Um pouco perdida nas prórpiras características, a série perde seu frescor em pouco tempo. Mas pelo menos tem Ellen Page!
Umbrella Academy é um título de Gerard Way e Gabriel Bá de 2007. E caso você não saiba ou não se lembre muito bem, Way era alguém BEM relevante nessa primeira década dos anos 2000. Ele era vocalista do My Chemical Romance, banda que fez vários adolescentes pelo mundo – e eu tô inclusa nessa – vociferarem suas letras sobre dores existenciais enquanto seus pais só queriam entender o porquê de tanta roupa preta e lápis de olho.
O lançamento dessa obra era uma novidade na carreira dele, e para os fãs brasileiros, ver um nome tão familiar como Gabriel Bá ao lado dele pra contar a história de uma família de super-pessoas adotadas por um senhor riquíssimo e misterioso era PURO OURO. Mas não foi só entre esse pessoal que Umbrella Academy fez sucesso: Apenas um ano depois do seu lançamento, ela faturou o Prêmio Eisner (isso, o Oscar dos quadrinhos) de Melhor Minissérie. Alguns de seus colegas de estatueta são Frank Miller, Stan Lee, Alan Moore, David Gibbons e mais uma porrada de gente incrível e antológica do mundo das HQs.
Nessa sexta (15), o Netflix FINALMENTE põe no ar a série que adapta essa história. Mas é uma pena que o que acontece ali não tem a ver com a peculiaridade tão característica do original. É uma adaptação e como tal não precisa ser igualzinha aos quadrinhos?. Sim, eu sei. Mas nesse caso, fez a ESSÊNCIA fez falta. Assisti aos 4 primeiros episódios e explico.
Numa realidade alternativa em que o presidente americano John F. Kennedy nunca foi assassinado, 43 mulheres sem conexões umas com as outras ficam grávidas DO NADA, ao mesmo tempo, por um dia só. Não são todos os bebês que sobrevivem, mas os 6 que restam são todos adotados por Reginald Hargreeves, um empresário rico e esquisitão, que resolve treiná-los para formarem uma liga de super-heróis chamada de Umbrella Academy. Dá certo! Eles ficam conhecidos, tornam-se combatentes do crime e, veja só, ganham até gibis temáticos. Mas o tempo se passou e cada um dos membros quis seguir seu próprio caminho, acabando com o time. Juntos após MUITO tempo, por conta da morte de Hargreeves, eles voltam a se ver na casa em que cresceram e reencontram sua mãe de criação e Pogo, o mordomo chimpanzé.
O início de tudo é empolgante. Uma montagem dinâmica, um QUÊ de Wes Anderson na narração, uma excentricidade muito agradável e, ao mesmo tempo, sombria. Os personagens são apresentadas e o primeiro contato que vemos é o de irmãos que nunca se deram exatamente bem e que precisam se juntar para tomar grandes decisões familiares. Em destaque, ficam Allison (Emmy Raver-Lampman) e Luther (Tom Hopper), que parecem ter um laço especial, enquanto Diego (David Castañeda) tem uma alma revoltada. Ainda tem Klaus (Robert Sheehan), que é um dependente químico que romantiza sua situação, Vanya (Ellen Page), a menina que não tem nenhum poder e, mais à frente, o Garoto (Aidan Gallagher), um dos irmãos que sumiu no tempo usando seus poderes e volta pra dar mais PESO e propósito à trama.
O problema é que os eventos que o Garoto trazem e como os vilões e mocinhos lidam com isso fazem com que Umbrella Academy transforme-se RAPIDINHO em um negócio meio Demolidor, meio Jessica Jones. A excentricidade se esvai a cada episódio, mesmo tendo um ou outro momentinho; os personagens acabam ficando um pouquinho mais rasas e a única atuação que se sobressai de verdade é a de Ellen Page como Vanya. Ela é uma boa atriz independentemente da direção que recebe e isso fica BEM claro.
Enquanto o resto da narrativa é reduzido a perseguições, tiros, fotografia escura e tudo aquilo que já cansamos de ver em contos de heróis da Marvel no Netflix, Page tem um elemento PRÓPRIO de estranheza que faz com que valha a pena continuar. A história da garota sem nada de especial obviamente ganharia novos tons, mas ela traz detalhes de postura, expressões e entonações de voz que fazem cada uma de suas cenas algo a se esperar – e acaba carregando o resto do pessoal junto.
Bastante coisa interessante falta acontecer. Por já conhecer a narrativa original, sei que tem MUITO espaço pra ajustes, melhora de direção e a inserção de mais e mais incidentes. Mas é realmente triste que a direção de arte não tenha caprichado um tantinho a mais nas características de cenários e maquiagens. Nesse caso, a fidelidade fez bastante falta. Porque um certo realismo é legal, mas não é EXATAMENTE a essência de Umbrella Academy. :P