Um filme com Helen Mirren e Ian McKellen precisaria de muito esforço pra dar errado | JUDAO.com.br

Se a história do filme não é exatamente redonda e bem acabada, o grande acerto desse filme está no elenco que realmente comprou essa história e consegue vendê-la.

Desde a estréia de O Sexto Sentido, em 1999, a coisa do PLOT TWIST se tornou uma tão prática utilizada em narrativas dramáticas que o efeito surpresa do recurso perdeu um pouco do seu impacto ao passar dos anos. Enquanto diversas histórias não funcionaram como deveriam, algumas são um bom entretenimento mesmo com a possível previsibilidade do recurso.

Esse é o caso de A Grande Mentira, thriller policial dirigido por Bill Condon e escrito por Jeffrey Hatcher, baseado no livro homônimo do autor Nicholas Searle lançado em 2015. A trama acompanha Roy (Ian McKellen), um homem com um longo histórico como vigarista que encontra na recém-viúva Betty (Helen Mirren) sua próxima vítima. Mas à medida que os dois se aproximam, o que deveria ser apenas outro golpe simples acaba ganhando apostas mais altas e perturbadoras.

Mesmo não sendo uma premissa exatamente nova, A Grande Mentira intriga ao criar o clima correto para as reviravoltas da trama em uma narrativa que está constantemente dando dicas e piscadelas sobre o rumo que tomará. Como o próprio nome sugere, o filme estabelece desde o início que mentiras são o fio condutor dessa história ao mostrar que os personagens estão inclinados a não falar a verdade, desde acobertamentos teoricamente inocentes, como esconder seus nomes reais em perfis de namoro online, até se infiltrar profundamente na vida de alguém para aplicar um golpe.

Como todo filme com grandes reviravoltas, quanto menos você souber sobre sua história, melhor será o entretenimento. Principalmente porque A Grande Mentira não tem uma trama infalível e alguns pontos são questionáveis se você analisar mais profundamente. Adaptar uma obra literária de suspense para uma versão cinematográfica não é um trabalho fácil, porque enquanto alguns acontecimentos podem colaborar para criar mais tensão no livro, eles podem não ter o mesmo impacto na tela.

Se o livro pode nos entregar um “caramba!” bem construído, o filme oferece uma reação mais vagarosa porque algumas coisas não funcionam se não forem sugeridas sutilmente na trama previamente. Para um plot twist funcionar, a história precisa entregar pequenas doses que serão fundamentais quando a trama inteira for revelada, porque é isso que nos fará pensar “como raios não vi isso antes?” – como o próprio exemplo citado no começo dessa resenha. Em alguns pontos, A Grande Mentira entrega doses grandes demais, o que pode ser um problema para os fãs mais experientes do gênero, mas deve divertir boa parte do público.

Se a história não é redonda, o acerto de A Grande Mentira está no elenco que realmente comprou essa história e consegue vendê-la. Como Roy, McKellen interpreta um homem tão acostumado a mentir que se perde em que realmente é. Suas falsas expressões de bondade dão um ar tão realista ao personagem que passamos parte do filme simpatizando com ele, até o momento do ponto de virada crucial da trama. Já Mirren é o tipo de atriz que diz muito apenas com o olhar e esse fantástico dom é imprescindível no último terço da trama. Curiosamente, essa é a primeira vez que os atores se encontram em tela, o que rende uma ótima química que faz toda diferença no filme.

À medida em que as peças começam a se encaixar, a história fica mais sombria do que o clima inicial e os tais furos narrativos ficam mais claros. Mas com a liderança dos atores veteranos, A Grande Mentira ainda diverte e entrega um bom entretenimento.