Saiu a nova versão da música-tema de Caça-Fantasmas. É melhor você ligar pra alguém... | JUDAO.com.br

E mais: um pouquinho de história sobre uma das canções mais icônicas do cinema

Não precisa ir muito longe para que os odiadores profissionais encontrem mais e mais motivos para dizer que a VINDOURA versão de Paul Feig para os Caça-Fantasmas vai “estragar as suas lembranças de infância”. Bom, então preciso dizer que vocês tem mais um: a clássica música-tema de Ray Parker Jr. foi regravada e ganhou uma nova versão.

É, sim, aquela mesma, clássico das trilhas sonoras dos anos 1980, do inesquecível verso “If there’s somethin’ strange in your neighborhood / Who you gonna call?”. Pronto, podem acender as suas tochas e tomar as ruas dizendo “que pecado!” e “ninguém mais respeita o que é sagrado nesta vida?”.

A responsabilidade ficou a cargo do Fall Out Boy, com participação da veteraníssima rapper e produtora Missy Elliott. Olha só, vejam bem. Eu tava aqui até me esforçando pra tirar da sua cabeça o pensamento estereotipado de que “ai, com o Fall Out Boy, vai ser uma musiquinha adolescente descartável qualquer”, preparando meu argumento de que o som do quarteto americano deu uma amadurecida boa nos últimos anos, fugindo totalmente do rótulo babaca de “emo”, e tal...

Só que aí eu ouvi a música.

Veja bem, a dita cuja não é ruim. Tá bem produzidinha, até. Mas é genérica até dizer chega. Qualquer banda poderia ter gravado aquilo. É óbvia, é padrão, não parece nem mesmo o próprio Fall Out Boy. Parece apenas trabalho de produtor – e daqueles bem preguiçosos. Sabe a coisa de “ah, tenho que modernizar uma música, então vou colocar uns efeitinhos aqui, uns vocais meio rap ali e tá tudo certo”? Pois é. Foi um tapinha. E meia-boca. Sendo que a comparação com a original, cara, é das mais desleais possíveis. E não tô nem falando aqui de nostalgia, não. Tô falando é de criatividade e qualidade musical.

A canção, composta por Ray Parker Jr. em 1984, definitivamente parece não conseguir só curtir seus trinta e poucos anos.

Ao mesmo tempo em que recebeu uma indicação ao Oscar (perdendo para I Just Called to Say I Love You, do Stevie Wonder, para o filme A Dama de Vermelho) e dominou as paradas da Billboard, ela fez com que o músico tivesse que se meter em nada menos do que DOIS processos judiciais.

Tudo começou quando rolaram as primeiras exibições-teste do primeiro filme dos Caça-Fantasmas. Todas foram ótimas, a equipe tava confiante, mas para o diretor Ivan Reitman, faltava alguma coisa. No caso, uma música, de uns 20 segundos, para encaixar numa cena lá no começo do filme, quando Peter Venkman (Bill Murray), Ray Stantz (Dan Aykroyd) e Egon Spengler (Harold Ramis) entram na biblioteca pública de Nova York. E, pra ser bem específico, o cineasta queria algo que tivesse a palavra “Ghostbusters”. Muitos compositores tentaram, mas o cara não tava muito satisfeito com o que vinha ouvindo.

O filme não tinha ninguém trabalhando no cargo de supervisor musical, que hoje em dia é bastante comum, e por isso a equipe de produção foi buscar ajuda na figura do poderoso chefão do departamento musical da Columbia Pictures. Foi ele quem apresentou Reitman e o produtor, Joe Medjuck, a Ray Parker Jr., que já conhecia de outros carnavais. Mas, segundo o próprio músico relembra em entrevista ao Screen Crush, a parceria não deu certo de primeira. Tudo por causa de Clive Davis, produtor que comandava na época a Arista, selo musical do qual Ray era contratado.

“Todas as músicas da minha carreira, até aquele momento, eram canções românticas”, diz ele. “Então, em defesa de Clive, ele não estava satisfeito em me ver cantando sobre fantasmas depois de construir uma trajetória cantando para arrebatar o coração das garotas. Ele achou que poderia ser algo bem estranho”.

O cantor recorda que, em seu primeiro encontro com Reitman, o diretor também não estava muito animado. “Ele estava meio melancólico, com uma expressão de ‘eu não me importo’ na cara”. Parker teve apenas alguns poucos dias para criar alguma coisa. Até que um dia, vendo televisão tarde da noite, se deparou com um comercial de TV meia-boca anunciando um serviço local e pensou: “bom, a música dos Caça-Fantasmas poderia ter o tom de um jingle, né?”. Um daqueles com refrão bem grudento, tipo a música do D.D.Drin. “Aí, entreguei ao Reitman uma fita cassete com uma ideia de cerca de 1 minuto. E ele me ligou, acho que era 3h30 ou 4h da manhã, dizendo que tinha achado incrível”. Não apenas os tais 20 segundos que o diretor precisava seriam usados, mas também aquilo se transformaria em um single completo, para ajudar a divulgar o filme.

Todo mundo amou. Bom, menos o Huey Lewis, um cantor que ficaria tão famoso quanto Parker um ano depois, com a canção The Power of Love, música-tema de um outro clássico absoluto dos anos 1980: De Volta para o Futuro. Mas o ponto aqui é que, quando a música Ghostbusters foi lançada, Huey acusou Ray Parker Jr. de ter “copiado” parte da musicalidade de sua I Want a New Drug. Escute aí abaixo a versão do Lewis e tire suas conclusões.

Há quem diga, nos bastidores, que o próprio Lewis chegou a ser procurado para cuidar da tal canção do filme dos Caça-Fantasmas, mas negou o trabalho porque já estava começando a trabalhar com a equipe do filme de Marty McFly. Bom, a parada entre ele e Parker ficou tensa e o processo por plágio foi parar nos tribunais. E, no fim, extrajudicialmente, chegou-se a um acordo financeiro mais de uma década depois, em 1995, com a Columbia Pictures pagou uma grana ao acusador e ficando tudo bem, com a faixa continuando sua trilha de sucesso, todo mundo feliz e satisfeito. Quer dizer, pelo menos até o ano de 2001.

Foi neste ano que Huey Lewis soltou o verbo sobre a questão no especial Behind the Music, da VH1, dedicado a ele. “A parte mais ofensiva nem foi tanto o Ray Parker Jr. ter copiado a canção, isso foi meio que simbólico de uma indústria que, quando quer alguma coisa, vai lá e compra”, disse Lewis. “Mas não estaria à venda. Quer dizer, no final, suponho que eles estavam certos. Suponho que estava sim à venda porque, bom, eles compraram”. Só que os comentários de Huey Lewis geraram outro processo, só que desta vez reverso: foi Ray Parker Jr. quem levou o camarada para a justiça. Porque a resolução do processo anterior tinha uma cláusula de confidencialidade. E ninguém mais deveria falar sobre isso dali pra frente. Esta nova treta parece ainda não ter se resolvido, aliás. Ou, pelo menos, as pessoas se empenharam em manter as bocas BEM fechadas desta vez.

De qualquer maneira, Ray até hoje usufrui da fama e, diferente do que possamos pensar, não se cansa de ouvir as pessoas dizendo who you gonna call? pra ele. “Claro que não! Como eu ficaria de saco cheio do maior bilhete de loteria que poderia ter caído na minha mão? Não!”. Ele ainda diz que esta expressão se tornou uma espécie de ‘olá’ ou ‘e aí?’, uma saudação universal. “Não importa em qual país do planeta Terra no qual eu esteja, mesmo 30 anos depois, se você apenas diz ‘who you gonna call?’, todos sabem exatamente o que responder depois”.

Ah, esta tal de cultura pop. ;)