Eu já. E putaquepariu, que ódio eu tenho de quem me contou.
Spoiler é um negócio complicado. De acordo com o dicionário Oxford, é algo ou alguém que “spoil” alguma coisa, sendo que spoil pode ser a ideia de destruir o valor ou qualidade de algo, prevenir que alguém curta alguma coisa, a qualidade de uma comida estragada OU a ideia de ser muito indulgente ou leniente com uma criança e tratar alguém com muita gentileza, consideração ou generosidade — em outras palavras, MIMAR.
É engraçado você pensar que, muitas vezes, quem reclama de spoiler é uma pessoa mimada, mesmo, que ao menor sinal de informação já NOOOOOOOOSSA te xinga, reclama e agradece com aquela ironia rasa por descobrir, antes de assistir a um filme, que a Gwen Stacy morre, por exemplo.
Ainda tem aquela galera que, por qualquer razão, não acompanha nas redes sociais os comentários ao vivo de uma série e reclama quando descobre que algum personagem morreu, ou sei lá — uma discussão muito mais profunda, em que todo mundo tem razão, desde os que pregam a ideia de que é escroto dizer as coisas abertamente na timeline, quanto quem diz que, bom, “eu falo o que eu quiser e azar o seu se me segue”.
De maneira geral, numa história, saber de um ou vários pontos dela, importantes ou não, só atrapalha se ela não for bem contada. Muitas vezes, aliás, o que nós consideramos um ponto chave da história não é pra quem a conta e definir uma experiência baseada no fato de você saber ou não alguma coisa pode ser um puta erro — até porque essa coisa pode, no mínimo, ser decepcionante, ou não tão surpreendente assim, baseado nas SUAS expectativas.
Final de Lost, por exemplo.
Enquanto o Universo ainda sente falta de uma banda que una todas as tribos, como foi o Norvana, não há o que reclamar quando o assunto é programa de televisão. Basta entrar no twitter na noite de uma terça-feira pra ver todo mundo babando pela Paola, apaixonado pela Jiang, com ódio da Izabel e do Fernando, falando sobre tompero, enquanto aguarda, com grande EXCITAÇÃO, o comercial do glorioso Embalixo.
É seguro afirmar, portanto, que MasterChef Brasil está para a TV assim como o Nirvana está para a música, de acordo com o filósofo Dinho Ouro Preto.
MasterChef é um SHOW DE REALIDADE de competição. Ninguém tá lá pra expor sua vida pessoal, ninguém tá aqui pra acompanhar isso. A ideia é muito simples: gente que gosta de cozinhar se mete a fazer aqueles pratos ~lindos, complicadíssimos e que não matam a fome de ninguém, na tentativa de ganhar R$ 150 mil, um carro e um curso numa escola de culinária da França. Do nosso lado, acompanhamos os absurdos, falhas e sucessos dessa galera, semana a semana, torcendo pra que nossos favoritos continuem na competição, enquanto nossos DESAFETOS sejam eliminados.
Você que não é Corinthiano, por exemplo, conhece bem esse sentimento de torcer pra um ganhar e pra outro perder, independente de os dois estarem se enfrentando diretamente ou não.
Tal qual a Copa do Mundo de 2014, por algum motivo que algum outro pensador moderno pode vir explicar pra gente um dia (eu prefiro acreditar no carisma dos três jurados), aconteceu de todo o MICROBLOG se unir em torno do programa, comentando em tempo real o que se vê — e o que se pensa — naquelas noites de terça-feira. É realmente MUITO divertido acompanhar todos os amores, desamores e temores de que o programa acabe na hora de o pessoal acordar no dia seguinte. É um negócio que não se vê nem em estádio de futebol com jogo de torcida única — uma temeridade, diga-se de passagem.
E aí, há alguns meses, o irresponsável por uma coluna no jornal Agora São Paulo e o site F5 resolveu divulgar em ambos veículos os nomes dos finalistas da segunda temporada do MasterChef Brasil. Começou assim: “Longe de a coluna estragar a surpresa de alguém, então, se não quiser saber quem disputará o título do ‘MasterChef’ (Band), não siga lendo, combinado?”
Claro, combinado. Não quer saber não lê, é realmente simples. São três paragrafinhos antes da revelação dos nomes dos finalistas, até que dá tempo de desviar o olhar e fechar a aba ou, se for o caso, arremessar o jornal longe. Pra falar a verdade, é um procedimento até que comum, esse do “cuidado, daqui pra frente tem spoilers”... Mas na internet. Em sites feitos e acompanhados por quem VIVE a cultura pop se esquivando ou abrindo o peito e recebendo com vontade as mais variadas informações, estragadeiras (como dizem lá em Portugal) ou não, sobre séries e filmes. Não naquela parte realmente popular, que às vezes a gente até esquece que existe, tamanho o nosso umbigo.
São informações que, em muitos casos, não tem nenhum significado mais profundo. Aqui no JUDÃO mesmo já publicamos bastante coisas assim no passado mas, com o tempo, percebemos que não valia a pena publicar só porque “olha, é isso o que vai acontecer no filme que você gosta”. Se não é algo que possa se desdobrar em alguma coisa mais importante de fato, não vale a publicação. Praticamente, por aqui, spoiler é quando falamos de uma série e, aí, precisamos falar do que aconteceu pra analisá-la, tanto pelo que se passou quanto pelo que vai acontecer.
Em certos casos, dá pra fazer isso com filmes, também — especialmente no já consagrado Universo Cinematográfico da Marvel e, como já deu pra perceber, no vindouro Universo DC dos cinemas.
Você não viu um episódio de uma série. Mas o episódio foi exibido e um monte de gente viu. Como disse lá no começo, talvez seja o seu trabalho correr dos comentários sobre tal episódio, mas talvez fosse o caso de rolar pelo menos uma CARÊNCIA pra quem assistiu sair comentando por aí — até porque, hoje em dia, as pessoas podem assistir às coisas nos mais diferentes dias e horários (e não, isso não é coisa de “leite com pera criado com avó”, como alguns insistem em dizer).
Mas, é isso: o episódio foi exibido, o filme estreou. Você teve a chance de ver, mas não o fez por razões que são absolutamente desimportantes. Mas teve a chance.
Quando vem um cara que e diz quem são os finalistas de um reality show de competição, devidamente gravado, cenários desmontados como ele mesmo diz, perceba que nem sequer te deu a chance de assistir ao programa e perder e ser obrigado a ouvir alguém comentando no metrô sobre o que aconteceu na noite anterior enquanto você dormia.
Ele não só esfregou na sua cara que “Hey, sabe essa pessoa que você tá torcendo? Não vai ganhar” como ainda, indiretamente, acabou resolvendo diversos outros episódios, simplesmente na base do “se tem dois nessa decisão final, e um deles é o finalista, já sabemos quem sai hoje”. Antes que seja revelado. Antes que tenhamos a chance de ser surpreendidos. Antes que possamos xingar muito no twitter.
Eu tava no casamento de uns amigos — um deles Patrão / Patrono do site! — quando, claro, o assunto surgiu. Como se já não fosse AWKWARD o suficiente comer e beber numa mesa com gente que você nunca viu na vida, uma dessas pessoas achou que seria super legal entrar numa conversa com “ai, você viu que ________ tá na final?”
Não, hija de puta. Eu não vi. Porque eu não fui atrás de ler e pedi pra que, quem soubesse, não me dissesse. Eu não tive a chance de assistir aos episódios antes de saber do resultado, mas pelo menos tive a possibilidade de evitar saber. E você tirou essa chance de mim. Por quê? O que isso mudou na sua vida? “Nossa, tá na final”? E DAFUCKINGÍ?
O episódio dessa terça, por exemplo, é o da semifinal. Sobraram três: Jiang, Isabel e Raul. Dois deles, já sabemos, estão na final. O que nos sobra é assistir pra saber qual foi a cagada que eliminou o terceiro. Não teremos a chance de “OMG, SERÁ QUE VAI DAR CERTO?”, como, felizmente, tivemos na semana passada.
Mas tudo pode ser pior, claro. Com a mesma sede por clicks, diversos sites replicaram a informação. Alguns seguiram o mesmo tipo de “cuidado” que o mocinho em questão teve na sua coluna, mas outros em nenhum momento pararam pra pensar que, “MasterChef: ________ e ________ são finalistas na 2ª temporada do reality show no Brasil” poderia juntar os piores significados de spoiler numa vez tudo.
Uma irresponsabilidade atrás de outra irresponsabilidade.
Dessa maneira, conseguiram destruir o valor da surpresa do programa, prevenindo que curtíssemos tranquilamente cada um dos episódios. Agiram como crianças mimadas que acham que podem fazer tudo o que querem, só porque podem fazer tudo o que querem. Não pensaram nas consequências, apenas na audiência. Não pensaram na diversão dos outros, mas sim na $ua própria.
É, eu sei. Se você não quiser ler, não precisa ler. Mas, ao mesmo tempo, não houve nenhum esforço pra tentar explicar pra galera que não é do nosso meio, do nosso nicho, que talvez não fosse a melhor coisa sair replicando sua informação em voz alta, em redes sociais, em títulos de notícias em site de fofoca.
Uma informação que, putaquepariu, só define o resultado de um reality show, não a vida de ninguém. Mas, tenha certeza, tira a diversão de muitos. E quando você está nessa coisa de ser jornalista e falar de cultura pop, caderno de “diversão” no jornal, isso PRECISA ser levado em consideração.
Ou, pelo menos, deveria.
A sorte é que, no twitter, temos uns aos outros e, se tudo der certo, temos Embalixo. Mas imagina se não tivermos?