Primeiro episódio da nova série entrega exatamente o que esperávamos: ação, conflitos, um grande perigo e referências aos quadrinhos, mas sem ser inóspito pra quem não vê The Flash e Arrow
Deu merda no futuro, mais exatamente em 2166. Vandal Savage conseguiu conquistar a Terra depois de milênios tentando. O mundo todo está mergulhado num caos e apenas um grupo de pessoas pode fazer algo: os Mestres do Tempo. Só que eles não fazem porque, bom, ditadores vem e vão. O tempo é maior que todos eles, né? Pra Rip Hunter, não.
É assim que começa Legends of Tomorrow, série que estreou ontem (21) nos EUA.
Hunter então volta no tempo, mais exatamente 150 anos, pro início da aurora dos super-heróis no nosso planeta. Lá, tenta convencer a Mulher-Gavião (Kendra Saunders, interpretada pela Ciara Renée), Gavião Negro (Carter Hall, vivido por Falk Hentschel), Eléktron (Ray Palmer/Brandon Routh), Nuclear (a união de Professor Martin Stein/Victor Garber com Jax Jackson/Fraz Drameh), Canário Branco (Sara Lance/Caity Lotz) e os vilões Onda Térmica (Mick Rory/Dominic Purcell) e Capitão Frio (Leonard Snart/Wentworth Miller) a pularem pela história da Terra, tentando vencer Savage num momento no qual ele esteja mais fraco.
Tanto quanto o vilão e os perigos que ele provoca, a dinâmica desse grupo DIFERENCIADO já aparece como elemento importante pra ditar o rumo da série. Enquanto os Gaviões são obcecados em derrotar Savage, Onda Térmica e Capitão Frio só estão nessa pra socar gente e roubarem o que puderem – e já criaram uma boa química com a Canário Branco, que sempre foi a mais “anti-heroína” do elenco de Arrow. Eléktron (ou Átomo, se você não for das antigas como eu) tá nessa só pra se sentir útil pro mundo, assim como o Professor Stein. Já o Jax, bom, ele tá pelo futebol. Ou quase isso.
O pressuposto é legal, sim. Muito. Mas por que esse grupo de personagens, e não logo o Arqueiro Verde e o Flash? Ou até mesmo Batman e Superman, que foram citados num dos teasers da série e, em algum momento, vão surgir? Se Hunter veio do futuro, como ele já não sabe o momento exato de matar o Savage e, assim, manda uma equipe de ALL-STARS pra vencer o cara lá? Por que 2016? E por que um cara que viaja no tempo, podendo simplesmente PULAR a fase do Savage na Terra, se encana tanto com um cara específico – e não, por exemplo, com o Hitler?
O que esse primeiro episódio faz, ao mesmo tempo que tenta te convencer logo de cara a ficar toda semana esperando por um novo capítulo, é justamente preencher essas lacunas, essas motivações. Cada um dos pontos levantados no parágrafo anterior é devidamente explicado. Em alguns momentos com certa pressa, é verdade, mas tá lá.
Também há o desafio de não excluir aquela galera que não assiste às outras duas séries, mas se interessou pela premissa dessa aqui. Em poucos minutos, Legends explica quem é Vandal Savage, o que ele quer, a ligação dele com os Gaviões e os motivos que o levaram a ser imortal – história já contada no crossover entre Arrow e The Flash do final do ano passado. Aliás, pra fazer essa ponte usam um personagem interessante, o Dr. Aldus Boardman (Peter Francis James), que tinha sido citado no crossover.
Claro que quem já é fã das outras séries ou até mesmo dos quadrinhos poderá pegar diversas outras referências. Uma delas é o fato de Hunter usar a Gideon, a inteligência artificial que, pelo que sabemos, será criada pelo Barry Allen no futuro e que acaba caindo nas mãos do Flash-Reverso. Pode ser exatamente a mesma, já que Rip Hunter e Eobard Thawne vieram mais ou menos da mesma época no tempo. Ou pode ser só um produto de produção em massa, tipo a Siri. De qualquer forma, o detalhe tá lá.
Outra referência é o nome da máquina do tempo de Rip Hunter: Waverider. Esse era o nome de um personagem criado nas HQs em 1991 durante a saga Armageddon 2001 e que, em PT-BR, era chamado de Tempus. Quando Matthew Ryder usou uma máquina para viajar no tempo e lutar contra o ditador Monarca, ele acabou se unindo ao fluxo do tempo e ganhando poderes, como a possibilidade de viajar no tempo. Mais ou mesmo como a Waverider na série...
Ainda nas HQs, Tempus se uniu aos Homens Lineares, um grupo de pessoas que ficava à margem do fluxo temporal, no Ponto de Fuga, e tinham como objetivo manter esse fluxo funcionando de forma coesa. Adivinha quem era um dos membros do grupo? Isso, Rip Hunter. De certa forma, esses Mestres do Tempo de Legends são uma adaptação do conceito dos Homens Lineares.
Dá pra ir até mais além nessa relação da série com os quadrinhos. Afinal, essa coisa de um grande inimigo, uma história épica e heróis totalmente diferentes sendo obrigados a lutarem juntos pelo bem comum é, com algumas variações, a formula básica pra qualquer grande evento dos gibis.
Dessa forma, Legends of Tomorrow incorpora ao Arrowverse elementos de diversas sagas do tipo. Começando por Time Masters, HQ na qual Rip Hunter viaja no tempo para justamente evitar que um grupo de Illuminati liderado por Savage chegue a existir. Também repete os temas já citados de Armageddon 2001 e até de Zero Hora, quando Tempus e os Homens Lineares juntam os maiores super-heróis do universo pra impedir que Parallax (Hal Jordan na fase malucão) reescreva toda a existência.
Há uma pitada do gibi do Gladiador Dourado publicado há alguns anos, quando Rip Hunter recruta o protagonista pra arrumar certos acontecimentos da cronologia que, por algum motivo, foram modificados. A ideia de “maior herói do mundo que ninguém conhece”, que há em Legends, vem daí.
Indo além das referencias da própria DC, Legends of Tomorrow traz um pouco de Doctor Who. Não dá pra dizer que foi intencional, já que todos esses elementos vieram dos quadrinhos. Rip Hunter, por exemplo, foi criado em 1959, alguns anos antes do seu amigo que também é inglês. Ainda assim, são características em comum que certamente vão atrair a atenção dessa galera já acostumada com a viagem cósmica/temporal da BBC.
A parte ruim disso tudo, além de ter que esperar normalmente uma semana pra ver o próximo episódio, é que o piloto foi dividido em duas partes. Essa primeira até que funciona por si só, mas o “Part 1” no título tá ali pra mostrar que essa não era a ideia completa dos produtores. Faltou tempo. Ou faltou um pouco mais de coragem do CW, que podia exibir os dois episódios em sequência – da mesma forma que foi feito com Agent Carter no concorrente...
Bom, agora já foi. Voltar no tempo e arrumar erros só funciona com os heróis dos quadrinhos e da TV... :P