Primeiro e sensacional trailer nos faz relembrar uma passagem triste – porém importante – da história da heroína. Aí ela aparece bem no centro da Liga da Justiça AÍ SIM!
Painel da Warner Bros. no Hall H da San Diego Comic-Con. Telão enorme aberto, luzes apagadas... hora de falar do filme da Mulher-Maravilha (com hífen, viu queridos amigos da Warner Brasil) e de mostrar o primeiro trailer.
Trailer direto, certeiro. Se lá em 2007 falávamos que Robert Donwey Jr. nasceu para ser o Homem de Ferro, hoje podemos falar que a Gal Gadot nasceu para ser a Mulher-Maravilha. Ela dá o tom perfeito pra heroína, mostrando toda a força que tem sem parecer exagerada.
E putaquepariu, como é bom vê-la chutando bundas.
Como apresentação do filme, o trailer já tinha me conquistado. Cara, até mesmo o PÔSTER já funcionava. Mas aí chegou a última cena, aquela pra encerrar a brincadeira. “O que é uma secretária?”. “Na minha terra, isso se chama escravidão”. BOOM.
Obviamente, esse final é uma crítica social. Mas tem algo mais aí. Proposital ou não, a diretora Patty Jenkins e os roteiristas Allan Heinberg e Geoff Johns acertaram num dos pontos mais polêmicos de toda a história da Maravilhosa: ela ter sido a SECRETÁRIA da Sociedade da Justiça da América.
William Moulton Marston, criador da personagem, era a favor do feminismo, psicólogo, advogado, inventor e roteirista, teve um relacionamento com duas mulheres ao mesmo tempo e, digamos assim, foi um cara à frente de seu tempo. Com essas duas mulheres – Elizabeth e Olive – em mente, ele criou uma personagem para que inspirasse as outras mulheres a lutar pelo que acreditavam. Aproveitou a febre de HQs no começo dos anos 1940 para criar, ao lado do artista Harry G. Peter, a Mulher-Maravilha para a editora All-American Publications – uma das três que, depois, daria origem à DC Comics.
“Mulher-Maravilha é a propaganda psicológica para o novo tipo de mulher que deveria, eu acredito, comandar o mundo”, disse Marston. Por isso, Diana Prince era forte, poderosa, lutando por aí sem precisar da ajuda de qualquer homem e que não ficava chorando pelos cantos por causa do amado (algo comum naqueles tempos). Ela foi a primeira representação pública de um ideal no qual as mulheres poderiam se inspirar.
Vender gibis, naqueles tempos, era como vender Coca-Cola com duas pedras de gelo e uma rodela de limão no Gonzaga durante o verão. Além de toda a motivação feminista, que atraia uma parte dos leitores que não eram identificados com os outros heróis, a Mulher-Maravilha ainda saia por aí chutando a bunda de nazistas ao lado de Steve Trevor – e todo mundo amava ver bundas nazistas sendo chutadas.
Sucesso absoluto.
Aí surgiu a ideia de colocar a Maravilhosa como integrante do primeiro supergrupo da editora, a Sociedade da Justiça da América. O time já tinha uma galera como Flash, Spectro, Batman, Superman e Pantera, então seria legal a primeira adição feminina. Na edição 11 de All-Star Comics, Diana integra a Sociedade para lutar contra o Japão após o ataque de Pearl Harbor. E ela manda muito bem, sim senhor.
Só que Marston não gostou nada de ver a sua grande criação nas mãos de outro roteirista – no caso, do grande Gardner Fox. Com medo de ver a heroína colocada em situações que ele não aprovada, o criador foi arranjar treta com a editora.
Basicamente, Marston queria controle total sobre a Mulher-Maravilha, só ele escreveria qualquer coisa envolvendo ela. A editora aceitou. Por outro lado, o próprio criador não conseguia dar conta da demanda de HQs com a personagem – além de All-Star Comics ainda havia Sensational Comics, Comic Cavalcade e a própria revista Wonder Woman. A SJA ficou de lado, mas Diana já estava ali e, obviamente, ajudava nas vendas. O que fazer, então?
Foi aí que alguém teve a “brilhante” ideia: fazer da Mulher-Maravilha a secretária do grupo. Afinal, “ela é mulher”, alguém deve ter tido. Isso justificaria o fato dela só aparecer rapidamente, ter duas falas e ficar na base enquanto os coleguinhas salvam o mundo.
A personagem que deveria inspirar todas as mulheres a se tornar algo maior, a lutar pelo que acreditavam, se transformou numa secretária
O convite da Mulher-Maravilha pro cargo de secretária rolou na edição 13 de All-Star Comics, com ela toda emocionada. A partir daí, Diana passou a ser creditada como SECRETÁRIA no começo de todas as HQs do grupo. Inclusive, o gibi vinha com um certificado de “membro júnior” da sociedade, pra ser preenchido pelo leitor, e que era também assinado pela Diana Prince, como secretária.
Marston, surpreendentemente, não fez nada. Na cabeça dele talvez fosse um “mal menor”, preferível ao ver a heroína que criou sendo usada “de forma errada”. Ele morreu em 1947, quando tinha apenas 53 anos, e a partir daí a Mulher-Maravilha se tornou efetivamente uma integrante da Sociedade da Justiça, lutando ao lado dos homens. Isso não impediu de ter passado por outras vergonhas alheias, também... Papo pra outro hora.
Por tudo isso, quando Diana Prince critica a função das mulheres na sociedade, ela também está criticando um pouco do que fizeram com ela mesma.
Depois, ainda no painel da Warner, rolou também Liga da Justiça, começando pela primeira imagem oficial do filme, com justamente a Maravilhosa no centro. Veio o primeiro trailer e...
Veja, não está ruim. Até que instiga pra ver o filme, há um equilíbrio maior entre ação e diversão e tudo mais, mas... parece faltar algo, principalmente depois do que vimos no trailer da Mulher-Maravilha.
É muito cedo para apontar problemas ou críticas, mas o trailer também deixa um certo ar de preocupação. Veja que Barry Allen é retratado como um cara isolado, sem amigos, sem nada. Um outsider, que vai entrar nessa brincadeira de Liga da Justiça só porque se sente sozinho.
Uma diminuição EXTREMA do personagem.
Dá pra entender o motivo: a Warner foi pelo atalho. Enquanto a Marvel levou anos e anos definindo os personagens para aí sim juntar Os Vingadores, a galera dos filmes da DC não tem esse tempo todo. Assim, fica mais fácil colocar o Barry isolado, pra não ter que perder tempo mostrando isso. Depois, ampliam esse lado no próprio filme do personagem. Mas, né?
A própria Warner sabe que dá pra dizer muito sobre personagens sem que se conheça suas histórias, como Mad Max: Estrada da Fúria mostrou. Aliás, o que George Miller faria com a Liga, hein? :P
Vamos esperar pra que isso não aconteça também com Cyborg e o Aquaman. E que Liga da Justiça consiga ser um bom filme. :)