Trilha brilhante, aliada ao talento de um jovem chamado Spielberg, ajudou a transformar um “pobre peixinho” em terror de toda uma geração de fãs de cinema
Quem é o maior predador natural do homem? Não, não me venha gastar o seu latim com Homo homini lupus, “o homem é lobo do homem”, a expressão que Thomas Hobbes arrotava por aí. Estou falando de um animal que, em outras circunstâncias, sem toda a tecnologia que temos ao nosso redor, sem a tal da civilização, representaria um perigo real à nossa sobrevivência.
Lembrando, claro, que os dinossauros estão extintos e que o Godzilla não existe, ok?
Você tem uma resposta na ponta da língua, né? Deixa eu acabar com a sua graça, então. Não, não é o tubarão. Na verdade, os cientistas defendem que é o urso. Em especial, o urso polar, que é a mais carnívora das espécies de ursos, aquele com mais instintos de caçador, o que é mais silencioso e fatal em seus ataques.
Ah, mas tudo bem. Eu também responderia assim, de imediato, que são os tubarões. Você sabe o motivo? Eu te conto. Ou melhor, eu te mostro:
É, aquele velhinho de cabelos brancos conduzindo a orquestra é ninguém menos do que John Williams. E a música, claro, é o inesquecível tema de Tubarão, clássico dirigido por Steven Spielberg. Uma canção tensa, poderosa, que parece ser a trilha perfeita para uma situação de perigo extremo, de uma caçada que te deixa completamente sem saída, sentindo-se pequeno, indefeso, paralisado.
Dia destes, estive no Aquário de São Paulo com o meu filho, sabe? E em um dos tanques, lá estava um pequeno tubarão, meio adormecido, parecia. Nos poucos minutos em que estive de frente para o vidro, nada menos do que TRÊS sujeitos diferentes que pareciam ter mais de trinta anos colaram do meu lado e, entre um comentário e outro, cantarolaram um trechinho desta música. Não os culpo. Porque o diacho da composição do John Williams estava tocando na minha cabeça também.
O inesquecível trabalho da dupla Williams + Spielberg colocou os tubarões definitivamente no imaginário pop como criaturas sedentas de sangue, verdadeiras máquinas caçadoras do fundo do mar...por mais que alguns cientistas discordem. “O filme perpetuou o mito dos tubarões como comedores de homens... por mais que as chances de uma pessoa entrar no mar e ser atacada por um tubarão sejam mínimas”, opinou certa vez George Burgess, biólogo da Universidade da Flórida especializado nos bichões, em entrevista a uma revista científica.
O pavor começou, na verdade, lá no distante verão de 1916, quando aconteceram uma série de ataques à banhistas na costa de Nova Jersey, creditados a um grande tubarão branco. Foram estas histórias, sobre um rastro de sangue boiando na água, que inspiraram o escritor Peter Benchley a escrever o livro batizado de Jaws – que inspirou o trabalho de um jovem Spielberg, em 1975. Ainda sem nenhum grande sucesso na carreira e, adivinhem só, sem a possibilidade de usar como gostaria o já lendário tubarão mecânico (que deu pau), o cineasta foi buscar no mestre Hitchcock a solução para o seu problema técnico. O mal sugerido. Que quase nunca aparece. Uns bons truques de câmera. E aquele música, ah, aquela música, sempre ela. O caldeirão ganhou uma boa dose de suspense psicológico e, bingo, surgia um dos mais apavorantes monstros do cinema moderno.
“O medo de ser devorado é inerente às pessoas”, explica o professor de biologia marinha da Universidade Internacional da Flórida, Mike Heithaus. “Se sentimos que temos algum controle ou qualquer chance de lutar, a situação nem é tão apavorante. Com tubarões, cara, não tem árvores para você subir – e você não vai poder nadar mais rápido do que eles, com certeza”. O oceano é um terreno inexplorado, você não sabe o que se esconde abaixo de você. E Burgess finaliza: “Ainda existe gente que tem medo de colocar os pés na água por causa do filme Tubarão”. Mais de três décadas depois... Spielberg, seu danadinho.
Sei lá se você é destes que ainda têm pavor de entrar na água. Mas não deveria, isso sim, é perder a chance de ver a Maratona Tubarão, que vai rolar no Megapix nesta segunda-feira, dia 2 de fevereiro, a partir das 10h. Serão os quatro filmes, na sequência. E se o seu sobrenome não é “Brody”, tudo bem, acho que não precisa se preocupar.
Só acho.
Urso polar, hein? Sei. Quando o John Williams fizer uma música-tema pra você, a gente conversa.