SPOILER! E aí que, depois de uma luta (meia-boca) com um vilão overpower pra salvar o mundo, teve aquela tal cena pós-créditos ao final de X-Men: Apocalypse. Que muita gente – incluindo até alguns desavisados leitores dos quadrinhos dos mutantes – não entendeu muito bem. Um bando de engravatados que invadiram a base secreta do exército, literalmente caindo aos pedaços, apenas para levar dentro de uma maleta as sobras do material genético que vinha sendo manipulado ali. Incluindo aquele de um tal de Arma X, que uns chamam de James Howlett, outros de Logan, fica a gosto do freguês.

E na maleta, a inscrição fatídica: ESSEX CORPS.

O que isso quer dizer, afinal? Muito. Porque se relaciona diretamente ao nome de um dos maiores e mais interessantes vilões do panteão X da Marvel e que pode costurar de maneira inteligente o que vai rolar no próximo filme do Wolverine e, quem sabe, até naquele tal filme da X-Force que a Fox estaria planejando fazer. “Essex” é o sobrenome de Nathaniel Essex. Um sujeito que atende pela ALCUNHA de Senhor Sinistro.

Criado pela dupla Chris Claremont e Marc Silvestri, Sinistro deu as caras pela primeira vez em setembro de 1987, na edição 221 da revista Uncanny X-Men, em plena saga Massacre de Mutantes, quando o grupo batizado de Carrascos (do qual fazia parte, por exemplo, o Dentes-de-Sabre) EMPREENDE uma caçada e posterior extermínio dos Morlocks, os mutantes deformados que vivem no túneis subterrâneos de Nova York e que apareceram em X-Men 3. Os Carrascos eram liderados pelo Sinistro, que queria ver os Morlocks mortos justamente porque os considerava aberrações e uma “ameaça” à perfeição do homo superior.

Nascido na Londres vitoriana, Essex se tornou biólogo em 1859, contemporâneo de Charles Darwin e obcecado com sua teoria da evolução – que ele, no entanto, acusava de ser defeituosa porque se preocupava demais com limites morais. Ao começar a estudar as mutações da própria raça humana, graças ao que batizou como sendo o “Fator Essex” em atuação no nosso genoma, seu sonho se tornou levar a perfeição da evolução a todos no planeta.

Depois da morte de seu filho graças a um problema genético, mergulhou de cabeça em seus estudos – mas chegou a ser ridicularizado pela sociedade científica da época. Logo, passou a pensar que “se é preciso que eu me torne um monstro para que meu trabalho prossiga, então é o que farei”.

Quando conseguiu acordar de seu sono um certo En Sabah Nur, o Apocalypse, Essex deixou tudo para trás, incluindo a esposa grávida, para fazer um pacto com o primeiro mutante da história. Esta aliança permitiria que Nathaniel Essex se tornasse um ser praticamente imortal e ganhasse os poderes mutantes que não manifestou naturalmente em seu DNA. Pois é, o Senhor Sinistro não é um mutante originalmente, mas, de qualquer forma, o gênio científico acabou recebendo habilidades físicas e mentais superhumanas, como telepatia, telecinese, regeneração e mudança de forma. Um combo bem interessante, manipulado com tecnologia alienígena, em troca de sua lealdade.

Conforme os anos passaram, o Senhor Sinistro manifestou um interesse quase obsessivo por Scott Summers, o Ciclope, e toda a sua linhagem. Foi ele quem criou Madelyne Pryor, clone da falecida Jean Grey por quem Scott se apaixonou e com quem acabou se casando. O objetivo de Sinistro era fazer com que eles procriassem, para gerar um herdeiro perfeito que pudesse derrotar o Apocalypse (Lealdade, né? Sei...). Bom, objetivo atingido: nasceria aí Nathan Summers que, por uma destas maluquices pseudocientíficas dos gibis, acabou indo parar no futuro. Onde cresceu. Ralou. Se fodeu. Se desenvolveu. E se tornou o poderoso guerreiro conhecido como Cable.

Sabe, aquele Cable que tá confirmado que vai aparecer no segundo filme do Deadpool? Então. Ele mesmo. :)

Bom, a gente até já falou por aqui que acha BEM difícil que esta maluquice temporal-genética toda seja fielmente transposta dos gibis para as telonas quando o Cable aparecer junto do Deadpool nos cinemas. Mas nada impede que haja algum tipo de conexão, ainda que mínima, com as tais Corporações Essex. Afinal, o Senhor Sinistro não precisa necessariamente ser um cara de pele branca e uma capa toda picotada. Ele pode ser um gênio científico obcecado pelos mutantes usando terno e gravata. Uma menção, ainda que simples, naquele melhor estilo Marvel Studios, seria o necessário para conectar as produções. Universo compartilhado, lembra?

O tal do filme do Gambit, se é que este ainda vai sair de fato um dia, também podia entrar neste balaio de gato, porque no passado do charmoso trapaceiro que fala francês, ele e o Sinistro trabalharam juntos, quando Remy LeBeau atuou como o agente que recrutou os Carrascos antes do massacre dos Morlocks acontecer. Em troca, Sinistro ajudaria a corrigir um defeito genético que estava fazendo com que o Gambit começasse a perder o controle sobre seus poderes pouco a pouco. Mais uma conexão possível aqui? Por que não?

A presença do Senhor Sinistro, no entanto, parece que vai fazer mais sentido em dois outros projetos da Fox. O primeiro deles, mais palpável e até já sendo filmado, é o tal terceiro filme do Wolverine, aquele que ainda não foi nomeado. Já sabemos que o ator Boyd Holbrook (Narcos) será um dos vilões do filme, descrito como “o chefe de segurança de uma corporação global em ascensão”. Esta empresa aí bem que poderia ser a tal Corporação Essex, não é?

Carniceiros

Mas calma que ainda tem mais: também sabemos que Richard E. Grant, o Izembaro de Game of Thrones, estará no filme, e seu personagem também não revelado deve ser um tipo “meio cientista louco”. Seria ele, talvez, o próprio Senhor Sinistro? Ou quem sabe Donald Pierce, líder do grupo de maníacos ciborgues conhecido como Carniceiros – que, de acordo com o Nerdist, estão mais do que confirmados como ANTAGONISTAS no filme?

Falando para o site, o produtor da franquia, Simon Kinberg, confirma que o filme se passa no futuro, tem uma pegada meio western, é violento, radical e mais ousado do que “qualquer outro Wolverine que vocês tenham visto em outros filmes”. Pensemos que Sinistro e sua empresa podem tranquilamente usar o material genético do Wolverine e dos demais mutantes para desenvolver seres aprimorados, cujos poderes podem ser complementados com tecnologia – criando, então, a versão cinematográfica dos Carniceiros. Faria sentido. :)

Em entrevista ao Fandango, foi Bryan Singer quem deu a dica de qual poderia ser o outro lado deste universo mutante no qual seria possível ver o Senhor Sinistro em ação. Porque o tal do filme da X-Force, a unidade militarizada de mutantes criada por Rob Liefeld e liderada pelo Cable, pode enfim sair do papel, depois de um longo e tenebroso inferno do desenvolvimento. “Simon [Kinberg] ainda está nas primeiras versões do roteiro, então ainda precisamos ver como isso se desenvolve”.

E, segundo consta, por mais que talvez acabe não se envolvendo diretamente, Singer teria levado a ideia para a Fox e discutido o projeto junto com a sugestão de que uma certa X-23 aparecesse também. Sim, estamos falando de Laura Kinney, que atualmente veste o manto do Wolverine na Marvel. E que é uma clone feminina do baixinho canadense, construída em laboratório a partir de seu material genético.

Mas olha só, quem é que tem em mãos o material extraído do Logan para poder construir uma X-23? :D

No começo uma personagem genérica, jogada nas histórias para ser a “mina Wolverine com duas garras de adamantium”, Laura acabou caindo nas mãos de bons roteiristas e foi sendo muito melhor desenvolvida e trabalhada, tornando-se uma personagem bastante interessante – a participação dela nos X-Men de Brian Michael Bendis, interagindo com as versões adolescentes dos X-Men originais que vieram do passado (não pergunte), funciona bem pra caramba. Aliás, foi ali que mudou a minha percepção sobre ela e começou minha torcida para que, pós-Guerras Secretas, o Logan de sempre não voltasse e ela assumisse o uniforme amarelo e azul.

Hugh Jackman está saindo de cena. Seria no mínimo interessante que o Senhor Sinistro colocasse a mão na massa e ajudasse a substituí-lo por uma mina raivosa, chutadora de bundas e de garras afiadas. O que, claro, enfureceria grande parte da audiência masculina do tipo “como assim, tão acabando com um símbolo da masculinidade, que absurdo, onde vamos parar, perseguição aos machos de verdade”. E, ultimamente, toda vez que vejo isso acontecendo, pra mim já é sinal de que alguém está fazendo alguma coisa certa. :D