Universo 616 acabou e a saída pra construir o que vem a seguir não foi tão interessante assim…
SPOILER! Quando Secret Wars foi anunciada, há um ano, a mensagem era clara: a saga iria acabar com o Universo Marvel 616, o tradicional, e promover correções na cronologia para aparar as arestas. Não um reboot, mas ajuste de trajetória.
Nesta quarta (13), finalmente Secret Wars #9 foi publicado, encerrando o crossover. Boa parte da linha de gibis mensais não conseguiu esperar esse encerramento e, desde o final do ano passado, são publicadas as HQs da nova fase, chamada All-New Marvel, que rola após um pulo cronológico de 8 meses. Porém, foi apenas este último capítulo da minissérie que contou com todos os detalhes o que realmente aconteceu. E se a Terra 616 não existe mais, o que entrou no lugar é a Prime Earth. Parece coisa da DC, né?
Essa ideia de Universo 616 surgiu nos anos 1980 nas HQs do Capitão Britânia, produzidas na Inglaterra pela Marvel UK – há uma disputa aí sobre quem criou o termo, se foi Alan Moore ou Dave Thorpe. De qualquer forma, ele meio que servia pra mostrar que existe sim um Multiverso e que a Terra da Casa das Ideias é apenas uma em inúmeras possibilidades. O tempo foi passando e o resto da editora, nos EUA, abraçou esse conceito, criando outras Terras. Uma delas é a 1610, a do Universo Ultimate.
Secret Wars veio então pra brincar com esse Multiverso e, no processo, agregar elementos interessantes a uma nova Terra principal, incluindo os devidos ajustes de rumo. Dois desses novos elementos são justamente o Wolverine de O Velho Logan e Miles Morales, o Homem-Aranha Ultimate. Ah, sim: o Ultiverso foi pro saco. Não existe mais, como já era esperado.
Pra justificar isso, veio o conceito da Incursão – algo que já tinha aparecido nas HQs na saga Infinito. Já explicamos como isso funciona aqui no JUDÃO, mas, basicamente, é quando duas Terras diferentes se aproximam e começam a se mesclar por algumas horas. No final, ou uma delas é destruída ou as duas vão pro saco.
Eventualmente, começa a rolar a Incursão da Terra 616 com a 1610. No meio da treta, eis que surge o DOUTOR DESTINO pra se aproveitar da situação, “salvando” uma parte dos personagens ao combinar em um só planeta diversos elementos e partes das Terras do Multiverso. Na prática, o que o Destino fez foi usar o Homem-Molecular para não só matar os Beyonders, mas também absorver e canalizar o poder deles para ele próprio – se tornando assim “deus” de tudo que existe.
Um puta rolo do caralho, né? Fica pior lendo, juro.
O que importa é que, na edição 9, Destino é derrotado por Reed Richards – numa luta que sim, é interessante –, e o Mundo Bélico explode no processo. Quando está tudo indo pro saco, o Pantera Negra, que estava com a Manopla do Infinito (não pergunte...), aparentemente usa a joia da REALIDADE e... Nessa bagunça, um novo Universo surge. É a Prime Earth.
Nessa nova Terra, descobrimos que o Homem-Molecular trouxe a mãe de Miles Morales de volta à vida (ela morreu há alguns anos, em Ultimate Comics Spider-Man #22) porque ele foi o único que deu um hambúrguer pro cara, que passou toda a saga com fome provavelmente por conta dos grandes poderes que era obrigado a administrar. Não estou mentindo e, como já se sabia, Miles também aparece na Prime Earth atuando ao lado de Peter Parker, ambos como Homem-Aranha. O novo título solo do personagem, chamado simplesmente Spider-Man, estreia agora em fevereiro.
O Homem-Molecular AINDA continua com os poderes dos Beyonders e, de certa forma, é o ser mais poderoso do universo, responsável por toda a existência. Porém, ele é só um humano e precisa de alguém para guiá-lo. Reed Richards e a Sue assumem essa função, ditando o que ele deve fazer. Além disso, eles aproveitam os poderes do Franklin Richards para moldar ideias que devem ser transformadas em realidade pelo Molecular. Em paralelo, Valeria e o resto da Fundação Futuro precisam ficar por aí, catalogando e explorando esse novo universo.
POR ISSO o Quarteto Fantástico sumiu e não terá mais uma revista mensal. Agora, Reed, Sue e Franklin são DEUSES do Multiverso — e não estão mortos, como já tinha gente achando. “Sem mais super-heróis por um tempo, apenas ciência. E sem mais Senhor Fantástico”, disse Reed. Mas... ISSO é ciência? Pra mim parece, hã... Religião.
E se eles são responsáveis por toda a criação, por tudo o que acontece, então eles possuem poder ilimitado. Eles são humanos e poder corrompe. Pra piorar, se eles são responsáveis por tudo que é BOM, eles também assinam a conta por tudo que é RUIM.
De qualquer forma, isso tudo não deve ser explorado tão cedo. Em entrevista ao CBR, o roteirista Jonathan Hickman disse que Secret Wars #9 é “essencialmente a última história do Quarteto Fantástico”. Nas entrelinhas, dá pra dizer que o casal Reed vai ficar esquecido por um bom tempo, mesmo que continuem puxando as cordas dessa nova Marvel. Enquanto isso, o Coisa será membro dos Guardiões da Galáxia e o Tocha-Humana ficará com os Inumanos. Não haverá mais um título do Quarteto por algum tempo.
A jogada, dizem, seria um pedido do CEO da Marvel Entertainment, Isaac Perlmutter, pra não “ajudar” a Fox, que tem os direitos da equipe nos cinemas. Mas a verdade é que, como equipe e em vendas de gibis, o Quarteto Fantástico perdeu bastante o fôlego nos últimos anos.
Secret Wars foi uma boa saga? Não. Muito fanservice, muita confusão, boas ideias que não foram tão bem utilizadas assim... Mas, no final, entrega um novo Universo Marvel para os leitores, uma nova página para mais anos e anos de aventuras dos personagens da Casa das Ideias, isso tudo sem estragar ou ignorar o que foi feito antes. Isso é bom. Há também outras perguntas que ficaram sem resposta, e talvez a construção delas consiga deixar tudo mais interessante.
Só resta saber, agora, quem reviveu no meio do crossover, como indica o mais recente teaser da editora...