Tudo começou como um sonho de uma noite de verão... | JUDAO.com.br

A história da lenda ANTES de ser uma lenda

A-Arca JUDÔNICA tem como INTUITO resgatar algumas das melhores publicações dos quase 15 de existência do Judão... e d’A-Arca. Republicaremos por aqui algum artigo, entrevista, podcast ou qualquer coisa que tenhamos feito na nossa vida que faça algum sentido nos dias de hoje. Gotta get back in time!

Superman, o primeiro super-herói da história. Ok, essa afirmação pode ser um pouco polêmica, mas com toda a certeza foi o Homem de Aço que definitivamente criou todo um segmento do imaginário moderno e da cultura pop, dessas maravilhas que usam roupa colada colorida e salvam a Terra dos grandes perigos.

E foi num dia 18 de Abril que toda essa mudança começou, com a publicação de Action Comics #1. Há exatos 80 anos, numa noite de verão...

18 de abril de 1938. Foi desse dia, há 75 anos, que a então pequena Detective Comics, Inc. colocou nas bancas dos Estados Unidos a primeira edição da revista Action Comics #1. Era a primeira vez que aquela nova mídia, ainda chamada por muitos estadunidenses simplesmente como “comic strips”, apresentava algo totalmente inédito. Homens combatendo o crime não eram uma novidade (o cinemas e os quadrinhos já tinham alguns, incluindo o Fantasma), mas era a primeira vez que um herói era extremamente forte, rápido e capaz de pular prédios com apenas um salto.

Não era mais um herói que estava ali. Era um SUPER-herói. Superman. O primeiro deles.

Action Comics #1 teve uma tiragem de 200 mil exemplares (número modesto pra época) e, com o tempo, não apenas se tornou um sucesso, mas criou todo um gênero. Se estamos aqui falando sobre super-heróis e HQs, tudo se deve a aquele gibi.

Jerry Siegel e Joe Shuster, os homens que criaram o mito

Jerry Siegel e Joe Shuster, os homens que criaram o mito

Mas a história começou muito antes da queda do foguete do estranho visitante de outro mundo ou daquela edição. Na realidade, tudo começou nas mentes dos jovens Jerome “Jerry” Siegel e Joseph “Joe” Shuster.

Primeiros esboços

Siegel e Shuster eram amigos de colégio e protótipos do que hoje muitos chamam de nerds. Influenciados por tudo aquilo que acontecia em meados dos anos 30, foram colocando a cabeça para funcionar. Quebra da Bolsa de Nova York, filmes, Flash Gordon, Fantasma, Tarzan… Tudo isso reunido, mais a criatividade dos dois, deu origem ao Superman.

Não, esse Superman ainda não era o nosso conhecido Homem de Aço. O primeiro personagem a utilizar esse nome surgiu no fanzine (revista artesanal feita por fãs) Science Fiction, na história O Reino do Superman, publicada por Siegel sob o pseudônimo de Hebert S. Fine e ilustrada por Shuster. Nessa história o Super era apresentado como um vilão careca (hmmmm... ;D) e de jaqueta que queria dominar o universo.

Só que Jerry Siegel não estava contente. Ele achava que o personagem era bom demais para ser desperdiçado como vilão e resolveu transformá-lo em herói. Essa versão jamais foi publicada, mas o mundo não ficaria privado por muito tempo de seu Superman.

O super-vilão careca (;D) e o primeiro super-herói, que nunca chegou a ser publicado

O super-vilão careca (;D) e o primeiro super-herói, que nunca chegou a ser publicado

A noite que mudou tudo

O verdadeiro personagem surgiu em uma noite quente de verão, em 1934, como contou Siegel mais tarde. Nessa noite ele enxergou a figura do repórter Clark Kent datilografando freneticamente e narrando as aventuras de seu alter ego vestido de azul e com capa vermelha. Tal visão não deixou mais Siegel dormir e, antes mesmo do dia amanhecer, correu para a casa de Joe Shuster para contar ao amigo sobre a ideia. Clark Kent, Lois Lane, Superman… Todos já estavam lá, vivos na mente de Jerry Siegel, mas ainda levaria quatro anos para serem publicados.

Basicamente, o Superman fazia o que qualquer mortal poderia fazer. Só que isso tudo de uma forma bem mais super. Ele saltava, mas seus saltos podiam ser maiores que arranha-céus; ele corria, só que sua velocidade era maior que uma locomotiva; ele era forte, tão forte que entortava barras de aço. Quando não salvava o mundo, o herói assumia a identidade do repórter Clark Kent, secretamente apaixonado pela colega de trabalho, Lois Lane, mas ela só tinha olhos para o homem de capa vermelha...

Pode parece algo simples hoje, mas na época era um conceito completamente novo. Os heróis da época não eram “supers”. Eles se valiam de armas, aparatos tecnológicos ou coisas do tipo. O que seria apresentado por Siegel e Shuster consistia em uma fórmula completamente nova.

Capa de Detective Comics #1, de 1937

Capa de Detective Comics #1, de 1937

Siegel e Shuster tentaram então publicar seu novo personagem. Certo dia bateram na porta da Detective Comics, Inc., que tinha surgido anos antes a partir de uma outra editora (chamada National Allied Publications), e que assumiu o nome a partir de seu principal sucesso, um gibi chamado Detective Comics. Sem ter o que colocar em uma nova publicação, a empresa comprou os direitos sobre o personagem por míseros 130 dólares (um pouco mais de US$ 2 mil dólares hoje em dia), junto com um contrato para que suprissem a editora com material.

Action Comics #1 chegou às bancas e foi um sucesso estrondoso. O que era para ser uma antologia com vários personagens, acabou dominada pelo Azulão em alguns anos. A revista existe até hoje e o Superman esteve presente em todas as suas 926 edições, incluindo as que vieram depois do recente reboot da DC.

Acontece que o impacto da criação do personagem não deve ser definido através apenas de Action Comics. Em pouco tempo o Supeman se transformou em um personagem extremamente conhecido, um exemplo do American Way of Life no mundo todo. Suas histórias inspiraram a criação de todo um gênero — o dos super-heróis, que não possui esse nome por mero acaso.

O personagem mudou muito através dos anos. Mesmo assim a base do que imaginou Jerry Siegel naquela noite de verão está vivo e ainda é o maior herói da Terra. Infelizmente, Siegel e Shuster aproveitaram muito pouco de sua criação. Aconteceram várias batalhas na justiça, mas os ganhos obtidos pelos dois foram muito pequenos. Em 1978, com o sucesso de Superman: The Movie, a Warner resolveu (ou melhor, foi obrigada) pagar aos criadores um beneficio anual de 35 mil dólares, além de ter o direito a um plano de saúde e de ter o nome escrito em todas as HQs e adaptações que incluam o personagem.

Pouco, muito pouco… Tanto é que, nos últimos anos, os herdeiros dos dois criadores iniciaram novas batalhas na Justiça. Depois de um acordo não cumprido há cerca de dez anos, os herdeiros conquistaram vários resultados positivos, fazendo com que a DC e a Warner se vissem perto de perder o personagem. Porém, com o poderio de uma das maiores corporações do mundo, a Warner mudou o jogo e, atualmente, praticamente consolidou os direitos sobre o Superman.