Se diz, há muito tempo, que a Marvel não vê a Fox com bons olhos. Sabe como é, vender os direitos de adaptação para os cinemas para a Raposa salvou a Casa das Ideias do fundo do poço nos anos 1990, mas hoje em dia a situação não é a mesma. De acordo com rumores publicados há anos, a Marvel Comics dá menos espaço para os X-Men justamente para não ajudar no desempenho da Fox nos cinemas.

Não que precise, afinal a tela grande CAPTURA mais atenções do que as revistinhas naturalmente, mas colocam essa birra nas costas de Isaac Perlmutter, infelizmente todo-poderoso da Marvel Entertainment e que costuma ter cismas assim (ou até piores, como o fato de não acreditar que mulheres possam protagonizar filmes com super-heróis).

Sempre que questionada por leitores, a Casa das Ideias desmente estes boatos. O último caso aconteceu justamente dessa quinta (21), em plena San Diego Comic-Con. “Nós estamos lidando com esses rumores sobre o fim dos X-Men por anos, e estamos em um ponto no qual nós não queremos mais falar sobre isso”, disse o editor-chefe Axel Alonso.

Num painel chamado “Death of X”.

Contexto é importante, por isso vamos voltar um pouco no tempo. No passado, sempre se falava que a editora deixaria tanto os mutantes quanto o Quarteto Fantástico de lado, sacrificando duas franquias famosas para não trabalhar de graça pra um parceiro que não era tão parceiro.

No ano passado, também na SDCC, Alonso foi perguntado por um outro fã sobre a ausência do Quarteto nos teasers do que rolaria após Secret Wars – e se isso era um indicativo de que a equipe iria pro limbo por conta de uma decisão comercial. Na época, o cara disse que para não acreditar “em tudo que você tem lido na internet. Você precisa terminar Secret Wars para saber o destino daqueles que ainda não contamos. [...] É uma questão desgastante. Nós amamos os personagens. É a nossa prerrogativa movê-los, e é isso que estamos fazendo”.

Secret Wars acabou e, no final, colocou Reed Richards absorvendo os poderes que eram do Beyonder e estavam com o Dr. Destino – e fazendo com que toda a família, incluindo a Susan “Mulher-Invisível” Richards, partissem numa “aventura” pra restaurar o Multiverso — uma forma mais bonitinha pra dizer LIMBO — enquanto o Edifício Baxter foi parar nas mãos do Homem-Aranha. Já a dupla Tocha-Humana e Coisa foi viver as próprias aventuras, separadamente, e nem quiseram criar uma nova versão do grupo. O Quarteto Fantástico não existe mais.

Axel Alonso disse ano passado pra não acreditar em tudo que se lê na internet — mas, ao menos em parte, a história do fim Quarteto Fantástico era verdade

OBVIAMENTE essa decisão editorial aconteceu também porque, como falamos já no ano passado, o Quarteto Fantástico não vende bem há anos. Por outro lado, não combina simplesmente ignorar a existência de uma marca tão conhecida num momento no qual a Casa das Ideias tenta reinventar os seus personagens dentro de novos conceitos – é só ver que temos a Kamala Khan como Miss Marvel e o Miles Morales como Homem-Aranha. Imagina se, no lugar do Reed e da Sue, colocassem, sei lá, um árabe e uma negra? Com um enredo legal?

As declarações do Alonso não ajudam. Fã de frases de efeito – como Joe Quesada, o antecessor no posto e atual CCO da Marvel –, Alonso acaba se contradizendo. Foi assim quando ele disse que ninguém voltava à vida no Universo Ultimate (Peter Parker e o Duende Verde voltaram), e nessa do Quarteto em 2015. Por que acreditar nele em 2016?

Death of X, o tema do painel, é o próximo grande crossover que a editora irá promover entre mutantes e inumanos. É que, desde Secret Wars (e o GAP de oito meses que rolou em seguida), integrantes importantes dos X-Men estão sumidos. Essa saga irá revelar o que aconteceu com gente como o Ciclope (o adulto, e não a versão teen que veio do passado) e a Emma Frost, entre outros, nesse período.

Apesar de ser o tema CENTRAL da bagaça, pouco se falou do enredo da HQ, que será escrita por Jeff Lemire e Charles Soule, além de ter arte de Aaron Kuder. Nas capas e imagens divulgadas nesta SDCC, pode ser visto apenas que a névoa terrígene causou danos aos mutantes e ajudou os inumanos a prosperar – algo que já se sabia há algum tempo. Também foi dito que, normalmente, as grandes histórias são pensadas com um ano de antecedência – só que no caso de Death of X o planejamento foi maior, começando entre 18 meses e DOIS ANOS atrás.

Fãs tem acusado a Marvel de deixar os X-Men de lado. Um sentimento reforçado ainda mais nas últimas semanas, quando saiu aquele catálogo do Marvel NOW!, o próximo relançamento da editora, com apenas DOIS títulos mutantes, além de Death of X: ambos do Deadpool.

Tem o jovem Ciclope como integrante da nova versão dos Campeões, sim, mas é só isso. No relançamento feito em 2015, tínhamos 10 revistas dos mutunas.

Ainda assim, independentemente de qualquer coisa, outras revistas mutantes vão continuar – mesmo que sem tanto destaque nessa nova fase, ao menos no começo. Durante o painel, foi anunciada uma continuação de Inimigo do Estado, a famosa HQ do Wolverine, agora estrelada pela All-New Wolverine, a ex-X-23. Extraordinary X-Men, Old Man Logan e Uncanny X-Men também estão programadas para continuar.

O que a Casa das Ideias e Axel Alonso fazem, ao menos AGORA, é brincar com esse sentimento que está por aí, estimulando os comentários e aproveitando esse gancho para promover o debate e as manchetes, mesmo quando negam tudo isso existir. Na verdade, o que essa polêmica faz não é exatamente diminuir os mutantes, mas sim ALAVANCAR os inumanos – isso sim um objetivo real, vide os planos da Marvel Studios e da Marvel Television pra esses caras nas adaptações.

Os X-Men são uma propriedade muito forte e poderosa pra simplesmente jogar pra debaixo do tapete, com foi feito com o Quarteto. Porém, não quer dizer também que a Marvel Comics precisa colocar todos os holofotes nos caras, como aconteceu em grandes sagas como Dinastia M e Vingadores vs. X-Men.

Seja séria ou não, não dá pra saber se a implicância da Marvel com os X-Men irá continuar por muito mais tempo. Afinal, parece que a Casa das Ideias e a Fox estão, de alguma forma, começando a se entender e entrando nessa brincadeira de ganhar dinheiro juntinhas. É o que parece depois daquele acordo entre as duas empresas que permitiu que a Raposa coproduza séries de TV dos mutantes ao lado da Casa das Ideias, começando por Legion.

Se essa iniciativa der certo, não duvido nada vermos uma nova aurora dos X-Men nos próximos anos. E o Axel Alonso vai aparecer pra dizer que isso irá provar que “nunca houve implicância” com esses personagens, ou algo do tipo.

Até porque, vamos combinar, parece existir muitos mais tons de cinza nessa história toda do que falar que é tudo “mentira” ou um “grande boicote”. ;)