Uma viagem ao mundo de Cameron Crowe com Max e William | JUDAO.com.br

Curta de fã do sul do país, ambientado numa loja de discos, celebra a obra de um dos cineastas mais musicais do mundinho hollywoodiano

Dois grandes amigos entram em uma loja de discos e começam a conversar sobre música e cinema – uma combinação que acaba na obra do Cameron Crowe. Este poderia ser o resumo de um pedaço do final de semana de qualquer um dos meus camaradas. Ou mesmo deste ESCRIBA que vos escreve. Mas é a breve sinopse de Crowe’s World, curta que Marcelo Rodrigues dirigiu para a conclusão do curso de Produção Audiovisual da ULBRA, em Canoas (RS).

“O William e o Max são grandes fãs de música e marcam um encontro nesse lugar para digamos, ‘descarregar a sua nerdice musical’. O William é grande fã dos filmes do Cameron Crowe. Então, ele desenvolve uma teoria que relaciona os filmes do Crowe com o enredo da série favorita do amigo: Entourage”, explica Marcelo, que conversou com o JUDÃO a respeito do filme.

A ideia surgiu quando o aspirante a cineasta estava ouvindo justamente um podcast sobre a carreira do Cameron Crowe. “A ideia me remeteu ao já clássico Tarantino’s Mind, no qual os personagens conversam sobre a obra do Tarantino. Cheguei à conclusão que uma loja de CDs e vinis era o lugar ideal, o que melhor representava o espírito dos filmes do Crowe, pois é um lugar onde se respira música, como nos filmes do diretor”.

Marcelo trabalhou na ideia durante dois anos, finalizando os trabalhos em 2014, justamente para torná-lo o seu projeto de graduação. “Aconteceu que, por situações alheias ao meu controle, naquele ano acabei sobrando só eu na disciplina. Então tive o aval do meu orientador para montar a equipe buscando outras pessoas dentro da universidade, alguns já formados mas que trabalham internamente ou então que ainda frequentam o curso”. Assim sendo, Marcelo cuidou da direção e também do roteiro – e, com a ajuda de Erick Vieira, que topou ser editor e assistente de direção, foi buscar um professor da universidade, Alberto Raguenet, para dar uma força na mixagem. E os dois atores, Douglas Florence e Nicolas Farias, foram encontrados nas cadeiras do curso de teatro.

Além disso, o curta também contou com uma mãozinha gringa. A canção que toca durante os créditos finais, If, foi cedida pessoalmente pelo autor – no caso, o músico e ator canadense Coyote Shivers. “Vou ser eternamente grato”, diz Marcelo.

Crowe's World

Por questão de direitos autorais, a equipe acabou não podendo usar imagens dos filmes do Crowe. “Fomos obrigados a utilizar outros recursos, como os objetos de cena. Tinham lá DVDs dos filmes dele e até mesmo as camisetas dos personagens que são de bandas bem presentes nas trilhas sonoras da sua filmografia”.

Mas, afinal, por que esta verdadeira obsessão especificamente com Cameron Crowe? Por que ele em especial e não outro realizador? “Os filmes do Crowe trabalham com temáticas universais a todas as pessoas, com mensagens como ‘seja você mesmo’, ‘lute pelo que acredita’ e ‘siga os seus sonhos’. Além disso, os protagonistas do Crowe, que ele chama de ‘uncool’, são anti-heróis desajustados. Quem nunca se sentiu um pouco assim? Todo mundo. Ainda mais um nerd como eu”.

O fã se deixa falar mais alto e até arrisca dizer quais são os seus filmes favoritos do diretor, ainda que deixe claro que isso “muda a toda hora”. Mas, no momento, seriam Quase Famosos e Compramos Um Zoológico. “Quase Famosos porque tudo funciona de forma mágica naquele filme. O roteiro, os atores, a direção primorosa, a fotografia e a trilha sonora sensacional. Já Compramos Um Zoológico porque ele evolui como diretor e roteirista nesse filme no que diz respeito à forma de contar e conduzir a história. É o filme mais humano dele”, explica.

Como Crowe’s World foi finalizado fora do período dos festivais internacionais que recebem esse tipo de trabalho, só agora Marcelo está batalhando para levar a obra pra frente. “Vou inscrever o curta em tudo que é lugar onde encontrar espaço”, promete, não sem antes fazer uma reclamação. “Infelizmente, os festivais e o meio audiovisual no Brasil ainda têm relutância em receber trabalhos oriundos da cultura participativa como os filmes de fãs. Isso precisa começar a mudar. A indústria precisa reconhecer o fã não só como potencial divulgador dos objetos de culto, mas também como produtor e realizador”.

Mas e quanto a mostrar isso para o próprio Crowe? Não chegou a rolar? “Não sei se ele viu o filme, eu já enviei o link umas vezes, mas ele deve receber milhões de notificações todos os dias”, diz sorrindo o diretor, como quem está mantendo uma pontinha de esperança. “Pra minha felicidade, o Cameron Crowe segue o perfil do curta no Twitter. Adoraria saber o que ele achou do filme. Mas só o fato dele seguir o perfil já me deixa feliz. Esse filme foi feito pra ele”.

Se por acaso você estiver lendo a gente, Cam... Aperte o play aí embaixo. ;)