Sim, é tudo verdade — menos a parte da empolgação que dá a entender que ele tá chegando pra salvar a Liga da Justiça da danação eterna. Não poderia estar mais longe da verdade, né? ;)
Over land, over sea,
We fight to make men free,
Of danger we don’t care...
We’re Blackhawks!
Depois da continuação do filme da Mulher-Maravilha, talvez a notícia que mais me deixou empolgado com toda esta coisa de filmes da DC foi mesmo o tal anúncio dos Novos Deuses dirigidos pela Ava DuVernay. Mas eis que a Warner anuncia que, depois da bem-sucedida parceria com a Amblin Entertainment para Jogador Número 1, vai repetir a dobradinha com Steven Spielberg em um filme de personagem da DC Comics. E mais: com o próprio Spielberg dirigindo o projeto, conforme confirmou a Warner nessa quarta (18).
Fogos de artifício, vuvuzelas, clima de Copa do Mundo, a internet explodindo e todo mundo celebrando que chegou mais um pra salvar o Universo DC nos cinemas. Mas... calma, gente. Menos, bem menos. Porque, sabem o que este filme tem em comum com a tal adaptação dos Novos Deuses? Eles podem TRANQUILAMENTE ser produzidos e lançados sem qualquer relação com qualquer produção DC que a Warner tenha lançado até agora. Sem nenhuma necessidade de conexão, inclusive com a Mulher-Maravilha. Se depois daquele filme sobre o qual o Zack Snyder não para de falar DOIS FUCKING ANOS DEPOIS isso não é uma boa notícia, não sei mais o que é.
Tamos falando aqui do Blackhawk, conhecido por estas bandas graças às publicações da EBAL como Falcão Negro — e cuidado aqui pra não confundir com o GAVIÃO NEGRO, o guerreiro com asas vindo diretamente de Thanagar.
Aqui, o papo é guerra. No caso, a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente. Blackhawk é o nome não apenas do protagonista, mas também do time de pilotos de elite que ele lidera, um grupo que usa os aviões alemães para atacar os nazistas e demais forças aliadas dos caras. Depois de seu irmão e sua irmã (respectivamente, um médico e uma enfermeira) serem assassinados pelo comandante alemão Von Tepp, Blackhawk sai em busca de vingança e reúne este grupo especial.
Os integrantes da equipe, formada por um núcleo de sete integrantes vindos das mais diferentes nacionalidades (o que, nos anos 40, significa que estamos falando de determinados estereótipos bastante problemáticos, em especial no que diz respeito ao chinês conhecido como Chop-Chop), usavam todos o mesmo uniforme azul e preto, com a insígnia da ave no peito, mantendo a Ilha Blackhawk como sua base secreta de atuação e compartilhando o popular grito de guerra “Hawk-a-a-a!”.
Além de soldados nazistas, o Esquadrão Blackhawk encarava também inimigos mais, digamos, “quadrinísticos”, como o Rei Condor e o Killer Shark, além de um elenco recorrente de femme fatales e de veículos fantásticos tipo tanques voadores e aviões em formato de tubarão.
Os personagens surgiram originalmente nas páginas da Military Comics #1, gibi da Quality Comics, de 1941, ganhando depois uma revista própria. A criação é de Chuck Cuidera, com uma ajuda providencial de Bob Powell e ninguém menos do que o lendário Will Eisner.
Por mais que não se saiba exatamente o nível da contribuição que cada um dos três fez para o título ao longo de seus primeiros números, o fato é que Cuidera foi seu principal nome – mas, em 1942, o artista transformou suas histórias em realidade e se alistou nas Forças Armadas, deixando a tarefa de desenhista a cargo de Reed Crandall.
Foi a partir daí que o título explodiu, mantendo-se publicado com frequência durante quase duas décadas, primeiro licenciado pela DC quando a Quality decidiu cancelar a parada e depois, oficialmente, como uma das muitas propriedades únicas que eles trouxeram pra dentro quando compraram a editora original. Mas ao adentrar a casa do Superman e do Batman, digamos que a HQ começou mais e mais a mergulhar numa pegada ficção científica, bastante fantasiosa, e menos “gibi de guerra”. Neste momento, até o icônico Bill Finger se envolveu com o gibi.
Embora o misterioso líder do time fosse originalmente polonês, em Blackhawk #50 (1952) a sua origem é levemente modificada – e então ele se torna um americano voluntário na força aérea polonesa e, numa edição à frente, ele até ganha um nome: Bart Hawk.
Em 1959, na edição de 133, surgiria uma de suas personagens mais icônicas, a piloto Zinda Blake, também conhecida como Lady Blackhawk, que entrou disposta a se tornar a primeira mulher integrante do esquadrão e passou a ser presença frequente na série.
O gibi era tão popular que, em 1952, chegou a virar um dos chamados serials, em 15 partes, aquelas produções em preto e branco exibidas no cinema, com produção de Sam Katzman e o ator Kirk Alyn (aka o primeiro Superman das telonas) vivendo o Blackhawk.
Conforme se aproximava a década de 70, conforme a popularidade do gibi foi caindo, a DC tentou alguns malabarismos para mantê-los por aí – como mudar seus uniformes, misturá-los com a Liga da Justiça, roupas multicoloridas e superpoderes (tudo culpa da Batmania, veja você)... Mas não deu certo. E então, no número 243, em setembro de 1968, a HQ foi cancelada pela primeira vez em sua história, desde o lançamento oficial.
O grupo só voltaria a dar as caras em 1976, dentro da iniciativa DC Explosion, uma campanha de marketing da editora pra colocar uma porrada de novos gibis nas bancas e aumentar o número de páginas daqueles já publicados. Os Blackhawks se tornaram mercenários de aluguel, ficaram mais modernosos, radicais. Deu certo? Mas é claro que não. Novo cancelamento ou, como a gente pode chamar aqui, ADIAMENTO. Porque na década de 1980, começou uma boataria sobre um tal Steven Spielberg, ora, ora, ora, interessado em adaptar a propriedade pro cinema.
O interesse renovado fez a editora pensar em trazer os personagens de volta – mas o editor Len Wein os ajudou a diminuir a ansiedade e, ao invés de quinzenal, como planejado originalmente, tornou o título mensal. Nos roteiros, Mark Evanier (o eterno parça de Sergio Aragonés) e na arte Dan Spiegle. A ambientação nesta versão de outubro de 1982 voltou ao clássico, na Segunda Guerra, assim como voltaram alguns de seus mais amados coadjuvantes. E o líder do time voltou novamente a ser polonês, ganhando enfim um nome: Janos Prohaska.
Janos e seus parceiros mais próximos, Stanislaus Drozdowski e Kazimierc “Zeg” Zegota-Januszajtis, chegaram inclusive a aceitar serviços como freelancers de guerra e, viajando pela Europa, se meteram em batalhas mais cabeludas como a Guerra Civil Espanhola. A coisa toda, bastante interessante, infelizmente acabou durando pouco, só até 84, fazendo com que Evanier nem tivesse tempo de trazer a Lady Blackhawk de volta e acabasse acusando as vendas estagnadas de serem culpa da própria DC, que não se preocupava em divulgar a revista. O número 273 marcaria, definitivamente, o encerramento da numeração original da HQ.
Anos depois, rolou até o engavetamento de uma minissérie com a equipe, sob a batuta do escritor Bill DuBay e do lendário artista Carmine Infantino. Mas eles só saíram mais uma vez da obscuridade em 1988, com uma série em três edições que acabou se tornando bastante popular (até aqui no Brasil, aliás), cortesia de Howard Chaykin. O autor deu aos personagens um tom mais adulto e sombrio, deixando a dinâmica de grupo de lado pra focar em um thriller político e de espionagem, com direito a menções à Guerra Fria e à porra toda, com o Falcão Negro sendo acusado de traição pelo governo americano e por aí vai.
Algumas tentativas de mantê-los ativos rolaram ao longo dos anos 90, num momento já pós-guerra mas sempre mantendo o respeito à cronologia recontada por Chaykin. Os leitores das antigas mais atentos veriam não apenas menções, como no serviço recorrente de courier chamado Blackhawk Express, ou aparições em realidades/futuros alternativos como o de O Reino do Amanhã, mas também em questões mais diretas, como a Lady Blackhawk que viajou no tempo e foi lutar ao lado das Aves de Rapina dentro daquela zona de crossover chamado Zero Hora.
Oficialmente, eles só seriam reintegrados na cronologia da DC em setembro de 2011, como parte dos Novos 52, pós-Flashpoint. Quer dizer, não exatamente ELES. Porque o novo título mensal chamado Blackhawks não tinha, além do símbolo no peito dos integrantes do time e da presença de uma personagem de nome Lady Blackhawk, qualquer relação com os Blackhawks originais.
O tal Programa Blackhawk era uma espécie de SHIELD, unidade militar clandestina fundada pelas Nações Unidas para combater ameaças tecnológicas que pudessem ameaçar o planeta. No comando, uma espécie de Nick Fury genérico cujo visual era tipo o Exterminador sem máscara, um tal coronel de nome Andrew Lincoln.
Tudo tão genérico que, claro, o seu destino foi o cancelamento sumário.
Na DC de hoje, pós Rebirth, mais especificamente depois de Dark Nights: Metal #1, fomos apresentados à nova Lady Blackhawk: trata-se de Kendra Saunders, que você talvez conheça como sendo a Mulher-Gavião. Ela é a líder de um time chamado Blackhawks, uma equipe anti apocalíptica cujo objetivo é impedir que o Multiverso das Trevas destrua a Terra-0. É ela quem apresenta ao leitor e aos heróis da Liga a nova versão da Ilha Blackhawk, um lugar no qual as energias cósmicas conduzidas pelo centro metálico da Terra criam uma estática que causa uma disfunção no espaço-tempo.
O anúncio, do lado da DC/Warner e do próprio Spielberg, no entanto, dá claramente a entender que a ideia é fazer uma transposição para os cinemas inspirada na versão mais clássica do gibi.
O roteiro será escrito por David Koepp, que já colaborou com Spielberg nos dois primeiros Jurassic Park e em Guerra dos Mundos — além de ter sua própria dose de experiência com gibis ao escrever o primeiro Homem-Aranha, do Sam Raimi. A produção fica a cargo de Spielberg, junto com Kristie Macosko Krieger (também da Amblin, que trabalhou com o diretor em The Post) e Sue Kroll, da Kroll & Co. Entertainment.
Ainda não existe data prevista pra produção começar, já que Spielberg está preparando o quinto filme de Indiana Jones e, segundo consta, sua próxima produção na sequência seria o tal remake do clássico West Side Story. Mas seguimos aguardando mais informações, até pra saber se este filme não estaria destinado ao abismo infinito de Hollywood dedicado aos filmes sempre anunciados e nunca produzidos. ;)
Importante ainda lembrar que esta não é a primeira INCURSÃO do cineasta no mundo dos gibis, né. Em 2011, ele pessoalmente levou aos cinemas As Aventuras de Tintim, a adaptação dos quadrinhos de Hergé que tá longe de ser uma unanimidade — mas que tem um SÉQUITO fiel de seguidores que, até hoje, aguardam ansiosamente uma continuação.