Talvez seja hora de a gente começar a olhar pra essa franquia como olhamos pros filmes com super-herois ao invés de focar em “olha o que tão fazendo com carros”. É assim que a gente age com a Marvel, DC e etc, não é? Então. :D
Quando eu entrevistei o Vin Diesel sobre xXx: Reativado, na época da comic con de São Paulo, ele falou uma coisa muito interessante: “Eu precisava me divertir. Foi por isso que eu fiz esse filme. Eu precisava fazer, especialmente, antes de voltar pro Dom Toretto”. Bom, Triplo X já é passado, assim como a diversão de Vin Diesel com aquele filme, que também passou, só que do ponto.
Assistindo a Velozes e Furiosos 7 você consegue entender perfeitamente o que ele quis dizer. Ainda que a gente veja os já clássicos absurdos da franquia na tela, tipo carros saltando de paraquedas ou The Rock com perna e braço quebrados internado num hospital e dando alta a si mesmo como se nada tivesse acontecido, o clima era diferente. Era como se o próprio filme, o sétimo de uma franquia que aprendeu a não se levar a sério e se tornou uma das mais bem sucedidas do cinema, existisse simplesmente porque precisava existir, uma obrigação contratual, nada além disso.
Velozes e Furiosos 8, porém, é exatamente o que se espera, hoje em dia, de um filme dessa franquia, algo muito maior do que os problemas pessoais com o elenco — e eles não foram poucos — e até mesmo algo que consegue fazer este que vos escreve simplesmente se divertir com o que tá vendo, o que, preciso confessar, tem ficado cada vez mais complicado nos últimos tempos.
O capítulo 8 segue aquela fórmula básica das histórias dos outros filmes, começando em Cuba, com uma das corridas mais divertidas de toda a série, envolvendo um carro em chamas que não só cruza a linha de chegada de marcha à ré em primeiro como é dirigido por Dominic Toretto, porque óbvio.
Não demora muito mais do que 30 segundos para que um interminável festival de frases feitas e de atuações da mais alta canastrice comece, passando pela apresentação da vilã, interpretada por Charlize Theron, pelo reencontro da chamada FAST FAMILY e, claro, por toda a explicação e resolução do conflito que coloca Toretto contra a sua família... Tudo exatamente da maneira como a gente gosta. ;D
Roman (Tyrese Gibson) continua cagão e sendo o alívio cômico de todas as tretas, Tej (Ludacris) não para de inventar TRAQUITANAS que têm como um dos principais objetivos tirar uma com a cara de Roman; Ramsey (Nathalie Emmanuel) ainda é a mesma garota que só sabe mexer no computador e precisa de gente pra defendê-la enquanto é CORTEJADA por Tej e Roman; Mr. Nobody (Kurt Russell) continua se divertindo enquanto o mundo acaba, dessa vez às custas também do Little Nobody (Scott Eastwood), o personagem que chegou pra preencher a cota “loiro de olho azul que trabalha pro governo dos EUA” entre aquela galera.
Sobra pra Letty (Michelle Rodriguez) segurar toda a carga emocional do filme, enquanto Toretto tá lá fazendo o que a Cipher (Charlize Theron) manda por uma razão ATÉ QUE NOBRE, mas que por muito pouco não parece exagerada. Tal razão, aliás, é a responsável por uma das sequências mais divertidas do filme, protagonizada por Deckard (Jason Statham) que, como todo ANTAGONISTA nessa franquia, acaba mudando de lado.
Ele e Hobbs (The Rock) são os grandes destaques, protagonizando os melhores diálogos e momentos “família” do filme, enquanto o último, como você já viu no trailer, ainda tem as manhas de desviar um torpedo lançado por um submarino como a mão... Porque sim, né? :D
Provavelmente, aliás, todos os grandes absurdos desse filme já foram REFERENCIADOS nos trailers e clipes, mas Velozes e Furiosos chegou num ponto em que não importa a surpresa; spoilers ou não existem ou são absolutamente irrelevantes. Quem assiste, quem gosta, quer mais é ver tudo aquilo na maior tela, com o melhor som possível — e o payoff invariavelmente vale a pena.
A perseguição no gelo, a WRECKING BALL, os carros caindo. A gente sabe que aquilo vai acontecer em algum momento, mas ainda assim se empolga como crianças vendo o mesmo desenho animado pela enésima vez. :)
Luke Hobbs, inclusive, é o mais próximo que temos nesse momento de ver The Rock como um SUPER-HERÓI e, olha, posso dizer que funciona ridiculamente bem. Aliás, dá até pra dizer que essa é mais uma franquia super-heróica — ou, pelo menos, uma franquia que se tornou super-heróica com o tempo.
Tudo o que os personagens usam, inclusive os carros, é como se fossem seus superpoderes, ou armaduras, ou qualquer coisa desse tipo. Eles fazem o que bem entendem com aqueles carros, desafiando não só o BOM SENSO como todas as leis da física... Exatamente como super-heróis.
Talvez, aliás, fosse o caso de a gente começar a olhar pra essa franquia como algo mais nesse sentido do que focar em “olha o que tão fazendo com carros”. É assim que a gente age com super-heróis, não é? Então. :)
E esses filmes ainda têm a chance de contar com diretores capazes de fazer cinema de verdade — foi assim com Justin Lin, James Wan e é assim agora com F. Gary Gray. É realmente uma delícia poder ir assistir a um filme sabendo que não só a gente vai gostar, como ele também vai passar longe de ser ruim.
Velozes e Furiosos 8 é exatamente como os últimos filmes dessa franquia. Pra alguns, isso pode ser a coisa mais cansativa do universo. Pra outros, como eu, significa que é sensacional. E, por mim, tudo ótimo. :)