Eu provavelmente vou falar do filme do Max Landis, Wrestling Isn’t Wrestling, sempre que eu pensar em lutinhas, sempre que eu for falar com alguém sobre as lutinhas, sempre que eu precisar explicar as lutinhas. E, depois, o grande exemplo de tudo que eu pensar, falar e explicar, será o WrestleMania 31, que aconteceu nesse domingo (29), em San Francisco.

Começou mal, é verdade. Big Show já deu tudo o que tinha que dar e ganhar o Andre The Giant Memorial Battle Royale não fez sentido algum, pra nada. Ainda mais com Damien Mizdow ENFIM se virando contra o Miz... Mas tudo bem. Showzão é grande, Andre era gigante, e teremos uma boa história entre os outros dois, por semanas.

Mas quando você junta uma boa história, com boas lutas... Foi aí que veio a primeira luta “oficial”, de escadas, pelo campeonato Intercontinental, já deu pra perceber que as coisas, pelo menos, poderiam ser interessantes. Teve momentos ÉPICOS, como o suplex do alto da escada que Bad News Barrett aplicou no Stardust, o powerbomb de Luke Harper em Dean Ambrose (que dobrou o cara no meio e provavelmente rachou a cabeça do cara no metal da escada) e, claro, a disputa no alto entre Bryan e Dolph Ziggler, um dos lutadores mais underrated da WWE.

Mas o vencedor foi Daniel Bryan, que tanta gente acha que deveria ser o dono do principal cinturão da WWE. E, numa entrevista com Maria Menounos, ganhou os CUMPRIMENTOS de Roddy Piper, Ricky Steamboat, Ric Flair e Bret Hart, que ainda puxaram os “YES!”. “Ah, mas que título de merda”, bom, até pode ser. Mas todos esses caras ganharam. E apareceram ali pra lembrar isso. A WWE mostra, assim, que esse título é REALMENTE importante.

Randy Orton VS. Seth Rollins encerrou uma história de vários meses com provavelmente o melhor e mais sensacional RKO já aplicado pelo VÍBORA, que ouve as vozes que falam com ele e o entendem. Foi um contra-ataque esteticamente bonito, atleticamente perfeito. É um daqueles momentos em que você se lembra PORQUE gosta disso... Se outras coisas tantas não bastassem. :)

A provável única decepção da noite foi o fato de Triple H ter derrotado o Sting. Mas essa luta teve um outro significado: o fim da WCW, de uma vez por todas. Porque não foi só o Sting que perdeu, foi o Sting e o nWo — sim, Hulk Hogan, Kevin Nash e Scott Hall apareceram — juntos, que foram derrotados, por Triple H e o DX — sim, Billy Gunn, Road Dogg, X-Pac e Shawn Michaels apareceram, com esse último ainda mandando um Sweet Chin Music.

Os SAUDOSOS da Attitude Era, uma geração inteira de fãs de Lutinha, só agradeceram por tudo. Foda-se quem perdeu, quem ganhou. Todos nós vencemos.

Todo mundo, claro, sabia que o John Cena venceria o Rusev pelo título dos EUA. Mas o cara entrando com um FUCKING TANQUE DE GUERRA? Perdendo por influência da Lana, que tacou sapatos e saiu voando depois do encontrão que deveria acertar o Cena? Acaba uma história, começa outra... E mostra, mais uma vez, que a WWE tá querendo dar mais importância aos seus outros títulos... Tirando o das Divas, que poderia ter sido disputado. Mas pelo menos as “Anti-Divas” venceram. Ainda espero que o dia em que haverá uma história de verdade pras meninas...

Undertaker venceu o Bray Wyatt. Foi uma sensação estranha, pensar que o DEADMAN poderia perder e isso não seria mais tão chocante, depois do ano passado. Mas, ao mesmo tempo, mostrou que ele tá ali, e tá bem — aliás, melhor que no ano passado, aparentemente. Agora é 22-1 em WrestleManias e uma posição central no promo do ano que vem. Sting? :D

Mas o que aconteceu com Triple H, Stephanie McMahon e The Rock... A WWE gosta de falar de “WrestleMania Moments”. Ainda acho que a quebra do streak no ano passado tenha sido a MAIOR DE TODAS, mas vamos nos lembrar por muitos e muitos tempos o que aconteceu ali naquele ringue. E vamos ESPERAR DESDOBRAMENTOS.

Stephanie é MARAVILHOSA. É a “heel” perfeita. Do jeito que faz as coisas, como faz as coisas. Falou sobre o recorde de público no estádio do SuperBowl do ano que vem, ouviu a galera gritando o nome do Rock, que apareceu de surpresa (mais uma das aparições!), se irritou e criou o clima pra que Ronda Rousey, a campeã do UFC (!) subisse ao ringue e aplicasse uma queda no Triple H e uma chave de braço na própria Stephanie — tudo isso enquanto Dana White, no twitter, dizia apenas “O_O”.

Olha só: pode ser — e na verdade DEVE ser — só uma JOGADA DE MARKETING de Velozes e Furiosos 7, em que os dois estão juntos. Muito provavelmente não veremos um Ronda VS. Stephanie, ou um Rock/Ronda VS. Triple H/ Stephanie. Foi tudo previamente acertado. Mas e daí? “Lutinha não é lutinha”. Sabemos que não é real. E quem se importa?

Ainda era a dona do cinturão do UFC no palco do maior evento do universo de Pro Wrestling. Com todo o carisma do Rock e da Stephanie pra fazer com que tudo fosse ainda maior. Mais sensacional. Mais espetacular. EXATAMENTE COMO A GENTE ESPERA.

Exatamente como foi o main event. Eu não queria que Roman Reigns fosse o campeão da WWE, o grande campeão. Mas, depois de apanhar do jeito que apanhou do Brock Lesnar — sempre sorrindo, sempre mostrando que PODE MAIS — eu talvez não ligasse. Foi o melhor Roman Reigns de que se tem notícia, um caminho claro por onde seguir.

E aí ele enfiou a testa do Lesnar no corner, deixando o cara completamente tonto (e aí eu já nem sei se era verdade ou não, tirando o sangue), os dois começaram a se matar... E Seth Rollins fez o seu depósito do Money in The Bank, que permite que ele “compre”, a qualquer momento, a disputa por um título. Teve F5, teve spear, teve curbstomp... E teve Rollins campeão — não sem antes agradecer ao Reigns. “Thank you so much”, dá pra ouvir.

Agora a gente volta pras nossas reclamações semanais e eventuais empolgações. Até que surja algo maior que a vida e valha a pena tudo isso. Porque, como disse Max Landis no seu Wrestling isn’t Wrestling, “Muito das lutinhas é uma merda. Mas quando é bom, é foda pra caralho”. :D