uma pegada pra lá de canastrão. Com certeza tem gente que compra ingresso só pra ver The Rock na telona, mas o seu papel principal é fora da sala escura. É nas imagens de divulgação, no trailer, no pôster.

É realmente como o Viagra: o cara chega, pega o que já tem por lá, e direciona para onde precisa.

Dwayne faz com que o universo todo se interesse por um filme, seja ele qual for. Depois do ingresso comprado, isso não é mais com ele. Nada — absolutamente nada — consegue abalar sua imagem. Ele segue arrumando sua abotoadura, um jatinho por vez.

Na última semana, depois de um silêncio bastante longo, The Rock fez o que melhor sabe fazer pra iniciar o fogo do hype e ver o universo se incendiar, ao postar no seu Instagram uma foto no escritório da DC Entertainment e comentar sobre uma reunião “muito legal e estratégica” que teve com os chefões sobre “todo o universo”.

“Como um fã hardcore da DC, entender exatamente as mudanças de tom e desenvolvimentos que virão nos próximos filmes me empolgou demais”, disse. “É algo que nós, como fãs da DC, esperamos há muito, muito tempo. Esperança, otimismo e DIVERSÃO. Mesmo quando falamos sobre o mais implacável vilão / anti-herói de todos os tempos ganhando vida”.

Eu ainda acredito que, cinematograficamente falando, é Ben Affleck que pode salvar os DC Filmes. Mas bastou um post no Instagram pra eu começar a acreditar que, bem antes disso, The Rock é quem salvará do afogamento o já quase sem espaço pra respirar DC Expanded Universe. Como? Simplesmente entendendo o universo — não só do DCEU, mas dos quadrinhos em geral.

Esperança, otimismo e diversão deveria ser a base de qualquer filme de super-herói

Porém, contudo, entretanto, todavia, Dwayne Johnson já foi além. Ele não será mais apenas e tão somente o vilão / anti-herói do filme do Shazam!. Conhecendo muito bem o efeito The Rock em uma franquia (e precisando dele, por que não?), a Warner resolveu apressar um pouco mais as coisas e, de acordo com o Deadline, vai “dividir o Shazam! em dois”, dando a Dwayne o seu próprio filme.

Sim, The Rock vai interpretar o Adão Negro em um filme solo que, pelo andar da carruagem, aparecerá por aí mais rápido do que imaginávamos até bem pouco tempo atrás. Não temos nenhuma informação mais detalhada sobre isso, mas é o que deve acontecer. Antes do Shazam!.

É o efeito Múmia / Escorpião Rei com uma dose própria de Viagra, mas é também um movimento arriscado da Warner. No caso, arriscado por investir em um personagem muito pouco ou nada conhecido do grande público, mas com um ator que vai garantir tudo o que mais interessa para a caixa d’água. De uma certa forma, aliás, parece muito com o que a Marvel fez lá em 2008, colocando nos cinemas um filme do Homem de Ferro, estrelado por Robert Downey Jr.

The Rock pode ser o Robert Downey Jr. que o DC Extended Universe precisava.

O curioso nisso tudo é que o Adão Negro não é, originalmente, nem personagem da DC. Na verdade, tudo começou lá na Fawcett Comics. Foi a editora que, durante a Era de Ouro dos Quadrinhos, introduziu o Capitão Marvel, que seguia muito das fórmulas dos super-heróis da época e foi criado por Bill Parker e C.C. Beck em 1940. O herói – que era um garoto normal, chamado Billy Batson, que gritava o nome do mágico Shazam para se transformar no Mortal Mais Poderoso da Terra – foi um sucesso quase que instantâneo, levando à criação da Família Marvel, com vários personagens com poderes parecidos. Um dos grandes trunfos, comparado com outros gibis da época, era que essas histórias sabiam misturar boas doses de humor.

Em 1945, Otto Binder e Beck introduziram uma CONTRAPARTE maligna pro herói principal em The Marvel Family #1. Tudo começou com Teth-Adam, um egípcio de PRISCAS ERAS que fora escolhido ainda durante o Egito Antigo pra ser o sucessor de Shazam, recebendo os poderes de divindades GREGAS (algo que depois foi trocado pelas egípcias, porque, você sabe, a Grécia é outra coisa). Com tantos poderes nas mãos, Teth mata o faraó e causa a ira de Shazam, que o batiza de Adão Negro e o bane para um universo distante.

Isso até 1945, né, que é quando o Adão volta para enfrentar a Família Marvel. Começa uma treta que nunca se resolve, porque todos possuem os mesmos poderes, até que o TIO MARVEL (sim, isso existe) tem uma ideia genial: enganar o vilão para que ele fale “Shazam!”. Automaticamente Teth fica sem poderes, com o corpo retornando para o estado de um humano com 5 mil anos de idade. Ou seja, ele vira pó.

Aquela acabou sendo a única aparição de Adão Negro na Fawcett. A editora havia crescido muito naqueles anos e, por causa disso, provocou a ira da Distinta Concorrência, que acreditava que o Capitão Marvel era uma cópia descarada do Superman. Rolou um #processinho e uma enorme briga jurídica. Após o final da Segunda Guerra Mundial, as vendas de gibis caíram, a Fawcett não tinha como bancar esse rolo todo e simplesmente desistiu do Marvel, Adão Negro e de toda a Família Marvel.

Em 1953, a Fawcett abriu mão de toda a sua linha de HQs de super-heróis e o Adão Negro, junto com o Capitão Marvel, foi pro limbo – abrindo caminho para uma CERTA Casa das Ideias registrar o título Capitão Marvel para si. Foi só em 1972 que a DC licenciou os direitos do personagem, voltando com o herói e também com o vilão – agora revivido por outro antagonista de Billy Batson, o Dr. Silvana.

Em 1985, na Crise nas Infinitas Terras, todos aqueles personagens foram finalmente incorporados ao resto do PANTEÃO da editora e isso, claro, abriu caminho para uma nova origem pro Adão Negro. Nessa segunda versão, de 1987, foram feitos pequenos ajustes, além do personagem deixar de ser caucasiano para ter uma cor de pele mais próxima daquela dos egípcios, além de ser mais cruel e tal.

Em 1994, após a saga Zero Hora, veio uma nova origem. Naquela vez, Teth-Adam foi o campeão do Egito Antigo por séculos, até ser corrompido pelo poder dos deuses que carregava, se transformando no faraó e sendo banido pelo Shazam. A diferença começa no presente: o arqueólogo Theo Adam mata os pais de Billy Batson, encontra a tumba do Adão Negro e, lá, pega um escaravelho. Eventualmente ele descobre que é a reencarnação de Teth, grita “Shazam!” enquanto usa o objeto e se transforma novamente no Adão Negro.

Já tá achando confuso? Calma que tem outras mudanças. No final dos anos 1990, nas páginas da Sociedade da Justiça, o Adão Negro voltou afirmando que ele não é Theo Adam e que não foi responsável pela morte dos Batson, o que é provado por meio de exame das impressões digitais. Na verdade, o Adão Negro seria uma ~boa pessoa, influenciado pelo lado ruim do Theo.

Poucos anos depois, na fase de Geoff Johns e David S. Goyer (sim, ele mesmo) em JSA, descobrimos que o Adão Negro tem todo um lado militar, com um senso de justiça bem EUA na Guerra Fria. Além disso, fica definido que Adão vem de um país chamado Kahndaq, do qual foi tirano.

De certa forma, essa fase é o auge do personagem, rendendo boas histórias na Sociedade da Justiça e colocando-o como um grande antagonista para todo o Universo DC. A grande sacada aqui é que ele não era um herói ou um vilão, mas sim alguém com uma visão bem particular de “bem” e “mal”, o que o faz ficar frente à frente dos outros heróis – e até matá-los. Um personagem que renderia um filme solo mais interessante, inclusive.

Na sua primeira chance de fazer algo grandioso e importante, sabemos qual foi o resultado. A Warner ainda tem outros filmes dos personagens da Liga da Justiça, além do próprio filme da equipe, mas todos eles estão envoltos em enormes fumaças de DESESPERANÇA e medo. E não parecem muito preocupados, também, com a história das Gotham City Sirens e o roteiro de Green Lantern Corps nas mãos do roteirista de Man of Steel e Batman VS. Superman.

Adão Negro é uma nova oportunidade de fazer algo sem absolutamente nenhuma pressão e com Dwayne Johnson que, tal qual o saudoso Tite, tem também o poder de absorver tudo que vem de dentro e de fora, sem absolutamente nenhum tipo de reflexo e ainda desvia as atenções dos problemas para as mirabolantes soluções.

Mas é bom ninguém se enganar: o Viagra pode redirecionar todo o sangue pra onde ninguém conseguia, mas a performance ainda depende de diversas outras partes do corpo. Então segura sua onda, Warner, e faz essa porra direito pra variar.