SÓ PRÁ CONSTÁ SPOILER! Brasileiro não sabe brincar de série. Não faz parte da nossa cultura. Aqui, esperar mais do que 48h por um episódio é um sacrifício, com as novelas sendo exibidas de segunda a sábado. Mesmo o que, lá atrás, chamavam de “enlatados americanos”, costumam ser exibidos de uma vez, todos os dias, e na TV Aberta. Devidamente dublados, claro.

“Ah, mas” não. Segundo a 25a Pesquisa Anual Sobre o Uso de Tecnologia da Informação, divulgada em Abril de 2014, 97% da população Brasileira tem TV. “O Brasil vai chegar a uma televisão por habitante neste ano”, previu, contando com a Copa, Fernando Meirelles, coordenador da pesquisa. De acordo com o IBGE, hoje, a projeção da população do Brasil é de mais de 204 Milhões de pessoas. Ou seja: há pelo menos 197 milhões de TVs no Brasil. APARELHOS.

No segundo semestre de 2014, eram pouco mais de 19.4 Milhões de assinaturas de TV fechada, de acordo com a ABTA, o que significa que cerca de 60 milhões de pessoas tem acesso a TV fechada, uma vez que a média de pessoas por residência é de 3 e uns poucos quebrados.

Uma pesquisa do IBOPE mostra que pelo menos uma em cada três assinaturas são usadas para nada, absolutamente NADA além de ficar o tempo todo na Globo. Os outros canais mais assistidos na TV fechada são Record, SBT e Band. Cerca de 60% das assinaturas só existem por conta de canais abertos.

Brasileiro tá acostumado a assistir a Arquivo X com dois anos de delay, Brasileiro tá acostumado a assistir a uma série no SBT e de repente não encontrá-la mais, Brasileiro tá acostumado a sentar a bunda na frente da TV pra assistir a Tá no Ar no horário marcado mas precisar esperar terminar o programa do Gugu na outra emissora, Brasileiro tá acostumado com o horário de Agents of SHIELD ser “depois do Programa do Jô”. Quando a Fox anuncia que vai exibir o season finale de The Walking Dead “na mesma noite e apenas uma hora depois da transmissão nos Estados Unidos”, a galera vai à loucura.

Desde que estreou no Brasil, em 2010, The Walking Dead é um OASIS, sendo inicialmente exibida com 48h de diferença dos EUA e, depois dos spoilers do mid-season finale no ano passado, passou a ir ao ar 24h depois. Se às terças já não fazia sentido baixar o episódio, às segundas nem dá tempo. Acaba tarde no domingo, há todo um dia útil pela frente, chega a noite e tá lá. Legendada, dublada, do jeito que você quiser.

Só que, desde que estreou no Brasil, em 2010, The Walking Dead tropeça na absoluta falta de cultura de séries por aqui — ou uma simples cultura de TV diferente, em que o horário precisa ser respeitado, acima de tudo.

Na exibição do primeiro episódio, a Fox “cortou” 15mins dele, alegando se tratar de uma “versão do diretor” e, como o canal que a exibe lá fora tem uma grade mais flexível, por exibir basicamente filmes, aqui no Brasil foi o episódio “normal”, já que a grade da Fox, que é de séries basicamente, tem espaços de 1h e, portanto, não daria certo. No terceiro episódio, por qualquer razão, TODA a grade foi adiantada naquele dia, o que significa que no momento em que a série deveria começar, bom... Ela já tinha começado.

Fiquei um bom tempo sem assistir à série, mas voltei a acompanhar semana a semana nessa quinta temporada. The Ballad of Rick & Friends novamente me PEGOU e, nesse quinto ano, deu mais gosto de acompanhar a história, focada mais em que sobrevive do que em quem já pereceu. O problema é que, às segundas, tem Monday Night RAW, ao vivo — em outro canal do grupo Fox, olha só! — e eu sou só um. Acabando às 00h e uns quebrados, é perfeitamente possível que eu assista ao último episódio de The Walking Dead na sequência, devidamente gravado no DVR. É simples: seleciona o que você quer ver na grade do canal, botão vermelho, pronto.

Só que não.

Queria estar morta!

Na faixa de “The Walking Dead” do 14o Episódio, que tinham reservados 39mins, apenas 26mins da série foram exibidos. E eu não achei que seria necessário gravar o que quer que viesse na sequência — algo COSTUMAZ em relação à TV aberta — já que o Canal Fox exibe essencialmente coisas que tem horário definido. Não há sequer RAZÃO pra grade ficar torta.

E aí chega o season finale, que eu poderia assistir sem gravação, se na mesma hora não estivesse rolando um dos melhores WrestleManias da história. Ao vivo, novamente. Dessa vez, ESCOLADO, coloquei pra gravar a porra toda: Porta dos Fundos, The Walking Dead e Exterminador do Futuro. NÃO TERIA ERRO.

Só que não.

Na faixa de The Walking Dead, foi exibido o 15o episódio e o início do 16o e último. Na sequência, foi T4, mesmo, desde o início, bem bonitinho. O que a foda aconteceu? Bom... Aconteceu que não sabem brincar de TV. Não sabem brincar de série.

Provavelmente, rolou uma mudança de grade de última hora. Fato, a faixa de The Walking Dead que coloquei pra gravar, dizia “Episódio 15”. Estranho era, mas também não havia mais nada depois. E, mesmo se tivesse um “Episódio 16” e eu tivesse gravado, teria perdido o início, que ficou na outra faixa.

Nos EUA, a faixa reservada pro episódio foi de 90mins, com intervalos. Sem eles, o episódio tem exatos 64mins — um número não só quebrado como DESTRUÍDO pra qualquer grade em qualquer lugar. Penso que é LOUVÁVEL a iniciativa da Fox de exibir o episódio com “1h de diferença” (e antes da Costa Oeste, bom que se diga), sem comerciais.

Mas de que adianta tudo isso se caga exatamente no mais básico?

ಠ_ಠ

Enfim, acabei indo até a Argentina pra assistir ao episódio e acho que há outros muito mais “cliffhangers” nessa temporada do que esse, especificamente — que meio que resolveu uma treta e vai começar outra do zero, sem muita tensão. E não, não faço a menor ideia de quem são os Wolves — tirando que, obviamente, é um grupo que vai tentar invadir Alexandria, exatamente como fizeram com o condomínio em que morava o Noah. Ah, sim: aquele “The New World is gonna need Rick Grimes” tá explicado. :P

E taí a história do começo da sexta temporada, que eu espero conseguir assistir tranquilamente na minha TV, toda segunda, depois do Monday Night RAW. :P