A Convergência (infelizmente) confusa na DC | JUDAO.com.br

Depois de duas edições – fora a 0, que serviu de prelúdio pra toda a brincadeira, Convergence se perde no meio de uma boa ideia, mas ainda existe salvação

SPOILER! Grandes sagas são um enorme desafio para as editoras. Afinal, é um trabalho complicado alinhar diversos gibis mensais pra chegar a um único objetivo, entender o momento de cada um dos personagens e, acima de tudo, colocar todo mundo junto numa história convincente, lutando contra um vilão em comum. Mas é algo que vende, que chama a atenção dos leitores e da mídia especializada.

Imagina então quando falamos de uma grande saga que foi motivada pela necessidade. Pois esse é o caso de Convergence, série semanal da DC Comics que chegou ao número 2 nesta semana, nos EUA. Diferentemente do comum, o crossover também foi motivado pela necessidade de fazer uma pausa nos títulos mensais enquanto a editora troca a sede de Nova York por Burbank – justamente num plano maior da Warner, pra gerar mais sinergia entre as empresas do grupo. Além de, claro, abrir caminho pra uma nova fase de publicações.

Convergence 0Pra justificar a pausa no que vinham publicando enquanto guardavam tudo e despachavam pro outro lado do país, a DC teve uma ideia muito boa: resgatar tudo aquilo que fez a editora ser o que ela é hoje, nos últimos 80 anos, em edições-tampão. Ou seja, trazer de volta aquelas versões dos heróis preferidos que marcaram época pra todas as gerações – ou que foram vistas, em algum momento, em realidades alternativas que instigaram os leitores. É algo além do velho conceito de Multiverso, já que tudo conta, independente do que está em uma relação oficial de Terras paralelas ou não.

Assim surgiu a oportunidade de voltar a ver os heróis dos leitores dos anos 80 (de Crise nas Infinitas Terras), dos anos 90 (Zero Hora), da velha Terra 2, da finada editora Fawcett (ou seja, o Capitão Marvel)... Algo pra empolgar qualquer leitor das antigas, ao mesmo tempo em que tem algum apelo com os mais novos, misturando coisas como o universo do game Injustice e, claro, o que foi feito desde o reboot da cronologia de 2011.

Só que um crossover não é feito dessas histórias individuais, dessas edições com retornos do passado que a DC está publicando. E nem digo simplesmente por elas estarem funcionando ou não, mas simplesmente porque a justificativa pra trazer tudo isso de volta (e misturar) tem que fazer algum sentido.

Até agora, não está fazendo.

Na prática, a editora amarrou duas das HQs semanais que publicou nos últimos meses (The New 52: Futures End e Earth 2: World’s End) num enredo no qual Brainiac ganhou acesso a todas as linhas do tempo e realidades após descobrir sobre o Ponto de Fuga, um lugar conhecido dos leitores dos anos 90. Esse novo Brainiac, uma síntese de todas as versões que já existiram do vilão, passa a roubar cidades das mais diversas Terras dessas realidades. Juntas, elas são jogadas no planeta Telos.

Até aí, parece um pouco com que o Brainiac da Era de Prata já fazia – só que o vilão se ausenta, dando espaço para que Telos desenvolva consciência própria, deturpe ainda mais os ideais do ~mestre e resolva que o superpoderosos de todas aquelas cidades jogadas nele devem lutar entre si. No final, só uma cidade estará de pé. Será a convergência, de fato.

Parece um enredo fraco e aleatório, né? Simplesmente porque é. Ainda tá no começo e alguém pode tirar alguma carta da manga, mas parece difícil acreditar que algo realmente genial saia daí – até porque Telos é um daqueles vilões mais batidos possíveis, que fica perdendo tempo contando toooodo o plano pra galera...

Convergence 1

Em parte, esse erro poderia ter sido resolvido com uma edição 0 melhor pensada. Diferentemente da Marvel, que gosta de fazer nessa hora grandes recaps para os novos leitores e pra quem tá retornando, a DC gastou tempo tentando explorar o surgimento do Telos de uma forma não muito clara, sem ir direto ao ponto, o que pode ter confundido ainda mais essa galera que eles deveriam atrair – além de virar uma enorme punheta sobre o Superman e sobre como o Brainiac odeia o cara por sempre estragar tudo, independentemente da realidade que ele tá.

Crise das Infinitas Guerras Secretas?

Pra piorar, o enredo geral soa muito como Secret Wars, o crossover de verão que a Marvel vai lançar em maio – algo que já comentamos aqui no JUDÃO e que, agora, está mais do que confirmado. Sem essa de cópia, ou plágio. Quem acompanha as editoras sabe que esse tipo de enredo já havia sido contado por elas no passado e que as sagas já estavam sendo desenhadas nos gibis mensais muito antes de serem divulgadas. Porém, não dá pra negar uma falta de criatividade coletiva aí.

Também não dá pra culpar apenas os roteiristas Scott Lobdell e Jeff King. Na prática, eles estão apenas executando os planos de mudança, botando no papel uma determinação que vem de cima. É uma culpa compartilhada. Ao menos as artes de Jason Paz e Carlo Pagulayan estão interessantes, misturando um ar mais moderno com inspirações nos traços originais dos personagens utilizados. Às vezes as páginas ficam um pouco confusas, mas é algo comum num crossover assim.

Vamos ver, agora, como a história se desenrola. Se a edição 0 serviu para punhetar o Superman e a 1 pra deixar claro o desenrolar da história, o número 2 passou a lidar não só com as lutas entre os super-heróis de universos diferentes, com grande foco na galera vinda da Terra 2 pós-reboot, como também passou a explorar o que pode rolar quando verões tão diferentes dos mesmos personagens sem encontram. É algo que pode salvar as próximas 6 edições.

No final, ainda confio na ideia e na proposta. Vamos torcer pra que, apesar dos mortos, dos feridos e das caixas empacotadas, a Convergência da DC dê realmente certo. Até porque tirar todos os brinquedos da caixa, explorando a mitologia da editora de forma que atraia todos os tipos de leitores, é algo que com toda a certeza vai garantir o futuro da editora...