Editora anuncia as primeiras novidades do Rebirth, que começa no final de maio, e o objetivo não é apenas reconquistar o leitor, mas também o varejista
A DC Comics ligou a luz laranja e, ontem (18), botou a máquina de marketing para funcionar. A empresa finalmente falou oficialmente sobre o Rebirth, nova fase editorial que começa no final de maio, confirmando muitos dos rumores comentados nas últimas semanas e também anunciando novidades inesperadas. Porém, o mais importante não é aquilo que foi anunciado, mas sim COMO foi anunciado — sem, por exemplo, nenhuma arte oficial dos títulos.
Dessa vez, a DC não esperou pra atrelar o anúncio a um GRANDE evento, cheio de fãs, ou fez uma parceria com um grande jornal. O foco foi num evento que, talvez, você nunca tenha ouvido falar antes: o ComicsPRO, uma convenção em Oregon com foco nos “varejistas do mercado direto”, aka os donos de comic shops.
Lá nos EUA, cada lojista define o quanto de cada gibi ele vai efetivamente comprar das editoras para, depois, revender aos leitores – além de ser esse cara que decide como serão divulgados essas revistas no ponto de venda, como os leitores serão abordados, o discurso pra vender as novidades, etc. Se por algum motivo a revista encalhar, o prejuízo é da comic shop. Por isso é importantíssimo que esse cara confie no material da editora, comprando mais e, depois, passando essa mesma confiança para os seus visitantes/compradores em potencial.
Se você olhar os números de janeiro (que são um reflexo dos últimos meses), vai ver que os varejistas estão com a confiança na DC lá no porão. De acordo com a distribuidora Diamond, a DC teve uma participação de 24% no mercado, contra 48% da Marvel. A METADE. E não adianta culpar uma queda geral nas vendas, já que não é isso que está acontecendo nas Casa das Ideias. Daí a escolha desse evento pra divulgar essas novidades.
Quase na mesma hora, rolou Geoff Johns contando ao mundo, em vídeo, como será o RENASCIMENTO.
Como o CCO da DC deixa bem claro, o nome “Rebirth” não foi escolhido aleatoriamente, nem se trata de um novo reboot. Na verdade, a ideia é MIMETIZAR para o resto da linha aquilo que representou Green Lantern: Rebirth e The Flash: Rebirth para os outros personagens, resgatando todos os grandes elementos do passado para, a partir deles, construir o futuro. Tudo isso continuando com a cronologia e histórias construídos a partir de 2011.
“Rebirth não é apenas um evento, mas uma missão contínua”, afirma Johns. “O ponto do Rebirth para todos nós é retornar para as qualidades dos personagens”. A postura é exatamente oposto ao que a própria editora anunciava há menos de um ano, no DC You, quando dizia que daria mais liberdade criativa para “audaciosas” escolhas editoriais dos seus quadrinistas e que tinha foco na diversidade. No processo, Superman perdeu parte dos poderes, a identidade secreta e voltou a usar calça jeans; Bruce Wayne foi substituído no manto do Batman; já o Lanterna Verde Hal Jordan saiu da Tropa e passou a usar uma manopla. Tirando, talvez, o Batman, as novidades não funcionaram.
E a DC parece ter entendido o que deu errado. O varejista, esse cara para o qual eles estão dando toda a atenção agora, é também fã de quadrinhos. Muitas vezes, um fã das antigas, conservador. As HQs poderiam ser ótimas – o que não era o caso na maioria das vezes, de qualquer forma – mas dificilmente elas iriam acontecer porque não tinham como objetivo fisgar esse cara. A falta de adesão do resto dos leitores vinha como efeito cascata.
Sim, esse cara mais tradicional até vai curtir ver uma versão de um universo paralelo da Mulher-Aranha que é a Gwen Stacy, ou uma nova Miss Marvel que é muçulmana. Mas bota a Gwen no lugar do Peter Parker principal, ou converte a Carol Danvers pra uma outra religião... Guardadas as devidas proporções, foram essas segundas escolhas que a DC resolveu fazer para os seus personagens.
Pra tirar o gosto amargo da boca dessa galera, nada melhor que voltar ao básico, ao arroz com feijão. E se teve uma pessoa na DC que nos últimos anos soube resgatar elementos do passado para construir um futuro no qual fãs apostam, sejam eles conservadores ou não, esse cara é o Geoff Johns.
Por isso, será o próprio CCO que assinará o roteiro do especial que ABRE AS CORTINAS da nova fase. Chamado DC Universe Rebirth, a revista terá 80 páginas assinadas pelos artistas Ethan Van Sciver, Ivan Reis, Gary Frank e Phil Jimenez — só gente de peso e com um estilo que alia o clássico traço identificado com a DC com um estilo mais moderno, algo que fatalmente vai agradar todo mundo. Outro detalhe: o especial custará apenas US$ 2,99.
Esse, inclusive, é o novo preço padrão da DC pra TODAS as revistas. Nos últimos anos a editora tem trabalhado com dois valores, sendo US$ 3,99 para os principais títulos e US$ 2,99 para os menos bombados ou com personagens menos conhecidos. O bolso dos fãs vai agradecer a redução e eles vão comprar mais, claro, mas essa também é uma iniciativa com foco nos lojistas. Afinal, varejistas vão poder comprar mais revistas no volume gastando a mesma coisa, ou talvez até menos.
Obviamente não dá pra comparar quadrinhos com, sei lá, bananas, há muitas variantes além do preço para o leitor escolher o que vai comprar, mas não deixa de ser um pequeno DUMPING da DC para tentar reverter o momento ruim.
A fase atual da DC – que, editorialmente falando, nem tem mais um nome – acabará nas edições 52 das revistas mais antigas, em maio, mesmo mês que sai o DC Universe Rebirth. O gibizão, que será publicado no dia 25 daquele mês, deve estabelecer a base do que será visto nos próximos meses. Geoff Johns já disse que deixará a Liga da Justiça na edição 50, então dá pra esperar que o especial DESEMBOQUE numa nova revista mensal, escrita pelo cara.
Em junho, a editora publicará uma série de gibis com o nome “Rebirth”, definindo como serão as coisas nesse novo momento para cada personagem e servindo de ponto de entrada para os novos leitores. No mesmo mês, Aquaman, Batman, Flash, Arqueiro Verde, Lanterna Verde, Superman e Mulher-Maravilha vão ganhar novas revistas, a partir do número 1 e com publicação quinzenal.
Sim, eles vão dobrar o volume de publicação de suas marcas mais famosas, mais uma tática pra crescer em volume no mercado.
Ainda em junho rola a novidade mais surpreendente do Rebirth: Action Comics voltará a numeração original, surgindo na edição 957; o mesmo acontecerá com Detective Comics, que estará no número 934. Essas são as revistas mais antigas da editora no pré-reboot de 2011, aquelas mais identificadas com a DC, e esse retorno à contagem original é uma demonstração de como a editora quer se reconectar com os leitores das antigas.
Já julho será o mês para arriscar um pouco mais. Entre especiais de Rebirth e novos títulos, teremos Batgirl, Batgirl & The Birds of Prey, The Hellblazer, The Super-Man (sim, com hífen) e Titans. Além disso, vão começar com as revistas quinzenais Hal Jordan & The Green Lanterns, Justice League e Nightwing – o que parece ser o primeiro acerto com o Dick Grayson EM ANOS.
Para o outono, aka “a partir de setembro”, já foram confirmados diversos gibis (entre novos e velhos), incluindo Harley Quinn, Batman Beyond, Teen Titans, Supergirl, Trinity, Superwoman (!) e Super Sons (!!). A lista completa já foi disponibilizada no site oficial da DC.
Mas a DC não revelou tudo, não. Além de não ter uma artesinha sequer do Rebirth (tirando, claro, uma SILHUETA de novos personagens no fim do vídeo do Johns), não foi divulgada nenhuma equipe criativa além daquela do especial que começa a nova fase. O dá alguns indícios de novidades que devem ser anunciadas nas próximas semanas, mas só. O principal detalhe é que ele afirma que, no texto do DC Universe Rebirth, o narrador irá narrar (não diga!) que há ~algo faltando. Pelos rumores, seria a Sociedade da Justiça, clássico time da DC que, por algum motivo, foi esquecido por todos os outros personagens – e que, agora, vai voltar.
Nas próximas semanas, equipes criativas devem surgir, além de mais detalhes sobre os enredos que serão desenvolvidos nos próximos meses. A C2E2, que rola em Chicago daqui um mês, talvez seja o palco de algumas dessas novidades. E, em julho, os editores e quadrinistas vão aproveitar a San Diego Comic-Con pra sentir o clima dos leitores de uma forma geral, além de voltar a conversar com a galera das comic shops (que são uma parte do público da SDCC).
O que, de acordo com o Bleeding Cool, a DC revelou desde já – e claramente era o que mais importava no ComicsPRO – é que o varejista que se empolgar em fazer uma campanha de divulgação do Rebirth em seu ponto de venda vai ter o gasto 100% reembolsado pela editora. Campanhas em comic shops são importantíssimas e ninguém sabe fazer isso tão bem quanto o cara que está ali todos os dias. Só que as editoras nunca se interessaram muito em bancar esse custo. Até hoje.
A DC Comics parece estar finalmente acertando na estratégia. Resta, agora, entregar HQs de qualidade. Que eles não compliquem a parte que, na teoria, é a mais fácil...